A história do Overmundo na memória de seus colaboradores

Verônica Aldé
Índia Krahô e Sinvaline
Equipe Overmundo
2/7/2009 · 18
 

O Overmundo foi pensado para trazer à luz a cena cultural brasileira, independente da grande indústria cultural e que, justamente por ser independente, não costumava figurar com destaque nos grandes meios de comunicação. Algum tempo passado, constatamos que ainda há muito o que fazer e que, a cada dia – sobretudo com o advento da internet colaborativa e de ferramentas de autopublicação online – cresce o número de pessoas produzindo cultura no Brasil, ainda que o espaço na mídia tradicional seja cada vez mais restrito. Para estimular a divulgação de iniciativas culturais localizadas (de pequenas cidades do interior, por exemplo) ou de segmentos específicos (dança, circo etc.), no início do site, nós buscávamos colaboradores oficiais, que eram contratados por tempo determinado. Essa medida possibilitou que o site crescesse muito mais rapidamente do que imaginávamos, aumentando a participação espontânea (que hoje é equivalente a 100% do conteúdo publicado no Overmundo) e trazendo, cada vez mais, gente bacana para integrar esta rede. Mais importante do que quem entra e quem sai, quem vem e quem vai, é como a experiência do Overmundo repercute na atuação de seus colaboradores. Em alguns casos, por exemplo, nós notamos que a conversa e a troca de ideias não apenas rendia bons textos, mas animava a participação desses colaboradores e os incentiva a produzir mais e melhor.

Saber em que medida colaborar com o Overmundo influenciou na trajetória de alguns de seus colaboradores foi a maneira que encontramos para ouvir um pouco a comunidade, e buscar, entre erros e acertos, construir uma história comum. Pelo contato próximo e cotidiano – coisa que poucas redes sociais proporcionam –, já sabíamos, aqui e ali, de alguns casos em que o Overmundo ajudou os colaboradores a repercutirem seu trabalho e, de certa forma, a se constituírem como referência na cena cultural de suas respectivas cidades. Assim, decidimos que de tempos em tempos vale lançar luz também sobre esses casos, chamando atenção para a relação de alguns colaboradores com a comunidade.

Para abrir esta série, convidamos a Sinvaline, de Uruaçu (GO), que escreveu um relato sobre a sua experiência.

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O Overmundo e eu
(Sinvaline)

Assim que fui alfabetizada comecei a escrever e a ler. Lia escondido da minha mãe, à luz de lamparina, porque, segundo ela, estragava as vistas. Tive acesso a bons autores, graças a um vendedor de livros amigo do meu pai que descarregava sua carga-tesouro em minha casa para ir pescar. Então sorrateiramente, sem minha mãe perceber, fui devorando as maravilhas de Monteiro Lobato e outros.

Aos nove anos de idade já escrevia poemas. Fascinada pelos livros, fui buscando tudo o que podia alcançar e encontrei Padre Vieira, Machado de Assis, Gabriel García Márquez, Marina Colasanti, Jorge Amado e tantos outros que me fizeram uma leitora assídua, apesar de menina pobre do interior goiano.

Sempre registrei a vida dos mais velhos pensando em conservar sua história, e assim fui escrevendo a rotina de vida das pessoas, e os poemas baseados na desigualdade social. A vida conturbada e aventureira despertou meu lado de escrever ainda mais – até pouco tempo, numa velha máquina de escrever ou em manuscrito. Com a internet, cresceu ainda mais a curiosidade pelos espaços culturais e isso me levou ao Overmundo; me cadastrei, e o primeiro texto não foi publicado por falta de votos, mas continuei.

Alguém me informou que o Overmundo contratava pessoas para divulgar a cultura regional e aí é que começou o grande aprendizado. Até então não sabia nada sobre uma “pauta jornalística”. Eu escrevia o que vivenciava, pois quase não freqüentei escola – apenas as três primeiras séries e, depois, com as provas do supletivo, consegui o certificado de ensino médio.

Pois bem, a Equipe Overmundo, na figura da Helena Aragão, foi minha “mãe” na edição dos textos. Na ocasião, aprendi muito sobre “pautas” e “pautas” e outros detalhes que enriquecem a escrita, nem sei como não perderam a paciência e não me mandaram às favas. rs.

