SEXTAS CRÔNICAS:

Falar o que pensa é uma virtude ou uma azar desgraçado?
Sinto inveja das pessoas que conseguem expressar tudo o que sentem no momento certo, sem rodeios, que conseguem responder sem culpa a perguntas como:
–Você gostou?
–Não.
Essa virtude tem seu preço. Se você prestar atenção ao seu redor poderá contar nos dedos os amigos presentes em sua vida, também, quem é que vai aturar uma pessoa incapaz de uma mentirinha de vez em quando?
Existem pessoas que são transparentes. O termômetro é o seu rosto. Quando não gostam de algo podem até driblar com as palavras, mas o rosto entrega toda a verdade. Essas pessoas ainda conservam alguns amigos devido aos seus dribles, pois nem todo mundo é capaz de perceber o que está estampado em uma face, de sentir o tom de uma fala, assim como o deficiente visual que consegue perceber a verdade apenas no tom da voz.
A política é onde encontramos um ótimo campo para desenvolvermos a leitura facial, a percepção de sentimentos através da fala, pois não existe nesse mundo figura mais cara-de-pau e mentirosa do que os políticos.
Outro dia parei em um sinal próximo de casa, ao lado de um carro de som. Aliás, o que mais se vê nas ruas são carros de som, muito mais que os imprescindíveis amarelinhos. O homem que estava ao volante me olhou, deu um forçado sorriso, abaixou o volume e disse gesticulando e-xa-ge-ra-da-men-te:
-Esse sou eu! Esse do som, tá ouvindo...
Como se eu fosse surdo...
- ...vou melhorar a cidade...
Ôpa, já começou a cascata...
- ...sou a favor dos lotação...
Acreditem, DOS LO-TA-ÇÃO...
- ... se você quer votar em um candidato honesto...
Chega! Vou poupar vocês do resto do discurso, mas o que me impressiona é que mesmo com toda essa mentira estampada na cara-de-pau deste infeliz, pode ter certeza que conseguirá muitos votos.
Mentiras sinceras me interessam..., são necessárias, elas precisam existir para que haja uma harmonia entre a espécie humana. Nós precisamos da mentira. Já pensou se vivêssemos em uma sociedade onde a verdade fosse algo tão comum e que a mentira tivesse sido abolida há séculos? Quando a esposa perguntasse ao marido:
- Você acha que eu tô gorda?
Lógico que a resposta seria:
- Sim.
E aqui jaz um marido.
Está vendo, nós precisamos da mentira. Até mesmo para a preservação da espécie.
Eu ainda estou em processo evolutivo, não consigo dizer na cara tudo que penso, saio pela tangente, mas em compensação meu rosto não consegue enganar. Isso seria uma virtude ou uma sorte danada? Já pensou falar tudo que penso e ainda por cima deixar evidente a minha opinião sincera dos fatos bem estampados na minha cara?
Sinceramente, esse texto hoje seria psicografado.

Marcelo Perez
wwwsextascronicas.blogspot.com