The Tupiniquins From Gringolândia 01

psychojoanes
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Psychojoanes · São Domingos do Prata, MG
26/11/2007 · 99 · 1
 

Hoje em dia há um novo tipo de música brasileira em voga no mundo. Aquela que não é feita por gente daqui, ou aqui. Isso mesmo, ao contrário do que acontecia há 20 anos atrás, hoje em dia são as bandas estrangeiras que produzem material inspirado em nossa sonoridade. Aquela batucada e violada mesmo, que muita gente nunca deu muito valor. Não que a babação de ovo que críticos estrangeiros estão dando a nós seja a coisa mais fantástica da história da MPB, o negócio é que faz um tempo que observo nossas influências lá fora.

Até onde eu sei nosso som foi pra vitrine quando Carmen Miranda seguiu pra viver em Hollywood e gravou diversos sambas brasileiros em formato pasteurizado. Ela influenciou o maior cantor americano das décadas de 1930 e 1940, Bing Crosby,a gravar Na Baixa do Sapateiro, de Ary Barroso (obviamente a versão era cantada em inglês). Depois, já na década de1960, Tom Jobim ladeou Frank Sinatra por uma turnê em que o cantor do século cantou sucessos bossanovísticos, resultando num álbum de grande sucesso, Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim.

Durantes as décadas de 1960 e 1970 o registro mais evidente que eu tenho de outros povos bebendo na nossa fonte é através do multifacetado artista francês Serge Gainsbourg, numa exaltação ao maior poeta maldito de seu povo, em Baudelaire. Já nos fins do século XX, a engajada banda de ragga Fabulous Troubadors, também vinda da terra de Asterix apareceu com o CD On The Linha Imaginot, citando Maria Bonita e fazendo dueto com um coro nordestino no improvável forragga Cançon de la Prima. Porém, ao citar estes galícios engajados, não poderia esquecer do grande Massilia Sound System, uma das mais tradicionais bandas de raggamufin de seu país. Em 2002, quando estavam pesquisando a origem dos trovadores franceses e seu legado, descobriram no nordeste brasileiro os últimos herdeiros dos bardos medievais - os repentistas - resultando no magistral album Occitanista, que conta com a participação de Lenine e Nação Zumbi. Mas de todos esses franceses que fizeram música brasileira de alguma maneira, aqui, o mais famoso deles, sem dúvida, é Manu Chao, que em certo momento de sua vida, chegou a viver em algumas cidades brasileiras. Um de seus maiores sucessos é cantado em português, e já foi até gravada pelo mundo livre s/a, a descolada Minha Galera.

Engraçado que hoje em dia, até brasileiro que vai morar na Gringolândia vira gringo. Como assim? Este é o caso dos imigrantes brasucas radicados em Nova Iorque e seu guitarrista ianque, membros do Forró in the Dark, que após fazerem sucesso sem querer na Big Apple, foram apadrinhados por um dos primeiros famosos ianques a apostar nos sons do Brasil, o ex-Talking Head David Byrne, que cantou duas músicas no álbum deles. A ex-integrante da banda Cibo Matto, Miho Hatari, também participa numa versão em japonês do clássico de Gonzagão, Paraíba.

Lembrei quando em mil novecentos e noventa e poucos, o Paul Simon apresentou o Olodum pro mundo (isso passou até no Cansástico) num videoclip gravado no Pelourinho, como se a música brasileira fosse a salvação do mundo. Hoje em dia a cada piscada, aparece mais uma dessas bandas de world music gringas, que chegam aqui e saem recrutando percussionista brasileiro pra dar uma sonoridade 'tropical' ao seu som. Isso é bom? Só sei que quem recrutou o mesmo Olodum como decoração e veio aqui pra aproveitar de nossa imagem foi o Michael Jackson, que subiu o morro do Santa Marta na gravação de seu videolip-denúncia-social (hahaha) e ainda conseguiu fazer o Marcinho VP ficar famoso.

Já Mike Patton, conheceu a glória quando cantava com o Faith No More aqui por nossas plagas antes mesmo deles serem famosos em sua própria terra, o que pode ter influenciado-os a gravar em seu penúltimo disco a bossanova com refrão em 'portosquês', Caralho Voador. Depois houveram flertes dos outros projetos do senhor 10.000 vozes com nossa sonoridade, desde a balada-tosca Desastre Natural, do Tomahawk, ao trip-bossa Caipirinha, em que faz dueto com a onipresente Bebel Gilberto no recente Peeping Tom. Desse tipo de parceria de nomes estabelecidos do hemisfério norte com brasileiros, não poderia deixar de lembrar do Asian Dub Foundation, que após passarem numa ótima turnê pelo Brasil em 2001, firmaram parceria com Edy Rock, dos Racionais MC's e fizeram um som tipicamente deles em 19 Rebellions, com letra denunciando o massacre dos 111 presos executados no Carandiru, escrita pelo rapper Gog.

Nem mesmo o movimento pernambucano Manguebeat deixou de ter seus seguidores pelos mares do mundo, como é o caso dos escoceses não bem-sucedidos do Bloco Vomit, que homenageiam o ídolo Chico Science e tocam canções notórias do punk rock em ritmo de maracatu e até de axé, como é o caso de Shoul I Stay or Should I Go, do The Clash. Já o Nation Beat, era uma banda maracatu de Nova Iorque que veio para o Brasil e gravou um disco com misturas de country, jazz, côco e música regional recheado de convidados pernambucanos . Como estava falando dos covers maracapunks meio de mau gosto, agora, digo dos covers de bom gosto dos franceses Nouvelle Vague, releituras de clássicos rockeiros dos anos 1970/80 em ritmo de bossa nova.

(Continua, em mais duas partes...Faltou falar de rap, jazz, outras bandas européias e mais qualquer coisa que vocês podem sugerir).

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Roberto Maxwell
 

Olá, rapaz. Excelente artigo. Vou procurar essa banda de Nova York. Aqui no Japão há muita gente produzindo música com referencias que vieram daí. Assim como há gente ai produzindo arte com referencias daqui. No fundo, cultura é um bem da Humanidade. Essa divisão em fronteiras nacionais é fake, nós sabemos disso.

Roberto Maxwell · Japão , WW 26/11/2007 16:10
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