Meu primeiro texto efetivamente publicado repercutiu bem, e então me empolguei: tudo o que queria era divulgar a cultura “escondida” em Goiás, e o Overmundo me dava essa oportunidade. O entusiasmo pela aprendizagem jornalística me levou a fazer o vestibular para Comunicação Social. Comecei, mas infelizmente o curso não durou muito por não ter completado a turma.

Mesmo assim, através do Overmundo, consegui divulgar fatos importantes como o caso de Traíras, em que a repercussão foi tanta, que o prefeito atual está com um projeto para revitalizar o povoado abandonado.

Quando escrevi sobre os krahos, a organização do Encontro de Culturas da Chapada dos Veadeiros me convidou para cobrir as manifestações culturais apresentadas no VIII Encontro. Algumas dessas crônicas foram publicadas também no Overmundo, e muito comentadas. De 18 de julho a 2 de agosto, estou de novo no IX Encontro, e com a mesma responsabilidade.

O que considero mais importante dessa participação no Overmundo é a possibilidade de envolver e mostrar para o mundo o trabalho de pessoas simples como eu mesma e outros como Pedro Trabalhador, Seu Caxá (in memoriam), Vôzinho (in memoriam)... Todos se sentem importantes e procuram se aperfeiçoar mais no que fazem.

A felicidade estampada no rosto dessas pessoas quando leio para eles o texto e os comentários, isto, sim, é sensacional! Outro fator importante é a curiosidade pelos textos que levam pessoas simples ao hábito da leitura. Para muitas, imprimo o texto e eles guardam como um tesouro. Alguns emolduram e colocam na sala, num local bem visível.

Um episódio até engraçado foi em Porangatu, quando o radialista que lia meus textos me convidou a ir na rádio local falar sobre a cultura e o Overmundo. Eu, que tenho pavor de microfones, fui obrigada a falar sobre este trabalho.

O Overmundo se tornou um centro de referência da cultura por aqui e repercute fora também, como agora a jornalista Juliana Farias me convida a participar da Revista de História depois de ler alguns textos meus no Overmundo.

O Overmundo é pagina principal minha e de muitas outras pessoas por aqui, e assim acompanhamos as publicações, formando uma rede interativa perfeita, a gente se fala como se fôssemos velhos conhecidos.

Um texto que resume tudo isso está publicado aqui, com o nome de Overmundo nos cafundós do Brasil.

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Gostou? Quer contar a sua história, como a Sinvaline? Escreva pra gente. Ou publique um comentário neste post e vamos conversando. ;)

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Helena Aragão
 

Sinvaline, você tem um olhar muito especial para coisas singulares, isso é coisa de boa repórter - agora, com a "queda" do diploma, você pode trabalhar nisso e tornar seus textos cada vez melhores. O mérito é todo seu, acompanhei sua persistência e sua dedicação às coisas da sua terra, sempre achei isso louvável. Que bom que mais gente está percebendo isso e te chamando para outros trabalhos.

Aprendemos muito com você por aqui. Beijo grande!

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 4/7/2009 19:18
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azuirfilho
 


Equipe Overmundo, Rio de Janeiro (RJ)
A história do Overmundo na memória de seus colaboradores.

Ficou um trabalho Admirável, valoroso pelo conteudo de experiência que nos passa para também avançarmos, como ficou elevado pela sua personalidade, onde nos deu um choque de Humildade, que tanto nos faz orgulhar, lhe amar e admirar cada vez mais. Muito bacana isso tudo, que de forma tão atraente nos passou como a sua vivência e que nos parece ser tão espetacular, no tanto que você tão heroicamente construiu.
Já lhe admirava muito, pensando ser uma Professora de alguma Universidade de Goiás, pelos trabalhos pertinentes com que nos encantava.
Você é uma Mulher Brasileira que dá conta de qualquer tarefa e nos transborda de esperança no nosso povo tão construtor e cheio de humanidade.
Muito obrigado por você existir sendo este exemplo pra gente se mirar, e acreditar que a vida vale a pena.
Você trabalha com muita beleza na divulgação do que o nosso Povo simples realiza criando a beleza da nossa cultura tão impressionante diante de qualquer Cultura do Mundo.
Você nos mostra as pessoas simples com a grandiosidade que são capazes de criar.
Um Trabalho Glorioso.
Parabéns Senhora Poeta.
Abração Amigo.

