O "espetáculo" da Paixão

Nova Jerusalém, interior de Pernambuco ficou conhecida nacionalmente quando a Globo "descobriu" que eles encenavam a Paixão de Cristo durante o período da Semana Santa em um grande teatro ao ar livre.
Mais uma vez a "Vênus Platinada" destituiu o ato do patamar de cultura popular e o elevou ao "Q" de qualidade, da Globo. Infraestrutura, cenários suntuosos, mídia e claro, os astros globais. Esse ano resolvi conferir de perto o "espetáculo" e fui com um grupo de amigos. Na chegada, a lua cheia maravilhosa.
Do lado de fora, uma infinidade de ônibus e pessoas dos mais diversos sotaques, cores e tamanhos, empunhando blusas com a imagem de santos, dos atores ou mesmo com a logo da "Paixão". O comércio religioso tem aí um grande shopping. Os patrocindores, que não são poucos aparecem a cada instante nos estandartes fincados ao longo do percurso, do estacionamento até a entrada.
O "teatro", um grande espaço cercado por um muro de pedras, nos moldes dos bons castelos e templos da velha Europa.
Adentramos finalmente o espaço, chão de terra. Multidão já na primeira cena. Segundo os organizadores, cerca de 20 mil pessoas. O dia que escolhemos também é propício a multidões, sexta feira da paixão.
Voltando ao assunto multidão, durante a apresentação, incomoda as pessoas todo tempo falando ao redor, procurando as outras no escuro, lamentando a máquina fotográfica não colaborar ou simplesmente falando sobre a beleza do ator principal, Tiago Lacerda, o "Jesus" da vez.
A cada um dos oito palcos, reproduções "fiéis" das inúmeras produções hollywoodianas sobre o gênero. No formato de anfiteatro as pessoas vão tomando os espaços. Muitos como eu, nem assistem a cena inteira e já se dirigem para o próximo cenário, afinal para ver tudo de pertinho tem que se adiantar.
E nisso mais correria, a emoção fica para trás. Quem sabe um pouco de concentração na hora do encontro com Maria ou na crucificação...
O "espetáculo" que era para ser religioso aos poucos assume outro caráter, o de tietagem. As mulherada chega a suspirar quando Lacerda desce do jumento na chegada em Jerusalém.
E nesse misto de tietagem religiosa e tietagem aos artistas, seguem as mais de duas horas de espetáculo. Impressionante.
Depois dessa maratona, mais uma, a de comer um pastel, lanche mais vendido no entorno. O de frango com calabresa é bom. Se você não for tão criterioso quando o assunto é óleo e instalações confortáveis.
Fora a canseira, vale a pena. É um bom "espetáculo". Só não garanto emoção verdadeira. Quem sabe se ainda fossem os rostos desconhecidos, sem os grandes efeitos...