O falso exemplo de Azeredo

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Guilherme Scalzilli · Campinas, SP
23/12/2015 · 0 · 0
 

Publicado no Brasil 247

Analistas da mídia empresarial aplaudem a condenação de Eduardo Azeredo. Segundo eles, a esquerda já não tem motivo para reclamar da perseguição seletiva do Judiciário.

Bobagem da grossa. Continua inexistindo qualquer equilíbrio no tratamento dado a petistas e tucanos pelas cortes. O viés partidarizado manchou jurídica e moralmente os últimos dez anos de combate à corrupção no país. Com danos irreversíveis.

As manobras de Joaquim Barbosa para livrar o PSDB das execuções sumárias no STF anularam as chances de algum membro da sigla ser de fato punido. Em termos práticos, a tal “condenação†de Azeredo significa apenas ele passar o resto da vida em liberdade, ou pouco menos que isso.

E é caso único. Nenhum membro do PSDB foi sequer indiciado por décadas de cartel no metrô paulista. A Lava Jato ignorou as origens da corrupção na Petrobrás para poupar o governo FHC. Poderíamos seguir mencionando a privataria, as sanguessugas, o Banestado, as contas suíças e assim por diante.

O alívio da direita mostra que a sentença contra Azeredo faz parte de um roteiro previsto, seguro e controlado. Figura emblemática do mensalão, sua derrota ao mesmo tempo ameniza a percepção geral da impunidade tucana e é inócua o suficiente para mantê-la inalterada.

Jamais veremos líderes do PSDB conhecerem os rigores punitivos aplicados aos petistas. Um José Serra passar anos no xilindró por “domínio do fato criminosoâ€. Um Aécio Neves entrar algemado no camburão diante da imprensa televisiva. Um assessor de Geraldo Alckmin sofrendo tortura psicológica para delatá-lo.

Em circunstâncias menos assustadoras, isso apontaria para a inocência dos personagens. Mas a questão tornou-se meramente especulativa, pois ninguém ousa investigá-los de verdade, menos ainda com os abusos coercitivos de um Sérgio “Berlusconi†Moro. Assim que o primeiro depoimento sigiloso vazasse incriminando tucanos graúdos, o STF acabaria com a Lava Jato.

Então descobrimos o círculo vicioso das hipóteses que cercam a supremacia judicial do tucanato: a própria omissão do Ministério Público e dos magistrados dificulta mostrar que todos se omitem. Quanto mais politizada e institucional é a crítica ao Judiciário, mais partidária e corporativa é a sua reação.

A armadilha do episódio Azeredo consiste em canalizar o revanchismo petista para uma polêmica de rotos e esfarrapados, desviando as atenções do escandaloso viés partidário das cortes. Este é o debate que urge, e não o constrangimento reversível e tardio de uma figura já desmoralizada.

http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com.br/

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