azuirfilho · Campinas, SP 5/7/2009 17:50
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Sinvaline
 

Helena quando vc diz boa repórter já fico me imaginando jornalista, rs. Sabe que os jornalistas formados aqui em Goiás estão brigando contrários á nova decisão, acho que eles tem razão, afinal estudaram tanto... Esse critério deve ser bem analisado, nao se pode chamar de jornalista qualquer um que escreve qualquer coisa, é preciso refinar... Não sei se me incluo ainda...
bjs

Sinvaline · Uruaçu, GO 5/7/2009 19:20
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Sinvaline
 

Azuir você me faz chorar...
grande beijo

sinva

Sinvaline · Uruaçu, GO 5/7/2009 19:21
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Higor Assis
 

Sinva, eu tenho muito orgulho de você. Acompanhei de perto seus primeiros textos, suas raridades e sua forma de escrever, que com muita singeleza foi conquiestando seus leitores e seu espaço aqui no overmundo.

É muito gratificante saber que você esta bem e continuar lendo teus textos. Independente de estudo ou não tu és uma excelente excritora e jornalista também, pois exerce a profissão com carinho e astúcia. Um olhar diferenciado para cada pauta, cada história e a cada linha se transforma e cativa mais a quem lê.

Parabéns nobre amiga.

obs: quanto a tua história trocamos mensagens internas e você já tinha me contado, até porque nossa amizade é dos primeiros dia seu por aqui.

obs 2: Não esqueço até hoje a beleza do texto e das fotos da sua matéria sobre Traíras. Beijo grande!

Higor Assis · São Paulo, SP 6/7/2009 09:29
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Sinvaline
 

Obrigada amigo, sim vc foi um dos leitores que mais me incentivou no ínicio aqui...

bj
sinva

Sinvaline · Uruaçu, GO 6/7/2009 09:36
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Andréa Teixeira
 

Querida Sinva,
Desde a primeira vez que a Vero me apresentou seus textos e contou parte de sua história sabia que vc chegaria longe. Fazer parte da sua história é um privilégio. Obrigada por todos os seus tesouros.
com carinho,
Andrea

Andréa Teixeira · Goiânia, GO 6/7/2009 10:26
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Cintia Thome
 

Querida Sinvaline

Sua estória, trajetória e principamente caminhando meus olhos há temposemseus textos e poemas vc realmente é uma excelente colaboradora ao site Overmundo e que aqui já fez admiradores, como eu de sua lavra e simpatia.
Tens uma veia jornalistica de prmeira linha Sin.
Gosto muito do texto da Sanfoneira e de outros que retratam sua luta por problemas graves de sua região, esse Brasil de tantos e tantos lados.
Força! Abs.



.

Cintia Thome · São Paulo, SP 6/7/2009 10:41
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Sinvaline
 

Andrea eu sinto orgulho de ter como amiga uma grande musicista como vc, obrigada pelo carinho
bjs

Sinvaline · Uruaçu, GO 6/7/2009 12:37
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Sinvaline
 

Cintia vc é uma das minhas favoritas, seus comentários batem forte e ajudam na construção dessa rede tão importante para a difusão da cultura.

bjs

Sinvaline · Uruaçu, GO 6/7/2009 12:39
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Rangel Castilho
 

Salve, Sinvaline!

Queira receber meus aplausos e um sincero parabéns
por tamanha força de vontade, garra, persistência e acima de tudo - se não for tudo - teu inegável talento.

Parabéns, do fundo de meu coração.

Abraço Pantaneiro.

Rangel Castilho · Anastácio, MS 6/7/2009 21:46
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Sinvaline
 

Salve Rangel!
bjs
sinav

Sinvaline · Uruaçu, GO 7/7/2009 02:23
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eduardo ferreira
 

overmundo abriu a janela brasil pra mim e pra muita gente. confesso que estou me aproveitando disso.

eduardo ferreira · Cuiabá, MT 7/7/2009 18:36
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Marcos Paulo Carlito
 

Sinva,

O que me comove em você, em sua história e neste post são as mesmas coisas: sua autenticidade, sua maneira participativa de ser, sua forma despretenciosa ao se dar, o jeito simples com que difunde a cultura de seu povo e a maneira como você acaba se tornando parte desta mesma cultura.

