As Diferenças que se Igualam

Quando ainda não houve o primeiro contato, a primeira impressão que de fato se tem é- a última que restará de um relacionamento que começa a se descrever, e tão naturalmente quanto todas as impressões que se deram antes do primeiro contato. E é surpreendente como caem as máscaras, uma a uma, pouco a pouco, e assim nos despimos todos, uns mais, outros menos, até percebermos o quanto não somos intransponíveis, o quanto não somos o que as primeiras impressões assinalavam, e aprendemos finalmente que não devemos, nunca, prejulgar.
Porém, nada há de mais enriquecedor nessa dinâmica do que a franca percepção de que só o convívio aberto, transparente, despojado é condição essencial à manutenção do grupo. Uma vez que se desmistificara a primeira impressão, que se transpuseram as primeiras barreiras, resta tão-somente o que cada um se fez parecer, e é impressionante como a cada momento cada um se fará descobrir, ao ponto de todos perceberem o quanto são iguais num universo de tantas diferenças. O que fica é a certeza de que somos simplesmente humanos e perfeitamente sociáveis. Russeau já dizia que “o homem é perfeitamente bom, a sociedade é que o corrompe�. A sociedade corrompe o homem porque é a partir do convívio social que se dá o choque das diferenças, e é exatamente essa “corrupção� que quebra as barreiras que nos separam uns dos outros, porque são culturas que se chocam, e nivelamos nossas diferenças a ponto de percebermos o quanto somos iguais, e que, por isso mesmo, o quanto precisamos respirar uns aos outros, porque temos os mesmos imperativos, os mesmos medos, as mesmas aversões, os mesmos acanhamentos, e fica por fim a lição de que ninguém, definitivamente, é pior ou melhor, mas tão igual quanto, e as diferenças que nos igualam é o que de melhor podemos oferecer uns aos outros.