Breve Resenha CrÃtica
“Separada & Divididaâ€, o Romance-twister de Clélia Gorski
Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar
e a voltar sempre inteira. - CecÃlia Meireles
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Clélia Gorski é uma mulher extremamente bonita e refinada, nascida em Itararé, SP, jornalista, publicitária, com conhecimentos e vivências nas áreas de apresentadora, repórter, editora, produtora, assessora de imprensa, com trampos em canais de tvs como Record, Cultura, Gazeta e mesmo na Rádio Eldorado. Seu romance de estreia “Separada e Dividida†traz tudo isso de vivencial, tudo junto e muito misturado (temperado) na obra, que quando lemos a “dança†dela também feito um twist de escrevivências, vemos um filme passando em nossa cabeça, mas, ao contrário, por exemplo, de Comer, Rezar e Amar, com Clélia Gorski é, literalmente isso mesmo: Correr, Zerar e Amar... Toda vida tem a estatura de uma peregrinação, para que busquemos nossa iluminação toda própria, peculiar, interior, por nossos próprios meios, escolhas, até o conduzimento de situações periclitantes da vida, para, então, evoluirmos e aprendermos com as trilhas, sofrências, erros e acertos, até o nosso refinamento Ãntimo, já que a borboleta nunca pode voltar a ser casulo. Sonhar dói? Alice no paÃs das maravilhas, ou nesse mundo masculinizado em que o coelho diz que somos todos loucos? Ou é quando Alice não mora mais em si, mas no outro, no amor, e na dor, no conhecimento da dor, já que aprender é limar-se, evoluir, ter a iluminura?
"Na impossibilidade das lágrimas, choro tinta", diz um poeta paranaense, cujo nome me foge agora. Mas é mais ou menos por aÃ, o belo historial todo do romance “Separada e Dividida†(Editora Talentos da Literatura Brasileira-SP), da Jornalista Clélia Gorski. A narrativa tem todo um lado twister-escorpião, revelando, desvelando, feito um diário de percurso. Afinal, dançar, costurar, viajar (a logÃstica da sobrevivência possÃvel), cozinhar, planejar, e ser-estar-permanecer mãe acima e sobre todas as coisas, não está pra peixe, sereia, ninfa. E tudo isso, ainda, o lado feminino na florescência de um mundo masculinizado... Pensa que é fácil ser mulher moderna assim? Alice, a personagem central, narradora, meio psicóloga, meio filósofa, é tudo isso e muito mais, e ainda com a sua trilha sonora... no estúdio da alma. Ah a postura açucareira dessas mulheres de alto gabarito, quando sobem nos saltos, e nos ensinam a amar o amor...a sermos e parecermos mais humanos. Mas, como se diz, quando estamos amargos, temos que rebolar, porque o açúcar está no fundo da xÃcara, e temos que mexer com ele, nos adoçando, apesar de tudo. A vaidade é um rÃmel na asa. Contrastes, cores, músicas, correrias, enfrentamentos, e Alice rebola na sua dança sobrevivencial, contando rupturas, amores, recomeços, idas e vindas... Como diria Elis Regina: “dançando na corda bamba sem sombrinhaâ€, e ainda assim estimar, cismar, perquirir, vencer. Já pensou? E toma ioga, boxe, cursos, a reconstrução, a autoestima, a tal da resiliência. Separada e divorciada, dividida é pouco: multiplicada! Mulher moderna e brilhante é isso: precisa refluir a alma pra se coçar, se encantar, se reerguer das cinzas. Trabalha, estuda, faz cursos, musculação, faz esteira, pois é: socada, fatiada, mas nunca desistindo e sempre permanecendo ativa e vencedora, pois é uma mulher acima da média. “Resgatar-se é como dar uma festa, e ser, ao mesmo tempo, o anfitrião e o convidado mais esperadoâ€, disse Marla Queiroz. Pois esse romance da Clélia Gorski, “Separada e Divididaâ€, é exatamente isso, um palco-vida-livro, com holofotes da alma guerreira se pronunciando em todas as palavras, cores, letras e músicas, meio Clarice Lispector, meio Cecilia Meireles, meio Hilda Hist, meio Silvia Plath, meio Cora Coralina, meio Adélia Prado, tudo moÃdo, separado, flechado, escancarado (janelas abertas para o céu da busca?), tudo assim mesmo juntado e costurado com a fibra da peregrinação, a resina da luta, a anilina do tempo, e o próprio perfume de uma lutadora cheia de fé no próprio taco, e, ainda assim, moleca e cheia de graça e amor pra dar. Só as almas de açúcar cristal são felizes depois de tudo?
