Estou aqui a pensar nas possibilidades do ser autor, propositor das artes, como figura atuante num processo de construir uma existência ou repensar o que já é. E gostaria de refletir sobre a necessidade deste autor ser atuante politicamente.
E esta atuação polÃtica, que gostaria de chamar de participação cidadã, não se circuscreve a arte engajada. Não acredito na obrigação de que arte deve ter um contexto polÃtico, como acreditavam ou acreditam alguns teóricos que na sua leitura marxista, impuseram a arte uma prerrogativa que não é sua. Sendo a vertende polÃtica, apenas mais uma das possibilidades à concepção artÃstica.
Destaco portanto, a necessidade de o autor se posicionar politicamente, como cidadão. Participando ativamente de questões cruciais para o paÃs e mesmo para o desenvolvimento de sua arte. O artista atuante que questiona a polÃtica ambiental do bairro, a poluição, a prostituição infantil, a precarização dos investimentos em arte no estado/no paÃs. Um ser politizado e procupado com a questão social, polÃtica e econômica do mundo.
Uma preocupação crucial não só para o artista mas para todo cidadão, e por isso uma responsabilidade do homem enquanto sujeito atuante em sua sociedade. Atuação esta, que para a filosofia é chamada ética prática.
Mas o artista neste momento, corre um risco muito grande, pois pode atrair para si uma visibilidade que muitos não conseguem ter. Estando exposto enquanto figura pública que tem algo a falar, podendo ser taxado de panfletário, ecochato, e num ato de desconfiaça de um possÃvel público, ser visto como falsário, um fingidor.
Claro que para mÃdia, empresas e o governo que corre o risco de se ver acusado e acuado sem um resposta pronta, a desmoralização deste tipo de artista é perfeita. E neste sentido, vejo a dificuldade de um artista engajado e mesmo arquiteto de uma arte engajada e contestadora se manifestar no mass media.
Permitimos o funk permissivo sexualmente em suas letras que desvalorizam a mulher, mas não damos destaque ao rap/hip hop que questiona a condição da favela. Permimos o romantismo e o amor agudo e lamuriado, em seus mais variados leques, sertanejo, brega, emo.
Mas quando um músico contestador como Belchior desaparece de um forma bastante estranha por sinal, nem sequer retomamos sua arte. O assunto vira simplesmente especulação, e o artista nos é mostrado como estranho/dequilibrado.
Há espaço para os contestadores no Brasil? Tom Zé que o diga, que só passou a ser admirado dentro de seu paÃs, a partir do momento, que um estrangeiro com renome internacional, David Byrne, o encontrou e disse, este cara é massa. Mas o destaque da mÃdia, continua sendo a figura controversa e irreverente de Tom Zé, e não a sua obra.
Não sei a partir de que momento este assunto se impôs nas minhas reflexões sobre a arte, mas sobreveio com mais intensidade, a partir de uma conversa com um amigo meu, que para me provocar, e por saber da minha adoração desmedida por Teatro Mágico, veio a difamar a banda só para me irritar.
Disse ele que a postura politizada da banda era balela, já que a banda era ofuscada e diminuÃda ante o artista Fernando Anitelli. E se a banda fosse realmente solidária, o senhor cantor não tomaria a frente das apresentações do grupo como figura destaque da banda, um exemplo disso, seria a capa dos trabalhos da banda que traz o epÃteto "Fernando Anitelli apresenta o Teatro Mágico".
Mas qual o problema de um membro da banda se colocar como porta-voz de uma escolha. Debatedor de uma postura. Por que questionar a postura polÃtica e não a sonoridade. E o mais surreal deste debate, que Fernando Anitelli não deixa de ser um personagem, enquanto reforça a atuação lúdica da banda ao se apresentar como um palhaço, e questionando deste modo, a personificação do artista.
Por que cobramos tanto da artista, mas não questionamos a sua a arte. A crÃtica se circuncreve a postura daquele que vos fala. E ele não pode mentir, não pode falsear, não pode ser objeto de sua própria arte. Queremos sua atenção e ele não pode nos decepicionar.
Cobramos demais do artista, como que tivesse que encarnar a perfeição que nunca fomos. E esquecemos de que antes de ser artista ele é um de nós, falÃvel, mas capaz de representar sua própria vida. E quanto maior o engajamento social, maior as cobranças. Aos hedonistas o paraÃso, a quem questiona esta forma de existência, a exclusão dos hereges.
A sociedade, na figura daqueles que manipulam o poder, não admite questionadores.
E ele me respondeu, pois mesmo assim, não gosto. Mas o senhor tem todo o direito de não gostar, é uma escolha estética. Porém justificar a sua escolha fazendo acusações não compravadas a banda, é uma forma desqualificadora de impor seu gosto. Por que desqualificar a banda por sua postura polÃtica?
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