O clima pós-moderno em que vivemos traçam paisagens urbanas segundo o último design do mercado. O fast food televisivo bombardeia as residências, não só a televisão, mas todos os meios de comunicação estão lá, disponÃveis a qualquer um, produzindo sentidos formais e morais. O paradoxo entre a pluralidade de ofertas e a escassez de sentidos formam um diagnóstico, o individualismo extremo. A chamada “cultura jovem†evidencia esse individualismo programado. Há uma reprodução de necessidades e satisfazê-las leva ao indÃviduo acreditar em um ato de liberdade e diferenciação. Nesse sentido, parecemos absolutamente livres para tomar nossas escolhas.
No entanto, como já foi dito, o individualismo hoje é programado, assim como a própria juventude. O boom que ocorreu nos anos 1960, onde “surgem†os adolescentes, nada mais foi do que uma jogada de marketing da indústria da moda. Haviam as crianças e os adultos, mas era preciso um novo mercado, um novo alvo para ser atingido, e a juventude é criada a partir dessa necessidade de uma indústria que carecia de um novo grupo para aumentar seus lucros.
Então surgem os shoppings centers, uma cidade fragmentada com serviços em miniatura. Visite um shopping, em qualquer lugar do mundo, eles serão iguais em todos os lugares. Há uma constância, marcas internacionais e mercadorias uniformes dentro de um espaço sem qualidade. É possÃvel realizar todas as atividades nesse lugar, comer, beber, descansar, consumir tanto produtos quanto sÃmbolos, em uma atmosfera aparentemente segura, com uma temperatura agradável, uma iluminação ideal.
Facilmente perdemos a noção de orientação dentro de um shopping e aceitamos sem criticar as suas armadilhas. Um shopping corresponde a uma ordenação total, dando a impressão que percorremos livremente seus caminhos, sem nos darmos conta que ele não foi feito para se chegar a um ponto, a um fim. É indiferente com a cidade, um espaço dentro de um espaço urbano, mas onde o dia e a noite não se distinguem. O tempo em que se passa no shopping também não possui qualidade, é um tempo que não passa, ou melhor, um espaço onde o tempo para. Substituindo a cidade, o shopping esquece daquilo que o rodeia. Ele interrompe o céu e não possui passado. Nesse espaço, são construÃdos novos hábitos, e desde tenra idade aprendemos a agir em seu interior. Protótipo do futuro, são cada vez mais extensos, alguns compreendem hotéis, spas e até escolas.
O shopping também não exclui. Alguns compram, outros apenas admiram e desejam. Ou entram em seus especiais nos cartões de crédito cada vez mais próximos e indispensáveis ao consumidor. Não pode pagar agora? Dividimos em 30 vezes! Juros? Ninguém se preocupa com isso.
O shopping também é um momento no qual alguém pode exibir seus atributos de fama. Ali, todos os personagens estão presentes, mostrando o quanto podem gastar.
E o corpo? Assim como os bens e serviços que podem ser personalizados, o corpo também é livre para o projetarmos como quisermos. É claro, seguindo sempre a última tendência.
Em tempos de eventos como o São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio, moda, beleza e corpo entram em discussão. Os corpos “da modaâ€, são também mercadorias, assim como as roupas que os vestem.
Em cada perÃodo, o corpo adquiriu uma forma, seios pequenos, seios fartos, cintura fina, corpo atlético etc. No século XXI o corpo chega com normas estéticas bem especÃficas. Ser como as modelos. Este é o sonho da grande maioria. Um corpo perfeito, plástico, um produto a prova de velhice e de descuidos.
A corrida para alcançar esse corpo “dos sonhos†leva exatamente para onde? O consumo. A mÃdia trabalha as imagens que chegam ao indivÃduo de uma forma que elas possam ser vistas como legÃtimas. Mas não é só o consumo que está presente nessas imagens, o modo de agir, mais ou menos como um “guia para viver e se relacionar com a sociedade†também estão inseridos nelas e fazem parte de toda uma etiqueta a ser seguida.
O que, como e onde consumir nos são ensinados. Tem mais, a mÃdia também nos ensina como devemos ser. A imagem midiática é algo para ser copiado, o indivÃduo se reconhece nessas imagens e vira um protagonista delas.
Pessoas que vivem em grandes metrópoles recebem um fluxo contÃnuo de imagens diariamente. Isso não é novidade, mas as imagens se tornam cada vez mais onipresentes e viram guias que passam a difundir sÃmbolos e culturas.
A mÃdia nos ensina como o mundo deve ser de acordo com a ideologia dominante. Ela mostra, através dessas imagens, como o mundo pode ser melhor, se aderirmos aos seus ditames.
Novos estilos de vida são criados, assim como novas representações.
Então vivemos de modo a “parecer serâ€, pois as imagens, fazendo-nos crer que esses discursos são válidos, passam a serem exemplos a serem seguidos. E seguindo esses modelos, o indivÃduo torna-se um verdadeiro “fantasma†dos estereótipos a serem seguidos. Além de consumir, o sujeito vira o próprio produto.
As imagens das diversas mÃdias existem a partir de uma premissa básica: ela deve ser mercadologicamente viável. Novos produtos surgem, consequentemente, novos meios de comunicação nascem para suprir todo esse bombardeio de mercadorias.
Os corpos ideais surgem e são seguidos com o intuito de que o sujeito sinta-se desejado. O corpo em voga é o sexy. Já viram a explosão de academias? A maioria surge nesse momento como um antro onde todos podem exibir seus corpos, como em uma vitrine ambulante, onde manequins se movem, sempre da mesma maneira, seguindo a etiqueta do quão desejada(o) posso ser.
Mas a busca pelo corpo ideal é interminável, afinal, se todos os desejos pudessem ser saciados, o indivÃduo deixaria de consumir e o mercado entraria em colapso.
Sentimos falta, então o desejo ocorre. Quando obtemos o que desejamos, somos levados ao tédio e a novos desejos. Seguindo a idéia de Bauman, em seu livro Vida lÃquida, a busca pelo corpo ideal é lÃquido, assim como o consumo. E o consumo continuará a ser desejado perpetuamente.
FONTES:
SAMARÃO, Liliany; FURTADO, Pedro Calabrez. As imagens e suas implicações sociais. Sociologia, São Paulo: Escala, ano 2, nº 18, p. 42 – 47, ago. 2008.
SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte e videocultura na Argentina. 2 ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
Excelente texto, expressão do que há por trás de uma cultura de protótipos capitalistas.
Lilian Lilian · Maringá, PR 12/6/2011 14:47Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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