Um paralelo da FÃsica para a visão Budista das inter-relações entre o homem e o meio-ambiente
1ª. Parte
O homem contemporâneo tem debatido o processo de degradação do meio-ambiente, e da qualidade de vida das populações dos grandes centros urbanos, reduzindo o problema ao tecido superficial do mundo, ou seja, a sociedade civilizada. Na esteira de um conceito de “civilização†que se baseia na extração, beneficiamento, transformação e exploração dos recursos naturais; a sociedade industrial (ou pós-industrial como preferem alguns) se assemelha muito à quele lenhador que serra o próprio galho onde está sentado. Quando finalmente o equilÃbrio natural do ecossistema da bacia de drenagem de um grande rio, juntamente com sua mata ciliar, é devastado, começa-se a falar da “despoluição†e da “limpeza†do rio. Que rio? O rio está morto! Morreu quando o ambiente que o sustentava foi destruÃdo.
Nesta linha de raciocÃnio, natureza e homem excluem-se mutuamente e todas as propostas baseiam-se essencialmente num conjunto de ações do próprio homem, que segue apropriando-se de tudo que encontra na natureza e, com esta, nada compartilha. As inter-relações ou a interdependência entre o homem e o meio-ambiente são freqüentemente esquecidas.
A atitude básica de discriminar o Sujeito (TI) do Objeto (KYO) tem aberto um abismo nas relações do homem com o seu meio-ambiente, na medida em que, através do avanço tecnológico, o mundo se tem transformado ora num imenso laboratório de manipulação dos recursos naturais, ora numa grande usina de beneficiamento e transformação dos mesmos, sob pretexto de melhorar o padrão de vida da humanidade. Pretexto porque ao discriminar o sujeito do objeto, o homem não se enxerga como parte integrante e essencial do seu meio-ambiente, “esquecendo-se†às vezes de incluir-se na própria espécie humana, agindo cegamente em seu próprio interesse.
Uma vez consciente da catástrofe ecológica que se avizinha, por que o homem insiste em perpetrá-la?
A resposta é surpreendentemente simples. O homem tem total “certeza da vida†e dos prazeres que esta pode lhe proporcionar. Entretanto, tem total incerteza sobre a morte e o sentido cósmico de sua existência. Não compreende que a morte não é apenas um fato inevitável a interromper a vida e as suas sensações. A morte é uma (con)seqüência da vida, é uma fase onde o grande balanço dos atos de uma pessoa reflete-se como num espelho. Mas, isto é incerto, como incerta é a vida. Ao separar a vida da morte, o homem tornou-se o maior usurpador de si próprio. Sendo assim, pouco se pode esperar de estratégias que se baseiam nas “ações humanasâ€; pois, a “certeza da vidaâ€, como um fator limitante da visão humana, compromete a ação básica do homem. Nenhuma estratégia pode mudar a sorte de um jogador cujas chances esgotam-se na sua própria ação: jogar.
Torna-se necessária uma nova visão do mundo. Uma nova consciência. Acredito que a semente de uma revolução em grande escala na ética humana esteja no princÃpio Budista de inseparabilidade do ser e seu meio-ambiente (ESHO-FUNI). Ao contrário da atitude básica de discriminar o Sujeito do Objeto, a caracterÃstica mais importante da visão budista do mundo está na consciência da unicidade e inter-relacionamento de todas as coisas e eventos.
Na vida cotidiana, não temos percepção dessa unicidade porque nossa relação de troca com o ambiente segue uma ordem de curto-alcance. Por essa razão, dividimos o mundo em objetos e eventos isolados. Todavia, essa divisão não é uma caracterÃstica fundamental da realidade sob uma ótica de longo-alcance, mas sim, uma abstração necessária para resolver as limitações do intelecto humano, que se baseia na discriminação e na categorização dos fenômenos.
A razão humana, assim mecanizada, experimentou grandes triunfos ao longo dos séculos, em particular no mundo das investigações cientÃficas. A “certeza da vida†e de um “universo constituÃdo de objetos observáveis e manipuláveis†deu origem ao campo primeiramente chamado de “ciência aplicada†e, mais tarde, “tecnologiaâ€. O mundo e a humanidade transformaram-se num imenso campo experimental.
Interessante reflexão sobre a relação homem-natureza sob a perpectiva budista. Aliás, se uma parte significativa da humanidade agisse conforme a sabedoria do budismo não terÃamos tantos desequilÃbrios ecológicos e sim maior harmonia social e ambiental.
Gyothobat · BrasÃlia, DF 17/2/2007 00:52Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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