A PF na ribalta

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Guilherme Scalzilli · Campinas, SP
20/11/2014 · 0 · 0
 

Publicado em Brasil 247

As prisões dos executivos de grandes empresas servem para abafar as denúncias contra a atuação tendenciosa da Polícia Federal na Operação Lava Jato. A pirotecnia do gesto é proporcional à gravidade da suspeita: o partidarismo explícito dos delegados na campanha eleitoral sugere cumplicidade com a atuação criminosa da revista Veja às vésperas do segundo turno.

Ainda que a operação estivesse sendo organizada há tempos, seu oportunismo e sua teatralidade são inegáveis e sintomáticos. Atingir grandes empresas não garante o rigor ou a imparcialidade de qualquer procedimento jurídico. Os mandados foram expedidos pelo mesmo juiz que permitiu os vazamentos seletivos das delações dos bandidos em plena disputa presidencial. Só isso coloca toda a investigação em cheque.

Independente de culpas reais e apelos pedagógicos, as prisões parecem desnecessárias e até meio abusivas, como se fossem armadas para resultar juridicamente nulas. Lembram episódios recentes, quando irregularidades técnicas serviram para inutilizar as acusações nas instâncias superiores. Os investigadores “erram†nos detalhes e posam de inimigos do crime; os bacanas passam um aperto ligeiro e alguém depois arquiva tudo.

É tolice, portanto, fazer da Lava Jato um modelo de justiciamento dos “poderososâ€. Os inesgotáveis trâmites processuais do caso sequer começaram. Uma ideia do que vem pela frente pode ser obtida nos inquéritos envolvendo os mensaleiros do PSDB. Quando Joaquim Barbosa dispersou-os pelas catacumbas das varas regionais, também se falava em “passar o país a limpoâ€.

A corrupção sempre possui diversas ramificações e desdobramentos. É fácil imaginar uma rede de contatos unindo a Petrobrás e o Palácio dos Bandeirantes, por exemplo. Mas nenhum juiz paulista ousará averiguar os contratos bilionários que essas empreiteiras mantêm com a administração tucana de São Paulo. As morosas e secretas apurações sobre a máfia dos cartéis fornecem exemplo suficiente de que o moralismo do Judiciário só desperta quando há conveniência política.

O tal doleiro bandido possui laços antigos e notórios com figuras do PSDB e do DEM, mas o vínculo, embora tenha provocado o início das apurações, foi esquecido assim que a Petrobrás surgiu na história. Por que os únicos elos investigados sobre o vasto esquema criminoso são os que envolvem o PT e seus aliados?

A tentativa do governo Dilma Rousseff de aproveitar a boa recepção da Lava Jato é compreensível, tendo em vista a hipocrisia generalizada e o histórico de engavetamentos de seus antecessores. Mas a natureza partidária da operação recomenda prudência. Basta que um ministro do STF incorpore o encosto imperial deixado por Joaquim Barbosa e podemos ter a presidenta metida numa farsa golpista que o PT aplaudiu como se fosse obra sua.

http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com.br/

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