Como diz na letra da música Selvagem?, todos apresentam armas. Dos policiais, cacetetes; dos negros, esperteza; dos políticos, discurso; das cidades, caos. João Barone também apresenta suas armas: baquetas e música. "As baquetas mais rápidas da américa latina" presta um bom serviço à música brasileira e da américa latina há mais de 25 anos. Além dos Paralamas do Sucesso, contribuiu em trabalhos de gente como Rita Lee, Titãs, Kid Abelha, Lenine e Ed Motta. Vale lembrar que Barone também foi o (ir)responsável por criar um dos hits mais engraçados dos Paralamas, o Melô do Marinheiro.
Elefante Bu - Tem gente em Brasília que fala até hoje, e jura de pé junto, que os Paralamas do Sucesso é uma banda que nasceu na capital. Você como o integrante que nunca morou na cidade se diverte com essa história? O que acha dessa requisição de posse regional de uma cidade que ainda busca identidade e ídolos?
João Barone - Herbert e Bi começaram a se interessar por música aí em Brasília, de alguma forma a "gênese musical" dos Paralamas passa por aí, ainda mais quando a mesma turma do Bi e Herbert tinha gente como Renato Russo, Dinho, Dado dentre outros amigos. Assim, quando começamos, era mais "apelativo" dizer que viemos de Brasília do que da Universidade Rural, no distrito de Seropédica, zona oeste do Rio, onde Os Paralamas se conheceram e se apresentaram pela primeira vez na história. Só depois veio o Circo Voador e a Rádio Fluminense FM. Ainda por cima, agora somos cidadãos honorários de Brasília, uma homenagem justa para quem sempre amou esta cidade com seus lados bons e ruins e ajudou a colocá-la no mapa da música no Brasil.
Elebu - Sobre a carreira dos Paralamas, Selvagem? é considerado um dos discos mais importantes e revolucionários dos anos 80. A parte do "importante" é indiscutível, mas você o considera o disco mais revolucionário da banda?
Barone - Talvez a gente nunca tenha esse distanciamento para afirmar isso, mas sentimos até hoje que este álbum foi muito marcante, uma guinada estética, na música e no discurso. Deixamos de ser aquela banda engraçada cantando Óculos para arriscar um Alagados e ver o que acontecia. Deu certo.
Elebu - Qual foi o seu maior momento de glória na terra dos hermanos? Ainda há planos de prosseguir com a carreira internacional com discos em espanhol?
Barone - São várias histórias. O jornal El Clarin já nos explicou como "a melhor banda argentina que canta em português". As pessoas quando nos reconhecem na rua, nos chamam por "maestro!". Várias vezes entramos em restaurantes de Buenos Aires depois de shows e as pessoas batiam palmas quando nos viam. Coisas assim.
Elebu - E no período de hiato dos Paralamas, você tocou com outras pessoas, o mais emblemático nesse período foi com a Rita Lee. Dá para ficar plenamente realizado quando você deixa temporariamente o seu trabalho para colaborar com de outra pessoa, mesmo sendo alguém tão grande quanto a Rita?
Barone - Bem, a Rita me chamou e eu não deixei de ser eu mesmo. Rsrs! Mas certamente tive que me adequar ao trabalho dela, tocar menos pesado, por exemplo. Quem me chama para gravar ou tocar sabe que vai ser o João Barone dos Paralamas acertando tambores e pratos. Ninguém me chama para tocar diferente do que eu toco, se não, chamariam outro músico. Mas rolam algumas sutilezas no processo.
Elebu - Depois de 25 anos de carreira, milhões de discos vendidos, músicas que deixaram o patamar do hit e viraram clássicos de fato, sucesso continental, livros foram escritos, foram tema de teses acadêmicas, e mais nada a provar... qual é o maior desafio não apenas dos Paralamas do Sucesso, como também seu, como músico?
Barone - Ainda estamos querendo muito. Se depender da nossa empolgação, aquela chama inicial que está acesa desde o começo da banda vai queimar ainda por muito tempo. Por exemplo, estamos preparando um novo álbum de inéditas, que deve sair no começo do segundo semestre. Hoje, mais que nunca, um novo álbum é começar do zero novamente, o que é muito edificante e desafiador para nós.
Elebu - Vocês sempre conviveram muito bem com novas bandas, deram força para muitas delas. Dá para citar a Nação Zumbi até shows em parceria com a Los Hermanos. O que é mais legal nessa troca de estilos e de gerações?
Barone - Sempre inspirador ver o novo surgindo. Em 1985, participamos de um show em homenagem aos 20 anos de carreira do Gil. Pensávamos: chegaremos lá? Hoje, nós estamos com 25 anos de estrada. A Rita mesmo está com 40 anos de estrada! Vimos muitas bandas e artistas indo e vindo, outros ficando. Muita gente vem nos pagar respeito, é sempre uma honra receber este tipo de consideração. Somos velhos vampiros, ou o personagem Highlander.
Elebu - Temos bandas emos dominando o rock, novas cantoras da MPB fazendo sucesso, independentes que ainda não conseguiram boa visibilidade, um novo mercado de música, internet, youtube... qual é o futuro próximo que você vislumbra para a música brasileira?
Barone - Acho que os shows e apresentações são e serão os diferenciais para manter a música viva. Pirataria e downloads podem ter mexido com o mercado fonográfico, mas o show business vai se fortificar cada vez mais. Tudo bem ouvir e ver música na tela do computador, no home theater, no dvd ou na tv paga, mas todos querem ver música ao vivo, real, no palco, e isso ninguém vai substituir por nada.
Esta estrevista estrevista foi publicada originalmente do fanzine Elefante Bu. Confira a matéria e a entrevista completa por lá.
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