Desfecho do caso José Cláudio e Maria

Por: Redação NINJA

"Foi como se José Cláudio e Maria fossem assassinados pela segunda vez", afirma Claudelice, irmã de José Cláudio. O julgamento que condenou os executores Lindonjonson Silva e Alberto Nascimento, absolveu o acusado de ser o mandante do crime, José Rodrigues, em uma cruel surpresa para os familiares do casal. Laísa, irmã de Maria, ficou emocionada e não conseguiu comentar nada assim que recebeu o veredicto. Foram 2 dias de julgamento, com forte acompanhamento dos familiares e movimentos sociais em defesa dos direitos humanos e ambientais.

Os trabalhos no Fórum Cível de Marabá aconteceram a portas fechadas para a imprensa no primeiro dia, 03. Mesmo sendo um julgamento público, o Juiz Murilo Lemos Simão vetou qualquer registro de imagem dentro do júri. Com o depoimento de 9 testemunhas e dos 3 acusados, o julgamento teve cerca quase 24 horas. A irmã de Maria, Laisa dos Santos, foi a primeira que pediu a presença dos acusados durante seu depoimento. Laisa foi incisiva ao citar diretamente não somente o nome de José Rodrigues como o principal suspeito de ter ordenado o assassinato do casal. Após depor, ela afirmou à imprensa que continua sendo ameaçada de morte, e que nos últimos dias antes do ínicio do julgamento vinha recebendo ligações de desconhecidos tentando reprimir suas declarações, avisando-a que tomasse cuidado com o que fosse falar em júri. "Eu não tive medo de vir depor, tenho medo da volta", declarou.

Nilton José Ferreira dos Santos, uma das testemunhas ouvidas ontem, reconheceu no tribunal Lindonjonson Silva Rocha como o piloto da moto que foi utilizada no crime. Outro momento nos depoimentos que causou polêmica durante o julgamento foram as declarações de Joeuza Pereira da Silva, que chegou a ser inquirida pela promotoria por falso testemunho, devido a inconsistência de suas declarações em favor dos reús, não conseguindo conjugar os fatos e apresentar argumentos sólidos que indicasse que Lindonjonson estava em outro lugar no dia do crime.

Os 4 depoimentos feitos pelas testemunhas de defesa dos réus deixou clara a linha de condução dos advogados dos 3 acusados, que querem passar o ambientalista assassinado de vítima para acusado.

A alegação da defesa dos réus é que Zé Cláudio possuía muitos inimigos e os assassinos poderiam ser qualquer pessoa menos Lindonjonson e os irmãos Alberto e José Rodrigues acusados no julgamento de serem os assassinos do casal. José Rodrigues chegou a se ajoelhar em frente ao júri, chorou e pediu ajuda Deus para que Ele o livrasse da prisão. Reiteradas vezes falou que era um trabalhador e apelou para os filhos que estava na plateia do Fórum.

O segundo dia do julgamento se caracterizou pela intensidade das 4 horas de debate que antecederam ao veredicto. O processo foi encurtado pelo fato da acusação abrir mão da réplica, o que acelerou o resultado da resolução do júri. A decisão do júri foi de que Lindonjonson Silva e Alberto Nascimento são culpados pelo homicídio do casal de extrativistas, e que José Rodrigues, acusado de ser o mandante do crime, é inocente por "falta de provas". O resultado causou comoção nos familiares e nos diversos movimentos que aguardavam em vigília foram do Fórum de Marabá, que invadiram a BR Transamazônica, atiraram pedras e interviram nas paredes e vidraças do Fórum onde aconteceu o julgamento.

Segundo o Ministério Público do Pará a decisão do júri em relação a José Rodrigues é controversa, por entender que "não existiria o crime sem um mandante". A promotoria de acusação já anunciou em plenária que irá recorrer do resultado da absolvição de José Rodrigues buscando anular o seu julgamento. "Esse processo deve levar no mínimo 6 meses" afirma Batista Afonso advogado auxiliar da promotoria e dirigente da Comissão Pastoral da Terra.

As famílias das vítimas se unem para que a morte de Zé Cláudio e Maria "não tenha sido em vão". Como se cantava na noite do veredicto: "Maria, José, a luta segue em pé!"