O futebol é mesmo uma paixão nacional e Deus é brasileiro. Quem de vocês amigos leitores, vai duvidar de tais afirmativas? E não adianta retrucar dizendo que não gosta de futebol porque não entende patavina nenhuma. Quando começa a Copa todo o Brasil, incluindo ai os que não entendem, se mobiliza em torno da Seleção Brasileira.
Certamente, isso não acontece só porque a grande mídia joga uma saraivada de notícias a cada minuto sobre o assunto. É que o sentimento de brasilidade, de patriotismo, nato do brasileiro, impera. E o brasileiro é, acima de tudo, um apaixonado pelo seu país e, por conseguinte, pelo futebol.
Mas, vamos ao que nos trouxe aqui. Escrever um artigo sobre a estréia do Brasil na Copa da Alemanha contra a Croácia.
Como disse há pouco, todo brasileiro é um apaixonado por futebol. Talvez seja porque ele seja o mais democrático dos esportes, congregando na mesma equipe negros, brancos, amarelos, mestiços e, seja lá que outra designação de raça exista.
Por esse motivo, resolvi ver este primeiro jogo do lado daqueles que aparecem menos entre as quatro linhas (a exceção de alguns países latino-americanos): os índios.
Através do colega jornalista André Vasconcelos, assessor de Imprensa do CIR (Conselho Indigenista de Roraima), consegui um ‘passe’ para assistir à estréia da Seleção junto com esses brasileiros que, a exemplo do resto do país, também amam esse esporte bretão.
Cheguei uns 15 minutos antes de começar a partida para ir sentindo o clima. Após uma rápida apresentação, já fui convidado a entrar para o recinto onde seria exibido o jogo e me sentei confortavelmente numa cadeira, de onde podia observar todos os movimentos da torcida.
Logo de início pude constatar algo interessante. Se o amigo leitor pensa que ‘índio só quer apito’ está muito enganado. O local da exibição, um amplo salão de cerca de 100 metros quadrados, estava muito bem equipado com um telão 2 x 2 metros, com projeção de um data-show e caixa de som amplificada. Coisa para inglês ver. Apenas o público era pequeno ali: cerca de 20 pessoas, entre adultos e crianças das etnias Macuxi (a maioria) e Wapichana.
E começa o jogo. Uma das lideranças do CIR, o macuxi Marinaldo Justino era um dos mais animados e logo mandou comprar refrigerantes. Outro trouxe fogos de artifício e uma mulher preparava pipoca para os curumins e cunhatãs.
A narração enjoenta de Galvão Bueno não desanimava o grupo. Dava para perceber a tensão nos olhos de cada um a cada investida croata. Mas também dava para ver a euforia toda vez que o Brasil subia ao ataque.
O primeiro ‘huuuuuuuuu’ da torcida veio quando Roberto Carlos chutou de fora da área e quase pega o goleiro croata desprevenido. O jogo continuou meio apático por alguns minutos e a torcida começou a reclamar.
Houve até quem criticasse o ‘fenômeno’ Ronaldo e o chamasse de ‘gordo’ (tomara que ele não leia esse artigo, pois depois do que ele disse do presidente da República, sabe Deus o que poderá falar de mim, um pobre mortal).
Por alguns minutos reinou um silêncio meio que sepulcral entre os ‘parentes’, que permaneciam vidrados no telão. Silêncio quebrado apenas por mais uma crítica a Ronaldo, pela sua ineficiência em campo, quando a TV mostrou um close do atleta, após mais uma jogada mal sucedida. “A culpa é desse gordo”, bradou um deles.
O gol de Kaká aos 44 minutos foi o estopim para a festa da torcida. Marinaldo, aos pulos, correu logo para soltar fogos e buscar refrigerante para ‘animar’ a torcida. E o celular de Marinaldo não parava de tocar. Devia ser um ‘parente’ querendo saber como tava o clima da festa por ali.
Termina o primeiro tempo. Então, aproveito para conversar com eles e saber qual seria o prognóstico para o segundo tempo. A expectativa positiva é total. ‘Seu’ Inácio Brito, um dos mais velhos do grupo, arriscou logo um 3 x 1. “O Brasil vai ganhar, sempre ganhou e vai ganhar mais. O time tá jogando bem. Agora, o Ronaldo tá meio fraco, tá muito gordo (para vocês verem que não é só o Lula que tá achando isso)”. ‘Seu’ Elias Souza e o jovem Fábio corroboraram do pensamento de Inácio, inclusive no placar. O jovem Hudson estava mais convicto na vitória e arriscou um 3 x 0 para o Brasil, placar seguido pelo ‘seu’ Tomaz da Silva.
O segundo tempo começa cheio de esperanças de que a Seleção aumentasse o placar e chegasse à previsão da torcida por aqui. Mas quem começa melhor é a Croácia. O ‘fenômeno’ só consegue aparecer aos 11 minutos após bela jogada de Kaká (o craque do jogo para a torcida), mas ainda desperdiça e joga a bola por cima da trave do goleiro croata.
Enfim, para euforia da torcida, Parreira tira Ronaldo aos 23 minutos e coloca Robinho, dando mais movimentação ao time. Não vou escrever de novo o que os ‘parentes’ disseram sobre Ronaldo, senão vocês podem achar que eu estou perseguindo o rapaz.
A entrada de Robinho, com seu futebol rápido, animou também a torcida, que ficou na expectativa de mais um golzinho, que acabou não vindo.
Por fim, o único momento de euforia dos ‘parentes’ foi quando o torcedor croata invadiu o gramado e passou mais de um minuto acenando para o público sem que ninguém fizesse nada, causando gargalhadas entre a torcida.
Antes de o juiz soar o apito final, encerrando a partida, ainda tive tempo de observar mais um detalhe no local onde assistia à partida. Já estava quase por perguntar: será que ninguém bebe por aqui, nem que seja caxiri (bebida fermentada à base de mandioca, feita pelos índios)?. Foi quando vi um aviso na parede alertando que era terminantemente proibida a entrada e permanência de pessoas embriagadas no recinto (isso faz parte de uma campanha do CIR para diminuir o índice de alcoolismo entre os índios).
E vejam só amigos leitores. Passei o primeiro jogo do Brasil na Copa em seco. Espero que gostem do artigo, pelo menos.
O texto que você acabou de ler faz parte de uma série sugerida e organizada pela comunidade do Overmundo. A proposta é construir um panorama da estréia do Brasil na Copa da Alemanha, sob a ótica de colaboradores espalhados por todo o país. Para ler mais relatos sobre o assunto busque pela tag Especial_Copa, no sistema de busca do Overmundo.
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