O compositor Chico Saldanha disse certa vez que "no mês de maio tá todo o povo ensaiando". Com certeza nesse perÃodo as fogueiras já estão queimando. Em alguns terreiros da Ilha já ecoam os sons das matracas, zabumbas, maracás e pandeirões. Longe dos ensaios do bumba-meu-boi, personalidades da cultura, assim como Chico Saldanha, encontraram no bumba-boi a inspiração para escrever livros, pintar quadros, compor músicas e criar espetáculos teatrais.
O cantor e compositor Josias Sobrinho, autor de canções célebres como Engenho de Flores (gravada por Diana Pequeno), Catirina e De Cajari para a Capital, afirma que fazer música tomando como referência o bumba-meu-boi é um retorno, uma viagem à infância. "Eu quando criança lá no povoado de Tramaúba, em Cajari, ouvia muito bumba-meu-boi. Ele foi minha formação musical. Quando criança, dizia que queria ser cantador de bumba-boi quando crescesse".
Josias não virou efetivamente cantador mas, segundo ele, "o artista que ele se tornou foi construÃdo a partir dessa experiência de vida". Sem poupar a lÃngua, assim como Catirina, e inspirado no boi, Josias criou versos como "a saudade é traça, estraçalha o coração/ e mulher bonita é chave de prisão". Na hora de compor, Josias não tem preferências. "Todos os sotaques são bem construÃdos, são bem feitos e o resultado final é excelente", atesta.
Infância - O artista plástico Fransoufer também foi buscar na infância a inspiração para pintar as telas do antigo trabalho Viva, São João!. "Fui buscar inspiração na minha infância e nas lembranças que eu tenho do meu pai, que tocava zabumba no boi", conta o artista, que nasceu no municÃpio de Bequimão, na Baixada Maranhense. Fransoufer afirma que ficou impregnado disso. "Meu trabalho é fruto das minhas raÃzes", conta.Diferente do cantor e compositor Josias Sobrinho - que afirma não ter preferências por nenhum dos sotaques do bumba-meu-boi - para Fransoufer o sotaque de zabumba é especial.
Na obra do também artista plástico AÃrton Marinho a manifestação do bumba-meu-boi é recorrente. "O processo artesanal e as semelhanças na linguagem deixam as suas xilogravuras e o bumba-meu-boi bastante próximos", diz Marinho. AÃrton Marinho também possui uma coleção feita exclusivamente com base no bumba-meu-boi, Guarnicê.
Na coleção, AÃrton elaborou 25 xilogravuras entre vaqueiros, Ãndias, personagens e indumentárias do bumba-meu-boi. "Esse trabalho é muito interessante, tem uma plasticidade, as formas do desenho me impressionam muito", conta. A intenção, segundo ele, é universalizar o bumba-meu-boi e as tradições culturais do estado.
Narrativa - O ator e mÃmico Gilson César, em seu espetáculo Cartuns, foi buscar no auto do bumba-meu-boi alguns dos personagens de seu espetáculo, entre os quais estão o Cazumbá, o Miolo do Boi, Catirina, Chico e o Brincante. Esses personagens podem ser vistos logo no primeiro ato de Cartuns. "Esse momento eu chamo de narrativa mÃmica maranhense", afirma Gilson. Além da caracterização dos personagens, é marcante também a expressão corporal e gestual dos brincantes do bumba-meu-boi.
E o boi também ganha espaço na literatura. A experiência vivida como vaqueira campeadora no bumba-meu-boi de Morros levou a jornalista e professora universitária Ester Sá Marques a tomar a brincadeira como objeto de estudo da sua dissertação de mestrado, publicada em forma de livro, com a primeira edição já esgotada.
No trabalho MÃdia e Experiência Estética na Cultura Popular: o caso do bumba-meu-boi, Ester Marques propõe a "recolocação do bumba-meu-boi no roteiro dos objetos da cultura popular, a partir de um lugar de fala especÃfico, em vez da conceituação tradicional que o reduz somente a um objeto da cultura folclórica". Ainda segundo o estudo de Ester Marques "o bumba-meu-boi transforma-se num acontecimento visÃvel, transparente e representativo".
Torná-lo visÃvel e transparente, só que para o público infantil, foi a intenção do jornalista Wilson Marques ao escrever Touchê, uma aventura em noite de São João. O livro narra a trajetória aventureira do menino Rafa, numa noite de festa junina. Ao sair de casa para assistir a uma apresentação do bumba-meu-boi, o garoto, na companhia de Touchê, um sujeito esquisito e misterioso, percorre as ruas da Madre Deus, enfrentando perigos e assistindo exuberantes desfiles das brincadeiras de bumba-meu-boi.
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