Um dos caminhos oferecidos pela emoção aos Novos

Quando meu pai faleceu, apesar de toda a tristeza, senti orgulho do velho. Foram homenagens e mais homenagens. Coroas de flores e visitas importantes, como o dono da empresa e o seu vice-presidente, com seus carrões destacando-se no cortejo, assim como seus ternos, que deixavam todos os outros no velório como que cinzas. Eles suspiravam vendo meu pai morto, e os outros os imitavam ao suspirarem. Senti orgulho. Que durou até o caixão ser fechado e ser plantado na terra.

Dias depois eu tentava reencontrar meu destino quando me vem o segundo baque!
Minha mãe surge com um homem, que dizia (oh vergonha e repulsa) ser seu namorado.
Entorpecido, confuso, soturno, com os olhos banhados em sangue, senti todo o sangue da desonra. Nada havia entre meu falecido pai e minha mãe, se relacionavam bem e... ah, que importa? Parti pra cima dela com o punho cerrado, e cego de ódio fui derrubado por aquele homem. Quando acordei já não estavam mais lá. Foi a última vez que a vi. E de uma só tacada fiquei sem pai e sem mãe.

De vergonha mudei de cidade, mas as reflexões sobre o acontecido me acompanhavam. Como o carrasco. Martirizando-me, me castrando a capacidade de sossego. No trabalho, no descanso, nos relacionamentos, na sacada da minha casa, olhando pra toda a cidade que se desenhava lá embaixo.

Não sei se cheguei a algum lugar. O que sei não vale a pena se o ciúme e a emotividade não tivessem me possuído. Quero nascer arvore na próxima geração! Cheguei a conclusão disso. Minha mãe: mães são mulheres; não existem mãe e mulheres, mas mulheres que são mães. Devo ter deixado alguma coisa escapar, e ela está enterrada no passado como meu velho. Meu velho que era homem, e que por isso, vulnerável. Sim, se é isso pra dizer: estou arrependido!

Mas chega desse assunto. Está se aproximando o pôr do sol.