MERCADO CENTRAL de BELO HORIZONTE, MG

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Mercado Central. Belo Horizonte, MG
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Darlan · Belo Horizonte, MG
9/5/2011 · 0 · 0
 

Eis uma visão filosófica ouvida no Mercado Central de Belo Horizonte, mais precisamente numa das mesas do famoso Bar do Mané Doido: "Pelo lado do meu avô materno, tenho veia negra; pelo lado do meu pai, tenho veias vermelhas, mas rançosas; pelo lado do meu avô paterno, tenho veia roxa e espumante feito zurrapa ou vinho barato, forte como pinga de cabeça, ruim como praga de mulher velha." É desnecessário dizer-lhes das gargalhadas gerais.

Os mercados são semeaduras de pérolas, como esta aí acima, lugares onde colheitas as mais variadas podem ser encontradas. O Mercado Central de Belo Horizonte completará 82 anos, no dia 7 de setembro de 2011. Desde o início, foi fator de burburinho e progresso, pelo fato de ser localizado na região central da cidade. Hoje, BH tem apenas 116 anos, uma das três cidades principais da Nação, e é óbvio que o Mercado a fez crescer, crescendo com ela. Há famílias que lá estão desde priscas eras, com o seu modo de vida, sua argúcia de mercadores, com leveza e rudeza necessárias, seu trato com os fornecedores, seu conhecimento mais do que empírico sobre estações do ano, e isto porque é absolutamente necessário estarem cientes do que sejam safra e entressafra, para que assim programem a ontento a carta de pedidos. Algo entre gerações, gestações.

O lufa lufa nas madrugadas dá bem o peso desta instituição comercial: sobram gritos e risos de caminhoneiros vindos com verduras, legumes, flores e frutas, azáfama dos carregadores, mas tudo organizado, tudo isso para que às sete da manhã o povão possa entrar e se fartar nas compras. Adiante, um cheiro quase de amoníaco no corredor onde ficam os galináceos, os pios e cantares dos pássaros; mais além, a verve salutar da vendedora de queijos e requeijões, as mil pimentas nas lojas lindas, lojas todas vermelhas com o sangue das pimentas, fazendo homens e mulheres sonhar, adultos e crianças zanzando entre o fumo de rolo e as nuvens que chegam com uma cerveja ou suco de maracujá, e não direi nada dos peixes, do seu forte odor, e do pirão que eles prometem.

No Bar do Mané Doido, você encontra almoço que não perdeu a qualidade, de jeito nenhum se permite isso, e não apenas lá. Lembro-me de antes da reforma do mercado, quando as pessoas, de pé nos balcões dos vários bares, após umas e outras, e após as compras, iam ao distante e acanhado banheiro; e houve casos de tipos que urinavam nas bancas, cobertas com lonas ou grandes plásticos; bancas de legumes, verduras ou frutas. Isto, naturalmente, à noite. Vi isso lá. Sim, há gente e imitação de gente. Mas há que melhorar, e o Mercado Central sempre esteve na ponta da alegria e da correção moral, ungindo e unindo a cidade.

Nada de se preocupar se o cacau acabou: lá dentro tem agências do Banco do Brasil e do Banco Real, bem como agência de viagens, ou seja, propício para quem vai viajar. Necessita tirar uma cópia xerox ou plastificar um documento ? Ora, não seja por isso, porque num reduzidíssimo espaço sob a escadaria que vai ao segundo andar, onde fica o estacionamento, debaixo da escada, está o minúsculo e movimentado espaço de trabalho do sempre alegre jovem Daniel. E por aí vamos andando nos 14.000 m2 do Mercado Central de BH, entrada principal pela Avenida Augusto de lima – nome do governador que decidiu a difícil mas necessária transferência da capital de Minas Gerais – de Ouro Preto para a ainda inexistente, ou em construção, Belo Horizonte.

No Mercado, acontecem lances engraçados, pequenos discursos de políticos, improvisados, desfiles de moda e lançamentos de livros (o jornalista e letrista, Fernando Brant, lançou lá o livro Mercado Central, um dos títulos da Coleção BH – A Cidade de Cada Um; e eu farei o mesmo com o meu último livro). Há espaço para visitas escolares, marcadas antecipadamente – uma iniciativa de nome Consumidor do Futuro. Enfim, entre choros sabendo a amores, e choros advindos das cebolas cortadas para os mil fígados a palito, o glorioso Mercado Central segue sua órbita, levando consigo estrelas, sóis, planetas e asteróides, todos num ritmo só. A jovem cidade de Belo Horizonte agradece, através da Rádio OnLine do próprio mercado– e curta, por exemplo, a música "Já que Minas não tem mar".


Aqui, o sítio do Mercado Central de BH: http://www.mercadocentral.com.br



DARLAN M CUNHA

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