Um advogado amigo de FHC encomendou parecer ao jurista Ives Gandra Martins sobre a possibilidade da corrupção na Petrobrás embasar um pedido de afastamento de Dilma Rousseff. A resposta, obviamente, foi positiva.
Esse tipo de consulta custa caro e, também por isso, demanda predisposição da parte interessada em agir de acordo com o veredito. Mesmo na hipótese provável de Martins ter deixado de cobrar o alto valor habitual, sua manifestação tem um peso que praticamente força a iniciativa dos interessados.
E aqui o arranjo complica. Primeiro porque o nobre consultor está errado na sua interpretação da lei. Segundo, e mais grave, porque o parecer foi publicado na Folha de São Paulo, com destaque na primeira página.
Uma celebridade do campo jurídico empenha sua vasta reputação avalizando um anseio golpista. E a mídia, em plena crise de credibilidade, abraça um juízo discutível para aglutinar apoio à causa de um partido minoritário no Congresso. Dando aos adversários tempo e oportunidade para se reorganizarem em torno de uma pauta poderosa.
Quem correria tanto risco apenas para alimentar as próximas pesquisas de opinião? Gente desesperada, talvez?
Ainda o desespero
O que soa esquisito na campanha pelo impeachment é sua consecução atabalhoada. Não há embasamento legal, estratégia coordenada, senso de oportunidade. Uma causa que poderia ganhar força com o mínimo de esperteza desgasta-se na precipitação e na verborragia fanática.
Serve como prova da inevitável longevidade do espírito golpista, mas para chegar a articulação efetiva falta muita consistência político-social. Nem mesmo a hipótese de que se busca desgastar a imagem de Dilma Rousseff me parece exata como artimanha consciente e organizada.
Por que tanta afoiteza? Meu palpite é que as investigações sobre a Petrobrás atingiram o governo FHC e até alguns membros da cúpula tucana, além de parlamentares de outras legendas. E que esse fato chegou aos ouvidos prestigiados pelos vazamentos seletivos do Judiciário.
A Lava Jato possui dois desfechos possíveis: uma desmoralizante pizza de manobras judiciais ou um terremoto multipartidário de proporções inéditas. Em ambos os casos o PT deixará o foco dos ataques, com chance de reverter o ônus à sua imagem.
Os astutos já perceberam que a sanha justiceira da oposição pode se transformar na sua própria tragédia. Nesse contexto, a absurda pauta do impeachment parece mais fruto de temor do que de convicção.
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