Elke Maravilha

Sander Kelsen
Elke Maravilha: Qual é a infinita possibilidade real?
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Sander Kelsen · Belo Horizonte, MG
10/4/2011 · 11 · 0
 

A leste de copacabana, passos apressados que vão escapando de prédios comerciais e residenciais. Uma rota onde os olhos se esbugalham para tanta informação visual. Gota de suor que se mistura com a transpiração do coração. Preparados, levamos um mapa. A necessidade de concluir um trabalho corre em nossas veias. O que vamos viver vai entrar em um túnel, como daqueles que corta montanhas em prol da modernidade. Do outro lado, fluidez; uma vivência que se junta a experiências.

Cheirinho de antigo, não é para menos. O elevador é um senhor comportado, em pleno funcionamento, que persiste em subir e descer por vários andares.O porteiro anuncia e dá permissão para embarcar. No corredor, uma pequena discussão. Quem vai tocar a campainha? Do outro lado da porta, um barulho crescente. O piso é de madeira. E agora? Estes são passos que revelam uma personalidade de poucos.

Crianças! Imponente, resultado de uma mistura de culturas, cores e essências. Da Rússia. De Itabira. Do Rio de Janeiro. Do Brasil, do mundo. Elke Maravilha, cheia de graça.

Uma mandala, um queijo minas, um colar, cachaça. Presentes das gerais, comprados no Mercado Central de Belo Horizonte. Recebeu tudo isso distribuindo abraços apertados. Passamos pela sala. Uma obra de arte, com seus quadros, fotos... Conclusão? Na arte da convivência, Elke tem doutorado na escola da vida. Espiritualista, gosta de falar dos signos dos zodíacos.

No quarto da casa de paredes vermelhas, um alento, uma acolhida bem ao jeito mineiro. Algumas almofadas e muitas curiosidades.

Um peculiar artigo Kitsch para as cinzas dos cigarros consumidos. “Uma forma de bolo sim… é tão mais prático!"

Elke é universal. Em russo, Elke significa Alce. Depois de acender um cigarro, pega várias fotos e nos mostra suas montagens. Uma chama atenção, é uma fotografia que cai entre os dedos dela. "Essa aqui é em homenagem a Iemanjá! Linda!" Entre conversas sobre Kitsch, diz:

"Procuro fazer uma obra de arte, gosto de fazer de mim uma obra de arte por dentro e por fora. O kitsch é basicamente engraçado. Como exemplo, Falcão é mais Kitsch do que eu… mas nem sempre sou engraçada em muitas fantasias.â€

O kitsch é o lado profano de Elke.

“Eu sou russa… e o povo russo é 'louco'. Há muito tempo atrás, Carlos Drummond de Andrade me questionou, ‘Elke, você como mineira é tão diferente… o mineiro é contido, é na dele, é tímido… fico matutando a razão de você ser assim’ (…) aí tive que explicar, ‘mas eu tenho sangue da Rússia Drummond… e genética é algo que não se pode negar!’ Daí ele entendeu tudo! Mineiro é aberto até a página 2â€

Mas não adianta negar. Quem conhece a terra de Drummond sabe. Eu me remexo, suspiro, ganho merecido descanso quando estou nas curvas da estrada que me leva à Itabira.

“Vim para Itabira com seis anos… fui desmamada no alambique! E vocês hoje me deram um presente. Ãlcool em grego significa espírito. E com a cachaça que trouxeram, me deixaram toda espiritualizada… Meu amor, o álcool tira tudo do corpo, faz uma limpeza. Vocês já ouviram falar de espírito de porco? Pois é, purifica tudo!â€

Daquele ambiente, por contraditório que seja, havia uma serenidade. "Qual é a infinita possibilidade real? Eu percebi: Aqui judeu se dá com árabe e vão juntos ao centro de macumba!"

"Eu nunca escolhi o que ia fazer na vida. Sempre fui a escolhida. Papai, aos 12 anos, me deu o pontapé inicial para a vida… Com os idiomas que me ensinou, fui dar aulas na Aliança Francesa. E era muito boa como professora! Logo depois de um tempo, fui trabalhar em um banco. Estava passando na rua quando uma pessoa me disse, ‘você quer trabalhar aqui com a gente, atendendo pessoas?’ E logo respondi que sim. Adoro pesssoas… Adoro ler pessoas. Ãlias, adoro conviver com pessoas. Porque viver com pessoas é ultrapassado, né meu amor?

Painho é como Elke chama Chacrinha. Ela o conheceu através de um produtor do programa, o Haroldo Costa… "Elke, quer vir ao programa?" Mas ela não sabia nada sobre Chacrinha, apenas que ele era um fenômeno de comunicação. Antes de ir ao programa, leu algo sobre o Velho Guerreiro e resolveu ser ela mesmo. “Através das leituras, descobri a principio que ele era um homem muito doido com uma roupa legal… ‘Caralho, e agora?’ resolvi então ir com uma buzina… era uma buzina indiana, pedi a produção do programa uma e entrei no palco buzinando.. Depois disso ficamos amigos. Ele nunca me chamou só de Elke, mas sim de Elke Maravilha. Eu faço parte do programa do Chacrinha… eu faço parte disso aqui! Não entendi muito aquela bagunça e percebi que não tinha que entender… Ele era um gênio, verdadeiro representante da cultura brasileira. Ele é de libra, de Pernambuco… E sempre me inspirei também nos pernambucanos… Chacrinha era um pastoril, um velho matraca… um nordestino.â€

Às nove da noite, terminamos. Já entrou no livro da vida: foi a experiência mais marcante da faculdade. A conversa com Elke foi para o trabalho de conclusão do curso em Comunicação, em 2009. Mas até hoje, toda essa atmosfera ainda se faz presente em meu cotidiano.

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