O duplo sentimento de amor, entre a amizade e o
romance em Pouco mais de um Mês.
por Julio Cruz
“Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!â€
Poeta Zé da Luz – Ai! Se Sêsse
Citando brevemente Cordel do Fogo Encantado – banda pernambucana findada em 2007 – e o poema que ganhou o mundo na declamação do grupo, cito a história recontada pela banda da feitura do poema Ai! Se Sêsse, do poeta Zé da Luz. Esse poema foi confeccionado por Zé da Luz, porque lhe disseram que pra falar de amor “era necessário um português correto e talâ€. E daà surgiu essa subversão da linguagem, citada logo acima, que traduz de forma fantástica o sentimento a que se propõe tratar, e que serve como tradução de parte da intenção de André Novais e seu Pouco Mais de Um Mês.
Certas intimidades se fazem conscientes quando o cinema é realizado em atmosferas amorosas. Os aspectos de uma simplicidade para tratar do amor, e na tangente da naturalização da história, em se firmar nas bases da localização onde está inserido. A força nasce de um contexto único, onde a vontade de se fazer filmes é mais importante do que qualquer nÃvel monetário e essencialmente a mineiridade belorizontina dá a base primordial para a universalidade dos elementos tratados.
O desafio de André Novais está na fundação de uma proposta universalista que é constituÃda numa formulação mineira por tradição. O curta ganha força ao se vencer esse desafio, constituindo um amor inicial que, na sua particularidade dada pelo lugar e pelo próprio intimo do casal, consegue fomentar uma história única e recorrente, representativa de qualquer casal que tenha passado de Pouco mais de um Mês.
E nisso ela se torna cinematográfica. O formalismo mÃnimo é alcançado quando, com um movimento de câmera, André, numa maestria de seu fora de tela, elemento dominante de sua obra, revela a Câmera Escura no teto de sua namorada. É nessa precariedade que o filme retoma a história do cinema, parafraseando uma intimidade, parcialmente forçada, onde se tem um incomodo, e desse incomodo nasce a narrativa.
Então, André denota que é possÃvel falar de amor sob condições adversas. Num cinema pautado pela camaradagem dos seus meios de produção, num amor pautado pela condição de inicio de relacionamento, numa forma de fazer cinematográfico pautado pela aparente precariedade, pela forma como a precariedade pauta uma sofisticação na forma de se fazer cinema. É pela simplicidade e pelo modo tÃmido que Pouco mais de um Mês toma as telas e se constitui numa declaração de amor pelo cinema e pela namorada amada. Afinal, não são de grandes gramáticas, como Zé da Luz e André Novais provaram, que se constitui o amor. É da corriqueiridade.
03 de Fevereiro de 2013.
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