No livro a narrativa flui, e você embarca, e toma assento das buscas, das estimas, dos conflitos, dos desesperos, da mãe, da mulher, da Alice e sua brincadeira de ser feliz, de sua braveza para vencer etapas, de sua tentativa de conciliar várias situações com o eixo norteador de si mesma, mulher sujeita de seu próprio destino, com todas as enfrentações de percurso, feito um romance-vida que daria um filme, também, tipo assim: “ensina-me a sobreviverâ€. Ah a cara cara-metade, o olhar-se no espelho de Alice, ressentimentos, emoções aflorando, “mulher do século XXI que está prestar a virar pó, de tanto ser aspirada pelas milhares de tarefas a cumprir†(pg 31). As zonas de colisões, de acomodamentos. Você lê a alma da autora no que ela escreve... Ela se desnuda, mas, vencedora, no seu melhor momento. Ah o certo e o errado, as circunstancias e as atitudes, os cuidados e os vazios... a sorte (sorte?)... o destino (destino?) ... encontros e desencantos, correndo riscos, e a mão na massa... pois pinta e borda (vive!), brilha, aqui e ali, a vida de ponta-cabeça, tentando fazer tudo sem começo, meio e fim, e acabar descobrindo que é um elo parte integrante de um todo cósmico que é eterno... e acabar tudo em livro...
Diz Evelin Pestana: “A dor emocional traz em si não apenas o que o outro não foi para nós, mas, sobretudo, o que não fomos para o outro. Entre o que esperávamos do outro e o que esperávamos de nós, nesse entre, podemos encontrar os recursos necessários para fazer da dor, caminhos. Está no "entre dores" a possibilidade de transformar nosso olhar em um olhar amoroso sobre nós mesmosâ€. E depois, como diz Pepino Di Capri, na romântica balada italiana “Il Mondoâ€(citada pela autora no livro): “O mundo//Não parou nunca um momento//A noite persegue sempre o dia//E o dia virá...†Alice não mora mais em si? Separada, fatiada, dividida, flechada, socada, costurada, reconstruÃda (iluminada), Alice não mora mais em si. Mas sua “almamãeâ€, sua alma avelã, mora na alma do mundo, a terra-mãe, ela mesma artesã de sua própria história de vida e de luta; e de conquistas, claro. O “lÃquido que jaz no repouso†(Alquimista da Alma, Poema da autora no livro, pg 186), mostra a obra depurada, liquida e certa, ela mesma, a autora/ (a personagem Alice?), entre a dor e a endorfina, e, romance de estreia, autobiográfico ou não, mas pondo as manguinhas de fora, e altiva – no auge de sua vida-livro - se dizendo presente como criativa escritora, e se assinando também ainda assim como competente romancista. Que aventura, que conto de fadas é a vida de uma mulher especial? Ah, o final feliz é sempre aquele eterno e bendito Recomeçar...
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Silas Corrêa Leite – Poeta, blogueiro, professor, autor de GUTE-GUTE, Barriga Experimental de Repertório, Romance, Editora Autografia, RJ
E-mail: poesilas@terra.com.br - Site: www.artistasdeitarare.blogspot.com/
BOX:
Livro “Separada e Divididaâ€, Romance, 188 páginas
Autora Clélia Gorski, Jornalista, Publicitária
Editora Novo Século/Selo Talentos da Literatura Brasileira, SP, 2015
www.novoseculo.com.br
E-mail: atendimento@novoseculo.com.br
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