Cultura e Desenvolvimento

Assim, observamos uma certa passividade no setor, a falta de criatividade para superar as dificuldades econômicas. Uma mudança de mentalidade se faz necessária para uma abordagem da questão cultural, se vocês me permitem: precisamos de uma nova cultura da gestão cultural, uma nova cultura organizativa, uma nova forma de cultura.
Alfons Martinell
Professor e Gestor Cultural de Barcelona.

I – Novos Desafios: A cultura como estratégia para o desenvolvimento.

Cada vez mais, as políticas públicas na área de cultura adquirem papel fundamental para a formação de um país mais democrático e plural. Espaço privilegiado para a construção da cidadania e da inclusão social, a ação cultural deve sempre ir além das necessidades imediatas da atuação do poder público e de sua eterna insuficiência de recursos financeiros.

Neste sentido, os mecanismos de financiamento à cultura podem contribuir de forma essencial para a realização de projetos capazes de fomentar e estimular o desenvolvimento cultural, turístico e econômico de uma cidade ou região, bem como promover a inclusão social através da formação cultural, da capacitação profissional, da geração de empregos e de renda.

O trinômio cultura/lazer/economia deve assim ocupar um papel importante nesta difícil tarefa para a superação das desigualdades sociais e de seu principal produto urbano, a violência. Neste quadro não muito alvissareiro, cultura, economia e lazer impõem-se como premissas para a melhoria das condições de vida das grandes cidades, gerando perspectivas para o presente e esperanças para o futuro.

Para o gestor público surge então a imperiosa necessidade de pensar a cidade em todos os seus aspectos concretos e simbólicos, econômicos e sociais; exigindo de sua atuação não apenas a habilidade técnica e política para promover ações integradas e transversais, como também o conhecimento de novas metodologias derivadas das ciências econômicas, indispensáveis para o melhor gerenciamento de recursos e para um estudo mais detalhado de cada segmento cultural.

Dentro deste contexto, ficam as seguintes perguntas: Quais os paradigmas que balizam as atuais políticas públicas de cultura na região? Qual a eficácia e a eficiência dos projetos e ações realizadas (indicadores culturais)? Há integração e sinergia nas ações promovidas pelas Secretarias de Cultura da região? De que forma as políticas públicas de cultura poderiam contribuir para o desenvolvimento da cidade ou região? Há sintonia com o Legislativo para o desenvolvimento de leis que estimulem a produção, distribuição e fruição de bens e produtos culturais? Como dar visibilidade aos bens e serviços culturais da cidade? Que parcerias poderiam ser feitas com o governo federal e estadual? No que se refere às Ongs e empresas locais, que papéis teriam nesse processo? Por fim, quais os benefícios diretos e indiretos que teriam nossos atores culturais?

Se no Brasil, o poder público dá seus primeiros passos para a implantação de políticas culturais voltadas para o desenvolvimento, seja através do incremento ao turismo, da inclusão social e digital, da geração de empregos e renda, da formação cultural e capacitação profissional, e mais recentemente, no incentivo as chamadas indústrias criativas. O que esperar da Baixada Santista, onde a reflexão sobre gestão cultural praticamente inexiste? O que fazer para articular os programas e ações que tenham como prioridade o desenvolvimento?

Ao menos, uma coisa é certa. Precisamos profissionalizar ainda mais a gestão cultural em todo o Brasil, sob pena de investirmos equivocadamente dinheiro público. Muito se tem por fazer e muito se pode esperar.

Paulo Renato Alves