O festival de artes visuais “Arte por toda cidade†encheu de cores a paisagem tradicionalmente cinza do sertão da Bahia nos últimos dias 9 e 10 de agosto. Um projeto que atraiu artistas de Salvador, Feira de Santana e território do sisal utilizou os talentos de jovens locais para transformar as paredes de escolas, do Centro Cultural e outros muros do MunicÃpio de Araci, nordeste do Estado, em grandes painéis, pintados ou grafitados. O ponto alto ocorreu no domingo, quando um videomaker nativo, Danilo Victor, reuniu educadores, donas-de-casa, crianças e idosos para assistirem a uma projeção de Video Mapping (animação com fotos e grafismos) sobre a fachada da cinquentenária capelinha da cidade.
Todo o projeto vinha sendo concebido há aproximadamente três meses pelo professor e produtor cultural Pedro Juarez Pinheiro, que conseguiu financiamento da Fundação Cultural do Estado da Bahia, através do edital Calendário das Artes e teve apoio da Secretaria de Cultura local e do Centro Cultural de Araci. Segundo ele, a ideia foi transformar o ambiente urbano em galerias de artes a céu aberto, tornando-o mais sensÃvel e belo, para que isso possa provocar nas pessoas reflexões sobre os temas apresentados através das intervenções, além de promover um encontro entre artistas da cidade e da região.
Compareceram integrantes do coletivo MUSAS (Museu de Street Art de Salvador), grafiteiros de Feira de Santana, artistas da cidade de Serrinha, Teofilândia e Barrocas.
A comunidade reagiu positivamente: “Vai ter gente querendo tirar foto em frente ao carro de boi que fizeram na antiga batedeira de sisalâ€, disse um morador. “Desenharam um coração perfeito em frente à Secretaria de Educação, com todos os detalhesâ€, exclamou outro, com apenas uma ressalva: “pintaram um pássaro de três olhos, não entendi o porquê, deve ser pra olhar pra vários ladosâ€. Num parquinho em praça pública, crianças paravam para ver o trabalho dos grafiteiros e gritavam “vem ver os pichadoresâ€. A secretária de Cultura da cidade, Gauba Rejane elogiou a dinâmica do grupo: “Eles não param nem quando a noite cai!â€.
O artista plástico araciense Gerdson Santos, que dedica a vida a trabalhos de arte-educação, à restauração de imagens sacras e à decoração de festividades, orientou crianças, jovens e alunos na produção de um painel na frente do Centro Cultural. Enquanto não termina, no local, a construção do esperado teatro da cidade, a alegria das cores toma conta do lugar. “Gosto de desenhar à mão livre, sem régua, sem limites. Isso para mim é uma terapiaâ€, afirmou Gerdson. Entusiasmado, ele citou as vantagens que vê no projeto “Arte por toda cidadeâ€, o despertar do interesse na arte, a preservação da juventude contra as drogas e a descoberta de novos talentos. Como educador, ele entende que, mesmo os jovens relegados à marginalidade e à s drogas possuem talentos, e necessitam somente de incentivo para darem vazão à sua criatividade.
Enquanto os artistas pintavam pela cidade, uma oficina de Graffiti com Alan Damasceno, artista de Serrinha, ensinava uma turma a fazer, no papel, seus primeiros rabiscos, no caso, letras (“tagsâ€), que depois levariam aos muros. Alan reconhece que o grafite acaba sendo uma forma de arte cara, devido aos preços dos sprays, por isso repassou também outras técnicas para os alunos da oficina que conduziu.
Acostumados a intervenções em comunidades carentes, os membros do MUSAS (veja mais informações em www.ilovemusas.com) fizeram questão de usar em Araci as mesmas regras que aplicam em outras localidades: talento, utilização de tintas mais baratas e temas modernos, sempre ligados à realidade local.
O fotógrafo Edson Machado, que tem 25 anos de atuação, mora em Feira de Santana e já atuou em outros projetos culturais em Araci, ministrou uma oficina para 20 jovens que conheceram noções de estética fotográfica (composição, enquadramento, contraste etc.) e sua relação com a história da arte. Na tarde de sábado, depois da aula e durante um passeio fotográfico com a turma, Edson ainda não sabia o que podia esperar, mas na manhã do domingo, ao ver, com os alunos, os trabalhos que eles produziram, estava empolgado. “Vamos fazer uma exposição. Continuem produzindo e enviando para o nosso e-mail. Quem sabe a gente faça outra e mais outra exposição na cidadeâ€, arrematou.
Video Mapping - O agricultor octagenário Zezito da Chã, que se tornou mais conhecido na cidade depois que seu livro de poemas rurais foi publicado pelo Centro Cultural de Araci, enfrentou o frio da noite de domingo (19º C, com sensação térmica de 17º C, no sertão é como neve) para assistir a uma maravilha do mundo moderno. Não se arrependeu. A projeção do videomaker Danilo Victor alternou fotografias em preto e branco dos antigos moradores, paisagens da história da cidade, registros da cultura popular e outras animações bem ao gosto do húngaro Victor Vasarely, e juntou tudo isso com uma mixagem que ia desde o forró à techno music.
A exibição ao ar livre, que começou e foi concluÃda com a projeção de estrelas, tema preferido de Danilo Victor, conquistou o público. Não faltaram convites para que ele repetisse a mostra ou levasse o trabalho para outros espaços. Victor explicou que para cada ambiente é preciso uma produção diferente, e não se fez de rogado: “Mas pode agendar, eu faço de novo, quero investir nessa técnicaâ€. No fim da noite os integrantes do “MUSASâ€, foi fazer um novo grafite nas paredes de Araci.
Por Franklin Carvalho
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