Com certeza é de gente como você que o mundo e o Overmundo precisam...

Abraços Guaicuru!!!

Marcos Paulo Carlito · , MS 8/7/2009 01:28
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Adroaldo Bauer
 

Sinvaline,
A leitura do que escreves, bem vivido e relatado, com as cores dos lugares e a inteireza das circunstâncias nos dá muito que texto algum já nunca nos deu. São tuas crônicas, tuas obsservações teu olhar. Isso é, sim, jornalismo ou mais, o que difere do que fazemos, os jornalistas profissionais, em veículos que têm por objetivo o lucro sobe a informação: toda a mídia grande, a que esconde o Brasil dos barsileiros, ainda que já saibamos mais sobre Michael Jackson do que os próprios estadunidenses. Sem juízo de valor sobre MJ, a carreira dele e o que fez em arte.

Jornalismo profissional, atividade da qual se vive remunerado, está com dias contados, penso porque, sabdendo desde há muito que vai à manchete a voz do dono, agora só feito por amigos do dono, quem ele escolha entre os milhares de parentes, amigos, sequazes, acólitos ou meros capachos, ver-se-á a carga horária ser ampliada, as demais conquistas de uma categoria profissional vilipendiadas, senão derrogadas.
São assuntos distintos liberdade de informação, que se tem com muita largueza colaborativa aqui em Overmundo, e liberdade de imprensa (liberdade de empresa é o que há) em que vale o que não ofenda os financiadores do dono do veículo, ainda que verdade para alguns seja.
Enfim, penso que perde a sociedade o direito à informação, ganham as pessoas para bem orientadas, que passam a apoiar e construir veículos próprios de informação. Quem toca tambor também dá notícias...
Imprensa no Brasil volta a ser credencial para dar carteiraço em lumpanar e trocar por resto de chepa na feira, algumas notas em páginas assinadas.. ou não.

Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS 8/7/2009 22:30
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Sinvaline
 

Marcos quando vc diz da forma desprenteciosa, aí sim é o que toda matéria devia ter, infelizmente a notícia, em sua maioria sai com pretensões e isso distorce e esconde o verdadeiro Brasil. O Adroaldo coloca bem: a sociedade perde o direito à informação e ganham pessoas que constroem seu próprio veiculo de informação. Ex maior a nossa história, se contada pelos que tocam tambor, já não será a história que aprendemos nos livros didáticos, muda muito ..
O Overmundo abriu a portas para nós e aqui jornalistas somos divulgando para o mundo nossa verdadeira história. Obrigada a todos que colaboram com o Overmundo e ajudam na construção dessa história.
bjs
sinva

bjs
sinva

Sinvaline · Uruaçu, GO 9/7/2009 08:51
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Ilhandarilha
 

Muito boa a idéia da série. Melhor ainda começar pela Sinvaline, que tem nos dado tanto da magia da cultura goiana. Seus temas e sua forma de escrever sobre eles me cativaram desde o início da sua participação no overmundo. E sua trajetória de crescimento na expressão é visível a cada texto novo.
Continue trazendo Goiás pra gente, Sinvaline!
abraços

Ilhandarilha · Vitória, ES 10/7/2009 11:23
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Spírito Santo
 

Já até perdi a conta das janelas que a Silvaline, assim tão simples e matreiramente me abriu com a força de seu espírito colaborativo. Uma delas, que se destaca logo de saída, é a ponte que ela construiu para mim com o extraordinário etnomusicólogo Kazadi Wa Mukuna, meu ídolo há muito tempo (que, tenho certeza que também por conta da Silvaline é colaborador do Overmundo), com o qual pude trocar preciosas fichas que deram algum conteúdo e consistencia à minha sempre autodidática e, as vezes até atabalhoada ('desacademica'), colaboração por aqui.

Grande Silvaline!

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 22/10/2009 09:58
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