O canaimé, na cultura Macuxi, é um ser perverso da floresta, meio homem meio bicho, que despeja sua ira em cima daqueles que causam algum tipo de mal à natureza.
Inspirados nesse ser mitológico da cultura indígena roraimense, um grupo de artistas resolver se juntar para manifestar sua “ira” pela falta de apoio e reconhecimento da cultura local. Nascia então, o Canaimé.
A primeira exposição, em 2002, surgiu com o nome “Canaimezado”, que seria uma designação de que os artistas estariam “irados”.
“Fizemos aquela exposição com um grupo de seis artistas. A partir dali, começou a se formar o grupo Canaimé propriamente dito, fortalecendo o universo cultural de Roraima”, conta Amazoner Okaba, um dos fundadores.
Descendente das etnias macuxi e wapixana, nascido na comunidade Malacacheta, Okaba ingressou pelas artes plásticas em 1987, aos 14 anos, participando de um projeto cultural na escola que estudava em Boa Vista. Hoje, tem mais de 40 exposições individuais no currículo, além de várias coletivas.
Além de Okaba, integram o grupo o jornalista Jessé Souza, editor do jornal Folha de Boa Vista, que, nas palavras de Okaba, é “um grande artista das letras, incentivador e articulador do movimento”; o maranhense Anthony Jamaica, que produz esculturas, móveis e jóias em madeira e concreto; a paranaense Gracielle Harr, esposa de Okaba, com pinturas em óleo sobre tela; o roraimense Ednel Pereira, que é paisagista, decorador, faz instalações e pintura em acrílico e óleo sobre tela; e Iran Azevedo, que também pinta, desenha e é expert em pedra sabão.
Como tudo começou
De acordo com Okaba, o grupo não nasceu com a proposta de ser um referencial. “Nós já fazíamos exposições há algum tempo juntos e, então, pensando nessa questão de dar uma identidade étnica à produção cultural local é que a gente cria o Canaimé”, justifica, explicando que, como tinham vários artistas de etnias e raças diferentes, a proposta era dar essa identidade, mas ao mesmo tempo formar um grupo pluricultural, já que ele é aberto à participação de gente de outros estados.
O Canaimé começou a expor seu trabalho na casa do jornalista Jessé Souza, num bairro da periferia de Boa Vista, mas há pouco mais de um mês ganhou um espaço permanente para exposição e comercialização de suas obras: uma sala de 100 metros quadradros, no Centro de Cidadania Nós Existimos, no Centro da cidade.
“Esse espaço hoje serve como um ponto de referência para a gente se encontrar e expor nosso trabalho. Hoje, estamos com obras de seis artistas, mas existe uma rotatividade, onde vamos trocando à medida que elas vão sendo comercializadas ou chega a um determinado período de exposição”, afirma.
Desde a sua criação, o grupo já fez apenas três exposições oficiais, sendo que a última delas aconteceu em dezembro do ano passado. O grande lance do Canaimé é a liberdade, pois não existe imposição para a criação das obras de cada um.
“A única exigência que temos no grupo é que o integrante tenha algum tipo de trabalho voltado para o regional, pois quando nós fazemos uma exposição, procuramos homenagear Roraima, através de sua gente, da cultura, das etnias indígenas, o potencial turístico de um modo geral. E cada artista tem uma visão diferente sobre isso”, comenta.
Além dos integrantes do grupo, a galeria também abriga obras de outros artistas e ainda oferece cursos e oficinas para iniciantes nas artes plásticas.
Neste primeiro momento, segundo Okaba, os cursos são pagos, mas a proposta é sociabilizar a arte, criando oportunidade para que crianças e jovens possam desenvolver seu talento.
“Queremos dar acesso para que essas pessoas possam estudar. A gente sabe que, muitas vezes, elas têm muito talento, mas não podem desenvolvê-lo, pois não têm oportunidade, não têm material”, conta.
O espaço, de acordo com Okaba, recebe visitas regulares de estudantes, que vêm em grupos pré-agendados pelas escolas ou faculdades, mas também tem uma freqüência muito grande de pessoas da comunidade.
“A gente está se mobilizando para dar mais visibilidade à galeria, realizando happy-hour, saraus e outras manifestações com a participação de outros artistas”.
Para este ano, o Canaimé ainda tem alguns projetos na prancheta. Um deles é a campanha “Vista Roraima no peito”, que é uma coleção de camisas do grupo com iconografias étnicas do Estado. O outro é o “Viaje Roraima”, onde os integrantes farão excursões nos municípios do Estado mostrando o potencial turístico e a cultura de cada lugar.
“Mas nosso grande lance é dar continuidade ao objetivo de fazer produtos 100% Roraima, fortalecendo nossa cultura e contribuindo para intensificar a identidade cultural do nosso Estado”, conclui Okaba.
Serviço
Galeria Canaimé
Espaço Dom Hélder Câmara – Centro de Cidadania Nós Existimos
Rua Floriano Peixoto, Centro, Boa Vista-RR
Contatos: (95) 9962-0918
amazonerokaba@yahoo.com.br
okababv_rr@yahoo.com.br
Para comentar é preciso estar logado no site. Faa primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Voc conhece a Revista Overmundo? Baixe j no seu iPad ou em formato PDF -- grtis!
+conhea agora
No Overmixter voc encontra samples, vocais e remixes em licenas livres. Confira os mais votados, ou envie seu prprio remix!