Imaginar o rock de garagem na cena imperatrizense é complicado, pois que a tradição da cultura musical maranhense propalada é o das toadas do bumba-meu-boi, do reggae, da música de raiz (sic), do tambor de crioula, do cacuriá.
Essa impressão torna-se verdadeira na medida em que optamos por cegar os olhos para a diversidade, sendo massa que eleva a caravana dos televisivos, ou o dos que copiam e colam numa homogeneidade sem igual, discriminando o fazer artÃstico, o fazer musical.
O Maranhão, então, é tudo aquilo que seu povo queira ser. Há um espaço para ser expressado, ser conquistado, principalmente quando nos percebemos amparados pela constituição federativa do Brasil.
Entrevistar Bruno Aguiar - organizador de shows na cidade e baterista da banda Mortos, no estilo Death Metal -, é perceber que há uma movimentação da cena musical, que precisa ser vista, valorizada, discutida e partÃcipe na democratização das discussões de polÃticas públicas para a área de cultura, independente da esfera.
A entrevista
Pergunta: Tenho em minha memória, um agrupamento de pessoas, todas de preto, batendo cabeça, numa praça, isso quando cheguei a Imperatriz e militava no movimento estudantil. Desde aquela época, ficava pensando como vocês conseguiam articular uma "ruma" de gente para assistir aos shows, gratuitos, e como conseguiam "grana" para colocar som, palco... Como se processava, e como se processa hoje, a divulgação para atividades que envolvam música de boa qualidade, como o rock em Imperatriz?
Bruno: Antigamente, as bandas se articulavam de uma forma que todos nós participávamos, simultaneamente, da organização de show de rock em Imperatriz. Isso acontecia em forma de cooperativa undergroud, em que cada um ficava responsável por alguma coisa, som (que na maioria das vezes não supria as necessidades mÃnimas que uma banda pode exigir), palco (que por muitas vezes nem existia) e um lugar qualquer. A divulgação era feita boca-a-boca, pois o movimento "metálico" de Imperatriz era muito restrito e as notÃcias corriam rápido quando tinha alguma correria desse tipo. Hoje, em Imperatriz, contamos com uma organização melhor do que antigamente, que funciona da seguinte forma: depois de uma escassez de shows e bandas de rock da nossa região, e com a vontade de algumas pessoas de mostrar seu trabalho e o fazer de uma forma mais profissional, a banda Mortos teve a idéia de fazer um festival anual sempre contando com bandas locais e bandas de outras cidades, fazendo um intercambio musical. Foi feito um projeto e, mãos à obra, saÃmos com esse projeto debaixo do braço atrás de futuros parceiros que poderiam estar ajudando a concretizar esse objetivo. Com o sucesso do Metal Chaos que contou sempre com um público que superou as expectativas da região, não promovemos mais um show por ano, e sim de 8 a 11 shows. Na verdade todas essas palavras se resumem em uma frase, que é e sempre foi a grande vontade de tocar, mostrar seu trabalho e sempre estar trabalhando em prol do metal.
Pergunta: Como viver de música? Pensar em melhorar leis, buscar articular-se com o próprio movimento cultural da cidade? Há preconceito dos músicos, tidos como "de raiz", para com o rock? O rock é passadista?
Bruno: Viver de música... Tenho certeza que isso passa o tempo todo na cabeça de todo mundo que ama esse estilo de vida, que pra mim a musica é um estilo de vida, principalmente quando se fala na musica rock'n'roll. Talvez seja mais uma conseqüência do que um planejamento em si. Tocar algo por gostar e o maior pagamento é o reconhecimento e a própria satisfação de fazer musica. Em relação a buscar apoio ao próprio movimento cultural da nossa cidade, já foram feitas várias e várias tentativas em relação a isso, mas nunca aconteceu, pois, há um preconceito em relação ao rock e um, digamos, favorecimento próprio da parte dos que lá estão [ele fala da Fundação Cultural do MunicÃpio de Imperatriz]. E por estarmos num centro que não apóia e nem tem a cultura do rock sempre aparecerão passadistas, mas o rock'n'roll não é e nunca vai ser um estilo passadista, como podemos ver na história desse movimento grandioso mundial.
Pergunta: Fale um pouco da proposta de abrir a Usina [uma espécie de danceteria existente na cidade] de quando em quando para ouvir música e encontrar os amigos. Ainda está rolando? Tem uma periodização?
Bruno: A Usina é um espaço muito importante nessa transição e fortalecimento da cena imperatrizense, com a sua frete a grande figura que atende pelo nome de Galego, que sempre está disposta a ajudar-nos a concretizar idéias em relação ao rock. 99% dos shows, que são realizados em Imperatriz, acontecem na Usina, pois está se tornando um espaço já conhecido da "galera". Com shows e mais shows rolando na cidade fomos observando sempre novas caras e a vontade de estarmos nos unindo cada vez mais às pessoas que participam desse movimento que surgiu a proposta de abrir a Usina com uma periodicidade de 15 em 15 dias.
No começo estava dando tudo certo, um telão rolando com o melhor do rock'n'roll, muita gente e descontração no lugar. Mas, como sabemos que as coisas não dependem só da vontade de fazer e boas idéias, talvez faltou coragem da parte do dono da Usina ou mesmo vontade. Portanto, já há algum tempo que não temos esse espaço periódico de onde poderia sair muitos frutos.
Pergunta: Parece-me que nas bandas de garagem/porão, a música corre nas veias, diferentemente dos demais ritmos/estilos. Isso é verdade ou estou viajando?
Bruno: Com certeza, você não esta viajando; de forma alguma. Bandas de garagem, ou bandas undergroud fazem música porque gostam, não por dinheiro ou algo parecido; diferentemente de muitas tribos ou pessoas que se infiltram nas mesmas para serem beneficiados financeiramente com isso
Pergunta: Quais as bandas de rock, com qualidade musical, existentes hoje na cidade, e que ainda ensaiam, se apresentam?
Bruno: As bandas de rock que existem na cidade, que tocam e propõem ao publico uma proposta, com qualidade musical, são as bandas Pure Evil, Unborn, Mortos, Narcan, Bloody Sabbath e Systematic Chaos.
Pergunta: E Fundação Cultural de Imperatriz? E o Governo do Estado? E as leis federais? Vocês sabem os caminhos das pedras? Já encaminharam algum projeto ao BNB, Petrobras, Votorantim?
Bruno: Ter conhecimento das leis federais, ou seja, o caminho das pedras nós temos. Mas, sabemos, também, como funciona a máquina corrupta do nosso pais e o favorecimento que acontece a poucos "gatos pingados" que existem. A Fundação Cultural de Imperatriz com seu representante Erasmo Dibael não dá apoio à cena, pois que por muitas vezes foi procurado e fez pouco caso com o assunto a ser tratado. Então quando mudar toda a coordenação da Fundação Cultural, podemos novamente tentar apresentar uma proposta aos mesmos, e quem sabe podemos firmar uma parceria com a Fundação!
Mesmo sem o apoio que por lei deverÃamos ter, mantemos um movimento que está crescendo e se solidificando a cada dia que passa não só em Imperatriz, mas como em muitas cidades da região sul-maranhense.
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