Algumas vezes, certas palavras que usamos, no habitual dia a dia, revelam um modo de enxergar fatalmente o mundo. Entre algumas das palavras que tento não usar estão “nunca†e “sempreâ€. Digo isso pois parecem dar um sentido temporal que vai além do tempo, mais do que certo perÃodo. Contudo, e para ser justo, nunca imaginei o Teatro Entre & Vista sem a presença de seu lÃder Mór, Eros Conceição. E assim o é...
Como aquela música, Noite dos Mascarados, o carnaval é um perÃodo não apenas de festas: os amantes, perdidos em um imenso salão de baile, podem chorar a desventura de um amor, de uma perda. Arlequins, Pierrôs, Colombinas... quem sabe?! A certeza momentânea é que o carnaval também é um perÃodo de dor, de arte, de relação. É durante esse curto perÃodo, quando tiramos marchinhas de nossas algibeiras, que buscamos uma felicidade infindável, dure quanto durar.
O bloco do grupo de Teatro Entre & Vista é assim, como um mestre cerimonial pronto a apresentar o salão de baile. Diz: agora começa o carnaval (na cidade de Tiradentes). Diz: o carnaval também é feito de arte. Diz: o carnaval também é feito de dor.
Da primeira asserção, quanto ao inÃcio do carnaval em Tiradentes, o Entre & Vista se coloca como um ponto culminante no qual a felicidade vem brindar: mostra que a festa não tem idade, nem cor, nem religião. Consegue fazer de um adro de igreja, o lugar do sagrado, o local perfeito para o profano. Quanto ao que diz sobre a arte: mostra que é possÃvel fazer festa sem que esta seja algo menos que uma realização artÃstica. Desde a dança, passando pela concepção, pelas alegorias temporalmente estabelecidas, o grupo realiza, com sua técnica, a lapidação de sonhos, fazendo do momento atual um dia único no qual o sorriso (seja ele infantil, adulto ou da terceira idade) um quadro digno de Da Vince. Finalmente, quanto a dor: mostra que a festa não é só de felicidade, é também de dor. Apresenta a falta de seu mais fiel regente, do homem que fez possÃvel a junção de habilidades, identidades e diferenças, Eros Miguel Conceição.
Se hoje a “Saga de São Pedro†se coloca como uma possibilidade de abertura dos festejos, o céu, nada estrelado, cinge o tempo com nuvens escuras. Mas, acalmem-se: o céu está feliz, a seu modo. Se não há estrelas, há um motivo: chuva não há e, principalmente, não que não hajam estrelas, elas apenas mudaram de lugar. Rapidamente, como cadentes, em suas cadências únicas, ritmadas, se mudaram para cá, para nossa Tiradentes, como devia ser... Ser como deve ser, como deve ser o ator, como deve ser o artista, seu maestro soberano diretor de todos os momentos, e pausas, e continuidades, e coxias. Assim o foi.
Passou o bloco pela rua, como nunca passou e como ainda vai passar, sem ser esquecido, abrilhantando, com plena organização e lapidação de seus pertencentes. Existe ali uma presença, ou uma falta, ou uma falta que se faz presença sem a qual nada disso seria possÃvel: senhor Eros, lá de cima, com suas risadas contidas, aprovações e reprovações (de modo a dizer: ainda pode ser mais, melhor...), só para que, no próximo ano, como aconteceu nesse ano, em relação à 2012, seus pupilos consigam superar em arte e magia. E assim passou “o†bloco e sempre nos lembraremos.
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Para ver as fotos, acesse: Oficina de Teatro Entre & Vista
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