BH foi palco de eventos no mÃnimo contraditórios, neste fim de semana.
Confesso que não estava muito otimista quanto à participação de um número expressivo de pessoas na Marcha da Maconha 2012 em Belo Horizonte. Basta lembrar a manifestação do ano passado, que contou com a presença de mais ou menos 500 pessoas. Mas o que se viu pelas ruas da capital mineira no último sábado, dia 12 de maio, foi algo digno de respeito e admiração. Mais de duas mil pessoas acompanharam a marcha, com cartazes e gritos de guerra a favor da descriminalização da erva. Foi, sem dúvida, a maior Marcha da Maconha na história de Belo Horizonte.
Os manifestantes reuniram-se na Praça da Estação das 13 à s 16 horas, quando seguiram rumo à Praça da Liberdade. Dezenas de policiais acompanharam a marcha pacificamente, garantindo o direito de expressão e o bom fluxo de trânsito. Alguns comerciantes preferiram fechar as portas, temendo algum tipo de desordem e confronto entre a polÃcia e os manifestantes, o que não chegou nem perto de acontecer. O clima era de festa e reivindicação. Pessoas sorriam e cantavam, levando cartazes, máscaras, chapéus e o que mais fosse útil para passar a mensagem. Na linha de frente, os manifestantes carregavam uma faixa onde se lia “Não pedimos tolerância, exigimos respeito!â€. Um baseado gigante em cima de um carrinho de bambu, foi conduzido por todo o trajeto, até a entrada do palácio da Liberdade, onde foi enfim aceso.
Até aà tudo bem. Não tivemos em BH o desrespeito e truculência por parte da polÃcia, como tivemos no Rio de Janeiro, sábado passado, na Marcha da maconha de lá. Mas Infelizmente, nem tudo foi verde, neste fim de semana. Belo Horizonte deu um ótimo exemplo de liberdade de Expressão com a Marcha da Maconha...mas por pouco tempo.
No dia seguinte, 13 de maio, feriado da Abolição da Escravatura, um jovem músico negro foi preso por se expressar contra o sistema, após seu show no festival Palco Hip Hop (Barreiro). Se voltarmos mais um pouco no tempo, na sexta feira dia 11 de maio, a comunidade denominada Eliana Silva, também na região do Barreiro, foi brutal e injustamente desocupada pela PM-MG a mando da prefeitura, deixando centenas de famÃlias sem abrigo. Emicida, que sempre apoiou vários movimentos sociais, se posicionou contra a desocupação da área dizendo: “Antes de mais nada, somos todos Eliana Silva, certo? Levanta o seu dedo do meio para a polÃcia que desocupa as famÃlias mais humildes, levanta o seu dedo do meio para os polÃticos que não respeitam a população, e vem com ‘noiz’ nessa aqui, ó. Mandando todos eles se fuder, certo, BH? A rua é noiz!â€. Veja aqui o vÃdeo.
Após o término da apresentação, o rapper recebeu voz de prisão e foi conduzido até o 39° DP, no mesmo Barreiro, sob a acusação de Desacato à Autoridade. A prisão de Emicida foi justificada da seguinte forma no Boletim de Ocorrência:
“Senhor Delegado,
Nesta data, ocorreu um evento na Av. Afonso Vaz de Melo, próximo a PUC de Barreiro, conforme ordem de serviço nº 306812/41º BPM, acordado entre o comando e organização do evento, denominado “Palco Hip Hopâ€, onde vários artistas gênero se apresentaram, dentre os quais destacamos a participação do presente conduzido de codinome “Emicidaâ€, este na abertura do seu show, proferiu os seguintes dizeres: “eu apoio a invasão do terreno “Eliana Silvaâ€, região do Barreiro, tem que invadir mesmo, levantem o dedo do meio para cima, direcione aos policiais, pois todos esses tem que se fuderâ€. Vale a pena lembrar que o público presente estava em grande quantidade e tais declarações objetivavam insuflar o público contra os policiais militares que estavam de serviço no evento, que colocou em risco a integridade fÃsica dos policiais militares e dos envolvidos no evento. Diante do exposto, esperamos que o cantor Emicida terminasse o seu show, oportunidade em que foi dado voz de prisão ao autor pelo crime de desacato, sendo garantido seus direitos constitucionais. Conduzimos o referido a delegacia regional de Barreiro para as providências que couber o fato. Ressalto que a testemunha Evandro Roque de Oliveira irmão do autor e o senhor Elcio Pacheco o advogado do conduzido.â€
Percebeu alguma diferença entre o que ele disse e o que a polÃcia relatou no boletim? Sim, amigos, a polÃcia adulterou a fala do rapper para justificar a prisão do mesmo. Só me impressiona a falta de percepção das autoridades em relação à época em que vivemos. Época em que a informação se alastra como rastro de pólvora. Época em que todo acontecimento pode ser registrado por aparelhos eletrônicos e transmitido em tempo real pela internet. Será que eles não imaginavam que várias pessoas estariam filmando o show naquele momento? E logo a verdade sobre o que Emicidade disse viria à tona, contrastando com o que foi relatado no boletim. Ou será que são tão conscientes de seu poder que nem mesmo se preocupam com este tipo de coisa?
Qualquer um, com o mÃnimo de discernimento, consegue perceber que o rapper não se dirigiu especificamente aos policiais que estavam presentes no evento, mas sim a todo este sistema absurdo que desabriga centenas de famÃlias em nome do beneficio de grandes proprietários. Dessa forma, não temos um caso de desacato à autoridade, mas sim de repressão à liberdade de expressão.
A mesma cidade que foi palco de uma incrÃvel manifestação, sÃmbolo da liberdade de expressão no sábado, também foi palco de um tÃpico episódio de repressão à opinião no domingo. A mesma cidade que garante luxo e desenvolvimento para uma pequena parcela da população, desabriga e oprime sua humilde maioria. Um sistema que se diz democrático e aberto à livre expressão, caduca e tropeça quando a expressão se dirige a ele próprio.
Deixemos de nos encantar com o crescimento econômico e a importância que nosso paÃs tem representado no panorama mundial e voltemos nossa atenção para nossa sociedade. Os tempos estão mudando e já não há mais espaço para desrespeito à pluralidade de opiniões. Há algo de muito errado acontecendo, e desta vez a internet nos garante uma posição privilegiada para o protesto, a denúncia e o debate. Faça uso desta arma e mire a cara do sistema.
(Walisson Menezes)
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