Sampler nas ideias

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DJ Zonattão · Bento Gonçalves, RS
9/4/2010 · 0 · 0
 

Não seria clichê dizer que o músico e DJ Fábio Zonatto, 35 anos, cria seu trabalho de Bento Gonçalves para o mundo. Com o codinome artístico de DJ Zonattão, lançou no ano passado o disco Sampleado e Percussivo. O CD exercita o turntablism, usando vinis para fazer música. A inovação deu pra lá de certo, rendendo-lhe destaque no site da Trama Virtual e seleção para o festival Oi Expressões, em agosto, em Porto Alegre. DJ na banda Vitrola Funk, também faz o Live PA Dee Jam e tem passagens pelo La Rosa Negra Quartet e a Metamorfos. Pesquisando sonoridades, sampleando batidas e vertentes, constrói uma assinatura autoral.

3por4: Qual é sua proposta musical?

Zonattão: O pilar central é percussão e o turntablism, que pressupõe o uso do toca-discos como instrumento. O turntablism é do rap, com vertentes na música eletrônica. E a percussão é da Ãfrica, mais raiz, que vem desde o afro-indígena, interagindo com a música negra, o rock e a música regional. E tem referências também de Santana, James Brown, Parliament Funkadelic e Mangue Beat, essa fusão do rock e pop com música regional, o afrobeat. As técnicas são específicas do toca-discos. A ideia é juntar essas referências e fundir com outros ritmos. O vinil sai do contexto de simulação de uma banda e passa a ser usado como percussão eletrônica. É como uma cuíca, de onde se tira um som com o vaivém do instrumento. A identificação com a música negra é pela batida, o ritmo, na onda do rock, depois o rap. Fui estudar de onde vinha isso e descobri a black music, o funk, o soul, o jazz. Vivia no meio do rock, onde isso é um pouco discriminado. Quando resolvi fazer música, isto veio para fora.

3por4: Criar nessa área, em Bento Gonçalves, é ter que trabalhar isoladamente?

Zonattão: Foi a condição. Aos poucos, com a abertura de espaços e a compreensão da proposta, surgiram colaboradores. Basicamente, foi um processo de buscar referências e, com um pouco de criatividade, elaborar o trabalho. É um verdadeiro laboratório, que inclui lapidação, até chegar a uma mistura de ritmo, melodia e harmonia. Então juntei músicos de outras vertentes. A ideia foi sempre fugir da segmentação. No começo, achei que não faria mais do que 15 CDs. Cheguei a 100. As coisas progrediram.

3por4: Para projetar o trabalho, a internet é o maior recurso?

Zanottão: Basicamente. Outras mídias convencionais são mais limitadas e não têm o porte para absorver tudo o que a internet pode. Ela viabiliza chegar a lugares em que a mídia convencional demoraria muito. Ao mesmo tempo, ela virou um território extremamente grande, onde circula muita coisa. Fica difícil, mas a questão é selecionar. Claro, o espaço é para todos, mas há um inchaço de informações. Se não fosse a internet, não se faria muita coisa por aqui. A principal dificuldade é dar vazão ao trabalho. A cultura esbarra na preocupação com o trabalho. Não existe consumo de cultura. As casas de espetáculos não dão abertura para trabalho autoral. Temem que falte público. Mas é um círculo vicioso: se não dá espaço, não aumenta o público.

3por4: A cultura eletrônica e a cultura das ruas ainda são pouco conhecidas na região?

Zanottão: Tem público para a música eletrônica nos modelos convencionais. O que domina é o house e o techno. O drum’n’bass, o lounge e o psico-house também são música eletrônica, mas não têm mais espaço. A cultura de rua sempre se desenvolveu em grandes centros urbanos. Por aqui, chegou há 10 anos. Existem variações, posturas diferentes. A cultura hip hop, com a dança de rua, o MC como poeta, o DJ que é o músico, o grafiteiro como artista gráfico, está muito longe do contexto erótico do funk carioca. Isso chegou junto por aqui e, às vezes, sofre resistência também por questões racionais. Ainda existe preconceito.

3por4: E a relação entre Bento Gonçalves e Caxias do Sul?

Zanottão: Ainda tem o bairrismo, que vem de gerações anteriores e se repete nas recentes. No setor empresarial e industrial, as cidades interagem. Dá para dizer que são duas cidades irmãs, filhas da mesma mãe, mas não têm certeza se o pai é o mesmo. Daí, se olham desconfiadas.

3por4: Questão recorrente: DJ é músico?

Zonattão: Alguns são, outros operam som. Basicamente, DJ músico é aquele que trabalha com vinil como instrumento, diferente de usar um CD com a seleção de músicas prontas.

3por4: Esteticamente, onde você acha que chegou?

Zonattão: Uma identidade que busca harmonia da pluralidade, a música sem fronteiras. A ideia é levar esta cultura do DJ como músico, do turntablism, do pratismo, para outras praias. Ela começou num contexto e agora já está dentro do reggae, do metal. Daqui a pouco chega até o clássico. O negócio é invadir outras áreas, interagir. Não é pretensão lançar um novo estilo. É pegar algumas raízes e misturar com outras.

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