Júlio César e Cláudia chegaram cedo ao Anfiteatro do Centro Cultural Dragão do Mar. Júlio César é mineiro e trabalha como pedagogo; Cláudia, carioca e tem como profissão a Enfermagem. São casados e residem no Ceará há seis anos. Pela segunda vez, participariam do Festival Latino Americano da Diversidade Cultural, o Tangolomango. “Ano passado viemos por acaso. Esse ano procuramos informações desde que saÃram as inscrições para o evento.†– afirmou Júlio César, quando perguntei sobre como ficaram sabendo do Festival. A expectativa era de que o Festival mantivesse a diversidade, o hibridismo do ano anterior. Para Cláudia, o mais importante era a oportunidade de união de culturas tão diferentes.
Lucas Igor Cavalcante é estudante de Informática do Instituto Federal do Ceará (IFCE). Cursa o sétimo semestre do curso, mas ainda tem dúvidas quanto ao prazer da futura profissão. Confessa que tem uma tendência à área de humanas; Jornalismo talvez. Lucas era uma das primeiras pessoas da fila de entrada para o Tangolomango. Era a primeira vez que veria o espetáculo e ainda não sabia ao certo do que se tratava, mas sabia que tinha algo do seu agrado lá: “Tudo que vejo como fusão em música me agrada.†– disse o estudante, para justificar por que tinha optado pelo evento, após ver a programação do Centro Dragão do Mar. “O Brasil já é uma mistura.†– enfatizou Lucas.
O dia do Tangolomango 2010 coincidiu com o dia do aniversário de Geovana de Souza. Durante a entrevista, a mãe da garotinha, Daniellen de Souza, lembrou à filha um detalhe importante: “Agora você tem que dizer que tem sete anos.â€. Perguntei à Geovana se ela sabia o que estava esperando naquela fila, ela disse: Vou assistir ao Tangolomango! – e sorriu empolgada. Mas você sabe o que é o Tangolomango? – questionei, testando Geovana. Ela olhou para a mãe e balançou a cabeça negativamente. Mãe e filha estavam a passeio na capital do Ceará. Moram no Rio de Janeiro, e essa era a primeira vez que ouviam falar no evento. Não imaginavam que, entre os grupos, um deles era conterrâneo delas.
Júlio César, Cláudia, Lucas, Geovana e Daniellen. Pessoas que não se conhecem, que pouco têm caracterÃsticas em comum, mas que, naquela noite, em especial, estavam unidas por um mesmo interesse: presenciar a mágica da diversidade cultural. Sem perceber, eles já eram parte do espetáculo que estava por acontecer. Pouco antes de começar o show, Lucas fez um comentário: “As pessoas devem achar estranho eu aqui com a camisa do Iron Maiden (banda inglesa de heavy metal).â€. Ele ainda não havia captado a ideia de que os diferentes gostos em um só lugar é via de regra no Tangolomango.
O espetáculo estava marcado para as 20 horas, do dia 07 de agosto. Após liberarem a entrada, rapidamente os 650 lugares do Anfiteatro foram ocupados, além das dezenas de pessoas que se amontoavam no lado de fora para assistir ao show que começaria em breve. A expectativa para o que aconteceria no palco era enorme. Para aumentar mais ainda a ansiedade, André Feijão, da CIA Urbana de Dança/RJ, me falou animado: “Pode aguardar o espetáculo. A idéia é essa, uma surpresa para surpreender.â€.
Dito e feito. A surpresa me surpreendeu. E não só a mim. A todos que estavam lá. O público foi saudado pelo Legatto 7 à s 20 horas e 30 minutos. Tinha inÃcio a 3a edição do Tangolomango na cidade de Fortaleza. A alegria tomou conta do público com o grupo colombiano cantando “que la vida es um carnaval y és más bello vivir cantandoâ€.
Depois da beleza da música a capella, o ritmo começou a ficar bem familiar. Reconheci logo a “pegada quente†do nordeste ao som da Zabumba. Era Di Freitas que ocupava seu lugar no espetáculo. Em pouco tempo, as cordas desceram no palco, e chegou El Circo Del Mundo com sua arte circense. E não podia faltar um mestre. Foi a vez de brincar de boi com Mestre Zé Pio e o grupo Boi Terra e Mar, fundado por ele. Ao meu lado, Lucas tirou as palavras da minha mente: “Isso é muito incrÃvel, não é?!†– comentou encantado.
A festa era bonita no palco quando, no meio da multidão, surgiu mais um dos grandes: Mestre Raimundo Aniceto e a tradicionalÃssima Banda Cabaçal dos Irmãos Anicetos, em atividade há 50 anos. O grupo subiu ao palco e alguém anunciou: “A briga do galo!â€. Momento em que dois dos músicos do grupo se digladiam, como galos de briga, com facões na mão como se fossem os esporões. MagnÃfico!
Perguntei a André Feijão o que um dançarino de dança de rua tinha a dizer sobre a briga de galo. Sabe o que ele disse?
– FANTÃSTICO! – respondeu o dançarino, empolgado.
Onde estava Feijão segundos depois de responder minha pergunta? Dividindo o palco com os malabaristas d’El Circo Del Mundo.
Um dos momentos mais lindos aconteceu logo em seguida: Legatto 7, CIA Urbana de Dança e Nova Saga/BA uniram música a capella, música rapper e dança numa perfomance belÃssima.
Definitivamente, eles eram como as cores da iluminação do palco: cada luz com cor e beleza singular, mas acrescida de magnificência quando unida à s outras. Um verdadeiro arco-Ãris cujo pote de ouro estava bem diante do público.
Legatto 7 fez o som para a CIA Urbana de Dança mostrar a arte da dança urbana. Logo depois, Di Freitas lança sua música; o desafio da CIA passou a ser com a música do Brasil. E os mestres tomaram de conta do espetáculo com o grupo de dança. Primeiro foi a vez de Mestre Raimundo Aniceto e a Banda Cabaçal mostrar aos jovens da CIA Urbana de Dança todo o vigor do homem do sertão. Depois, Mestre Antônio, do grupo de Di Freitas, com seus cabelos grisalhos, botou o grupo de dança para sapatear. E não podia faltar Mestre Zé Pio, o cearense subiu ao palco novamente e deu inÃcio aos versos em prosa. Lindos de se ouvir.
O Tangolomango 2010 estava consolidado! Não havia diferenças, havia festa e alegria. O público entrou na dança pedindo mais. A vontade era de que o espetáculo continuasse por toda a noite. A energia era contagiante. Não tinha como não sentir a emoção de estar ali tangolomangueando!
Ao meu lado, tudo o que Lucas conseguiu expressar diante da festa que presenciávamos foi que aquilo era sensacional. Lembra-se da Geovana e de sua mãe, Daniellen? Estavam algumas fileiras atrás de mim. Adoraram o Tangolomango. Perguntei à Geovana se tinha valido à pena comemorar o aniversário no Festival. Com um sorriso enorme, ela me respondeu confiante que sim! Não encontrei novamente Júlio César e Cláudia em meio à animação do público, mas não tenho dúvidas de que gostaram, tanto quanto do primeiro, de ver, “em um só contexto, vários textos diferentesâ€.
Foi uma noite memorável.
Opa, Jéssica,
Que bacana seu texto. As pÃlulas sobre cada expectador estão ótimas. O que mais gostei foi o tom de expectativa mesmo na tua percepção sobre a fala de cada um: mas ele não sabia ainda o que estava por vir, mas ela ainda não viu nada. Ficou uma boa brincadeira.
E, no final, o intercâmbio entre o teu texto e a foto do Gleydson também combinaram bem. :)
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