Rita Queiroz é considerada, não por menos, a pioneira das artes plásticas em Porto Velho. Naquela época, meados da década de 60, porém, pouco se falava de grandes obras de arte na região, mas havia personagens como o Pe. Ângelo Cerri, Afonso Legório, Canavarro e Fona, cada um no seu estilo. Nascida no distrito de Santa Catarina, no meio do seringal, entre São Carlos e Calama, no baixo Madeira, Rita descobriu na pintura um novo caminho a seguir. E seguiu. Mas somente aos 37 anos, quando viajou ao Rio de Janeiro e começou a ter aulas com a artista plástica Cléria Barbosa, onde no mesmo ano, em 78, foi lançada pelo crÃtico de arte Clarival do Prado Valadares para representar as artes negras. Era o seu primeiro passo...Hoje são mais de 30 anos de carreira.
Sempre buscando levar a realidade, as belezas e os encantos da vida amazônica, Rita Queiroz retorna a Porto Velho, em 80, mas é convidada para participar da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Portugal. “O mais engraçado foram os portugueses imaginando que a Amazônia fazia parte da Ãfrica. Na verdade, lembra Rita, era a primeira vez que a Amazônia era exposta por obras de artes, através de telas que retratavam, principalmente, os ribeirinhosâ€.
“Sua pintura alcança, à s vezes, momentos de lirismo; são versos pintados. A ela interessa o corpo do barco, o corpo do tempo, o corpo da mulher, o corpo de tudo o mais, que saindo de sua paleta, toma corpo. Naturalismo em estado puro. Para a natureza, respeita-a, procurando o seu lado ecológicoâ€, era como analisava o crÃtico de arte Domingos de Azevedo, do jornal português O Tempo.
Ainda na década de 80, com extensos trabalhos expostos também pelo Brasil, ela volta para Porto Velho e abre um ateliê no seu próprio apartamento, no antigo Ed. Rio Madeira, onde conheceu outros artistas que já trabalhavam por essas bandas. Começava, então, o Primeiro Movimento Cultural – projeto patrocinado pelo Governo que reunia não só artistas plásticos, mas atores, cantores e expressionistas daquela época. “Da literatura ao teatro de ruaâ€, diz Rita ao lembrar daquelas tardes na Estrada de Ferro Madeira – Mamoré, onde aconteciam os encontros.
Zoghbi e o projeto Urucum
Foi quando o desenhista, artista plástico e escultor João Zoghbi, em 83, após fazer arte para vender na rua, teve sua pintura exibida durante três anos na capa da Listel. “Até hoje lembro quais foram, respectivamente: a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o seringueiro e os Ãndiosâ€, recorda Zoghbi, chargista há mais de quinze anos num jornal impresso local. Foi dele a idealização do projeto Urucum, em 87, que também abriu portas para artistas imigrantes, vindos de Manaus, São Paulo, Rio de Janeiro e BolÃvia. “Naquela época, havia várias dificuldades e a matéria-prima era uma delas, principalmente a matéria-primaâ€, diz Zoghbi que, assim como outros artistas, criava tintas através do açaÃ, jenipapo e carvão.
Em 1990, o cenário das artes plásticas estava consolidado. De vários pontos do Brasil, vários cursos e professores chegavam a Porto Velho para artistas que buscavam mais conhecimento, ou até mesmo voltados para iniciantes. Queriam aprender novas técnicas. Do Maranhão, por exemplo, veio a escultura na argila e cimento armado. No entanto, segundo Rita, com a chegada do Salão de Artes Plásticas de Rondônia – o SART – a cidade ganhava ‘uma espécie de escola artÃstica, aquela que não existe até hoje’, diz a artista inconformada com a ausência de uma escola ou mesmo um curso universitário de artes. Indagada sobre qual seria o possÃvel motivo deste impasse, Rita é direta: “É pura falta de conhecimento. Gente que não sabe e nunca sentiu o que é a arte, independente de qual sejaâ€. Pra comprovar que ela não está errada, há dois anos o SART não é realizado e sabe-se lá por qual motivo. “É lamentável assistir a essa cena porque nosso movimento sempre foi muito forte desde o começo, mas como qualquer projeto cultural é necessário apoio. Infelizmente isso não vem acontecendoâ€, completa.
No ano passado, Rita e Zoghbi participaram da exposição coletiva “Amazônia – Universo em 4â€, que contou com os artistas plásticos Geraldo Cruz e Gilson Castro. Foram exibidos diferentes olhares sobre a cultura dos ribeirinhos, suas belezas e mistérios, como o ‘Boto’, ‘Curupira’, ‘Cobra que Mama’, e tantos outros personagens e histórias que enriquecem o folclore amazônico.
Os dois estão com planos para 2007. Rita está desenvolvendo o projeto ‘Minhas Andanças’, cuja finalidade é expor seus trabalhos as comunidades do Baixo Madeira, nos distritos de São Carlos, Nazaré e Santa Catarina, no seringal, além de oficinas para técnicas como mosaico, fusão em vidro, alumÃnio amassado e escultura. Zoghbi, por sua vez, deve lançar seu site www.artegaleria.net até o inicio de fevereiro. O objetivo é integração de novos artistas regionais, a exposição de seus trabalhos e a venda de suas obras.
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