Pela democratização do audiovisual

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Maíra Ezequiel · Aracaju, SE
28/3/2006 · 156 · 1
 

Há seis anos Aracaju sedia um festival internacional de curtas-metragens, o Curta-SE. O dado é curioso levando em consideração que Sergipe está longe de ser referência em produção audiovisual. O caso aqui fez o caminho inverso. Foi o festival que abriu a brecha para uma cena que, hoje sim, começa a existir, ainda que a takes curtos.

A história se repete: tudo começa com um sonho que parece impossível. Alguém se apaixona pela causa e resolve arregaçar as mangas. Nesse caso, a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa foi Rosangela Rocha. Em 2001, junto a um grupo de amigos também amantes da sétima arte, ela realiza a Mostra Brasileira de Curtas. O sucesso do evento fez com que ele crescesse no ano seguinte para um festival competitivo, ocupando mais espaços pela cidade. Já na terceira edição, ao mesmo tempo em que se tornava luso-brasileiro, o Curta-SE passava a premiar também as produções locais. Além das mostras de curtas (em vídeo, 16mm e 35mm) e dos longas convidados, o Curta-SE incorporou debates, oficinas e festas temáticas em sua programação, que dura uma semana inteira.

Fora tudo isso, em 2004 o Curta-SE foi à rua. Dando um verdadeiro exemplo de contrapartida social, todos os filmes do festival foram exibidos também em uma tenda montada no tradicional bairro Industrial, onde a maioria dos residentes não tem acesso às salas de cinema da cidade.

Na última edição do festival, dos 215 curtas inscritos, 11 foram produções sergipanas junto a 14 portuguesas. Uma média interessante considerando que não há nenhum tipo de incentivo previsto nas políticas de cultura do governo local. A demanda de público cresceu tanto que, no ano passado, na sala destinada ao evento por um dos Multiplex da cidade não coube tanta gente. Mudaram para uma sala maior e mesmo assim ficou gente do lado de fora em todas as sessões.

Em meio ao sucesso, o evento virou um coletivo e ganhou sede, a Casa Curta-SE. Novas atividades passaram a ser desenvolvidas pelo grupo. Hoje em dia, além do festival e de sua versão itinerante pelo interior do Estado, o pessoal da Casa Curta-SE também é responsável pelos projetos Cinema-BR em Movimento e Curta às Seis em Aracaju, além de um festival de cinema infantil internacional e outro de cinema francês.

O impacto dos esforços de Rosangela e do pessoal da Casa Curta-SE é evidente. O interesse do público por cinema nacional cresceu a olhos vistos, assim como novos e inusitados cineastas começam a despontar na cena local. Só para citar alguns exemplos: há os dois filmes da jovem artista plástica Gabriela Caldas – Elipse e A morrer - que ganharam menção honrosa nas mostras competitivas do Curta-SE e andam sendo selecionados para diversos festivais pelo Brasil afora; o filme de Jade Moraes sobre a história de Candelária – uma das mais antigas e famosas prostitutas do Estado, militante dos direitos da classe – que também teve destaque na última edição do Curta-SE, e o filme de seu Zé Leobino, um vaqueiro de Canindé do São Francisco que gravou sua rotina de vaquejadas e cavalhadas e acabou sendo selecionado pelo projeto Revelando Brasis, do Ministério da Cultura.

Ano passado, a Casa Curta-SE passou a ser também Ponto de Cultura do MinC. Com o projeto Figuras em Trânsito, 30 alunos da rede pública de ensino médio e superior passaram o ano aprendendo sobre linguagem e história do cinema, quadrinhos, animação e software livre, entre outras coisas. O objetivo é plantar a semente definitiva para um futuro panorama de produção cinematográfica qualificada em Sergipe. E, tirando pelos resultados de agora, a previsão é boa: em dezembro passado a primeira turma produziu seis curtas-metragens que foram exibidos dentro da programação do Festival de Artes de São Cristóvão com ótima recepção do público. E não é só isso: aliado ao programa do primeiro emprego do governo federal, 21 alunos do projeto Figuras em Trânsito já foram contemplados com bolsas de R$ 150,00 para trabalharem por seis meses dentro da Casa Curta-SE.

Este ano, a Casa Curta-SE acaba de lançar um portal onde é possível assistir online aos curtas premiados, saber de novidades sobre políticas para o audio-visual em Sergipe em no Brasil e se inteirar sobre o festival e todas as outras atividades da Casa Curta-SE. O Curta-SE 2006 acontece de 26 a 30 de abril.

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Marcelo Rangel
 

Maíra, o filme de Jade Moraes sobre a história de Candelária – não foi exibido no Curta-SE, na verdade ele foi o resultado da seleção local do DocTV, mas está sim relacionado ao festival pois a realizadora trabalhou na produção do evento em várias edições.

Marcelo Rangel · Aracaju, SE 5/5/2006 03:48
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