Sobre a música erudita na TV

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Leeke · Rio de Janeiro, RJ
10/7/2011 · 5 · 1
 

Ao chegar em casa, há pouco, enquanto esperava o Windows inciar, resolvi ligar minha TV. Tentei por na MTV, mas estava passando uma vinheta do Rockgol, que agora é narrado pelo Marcelo Adnet; mudei de canal, pois confesso que, na minha opinião, Rockgol sem Paulo Bonfá não é a mesma coisa. Mesmo com jogos bizarros como Ratos de Porão contra Restart. Não é mais a mesma coisa.

Cogitei algum canal da Globosat, mas a esta hora, estava sem a atenção mínima exigida para ler legendas, ou ouvir notícias non-stop na Globo News. Daí, apertei o corriqueiro número 19 e me deparo com Lara com Z (!?). OK, Suzana Vieria fazendo papel de Suzana Vieira não rola, né?

Um passo atrás – no canal 18 -, me deparo com aquela imagem meio obtusa de violinos, cellos e um maestro careca-cabeludo cheio de tique, comandando uma orquestra sinfônica genérica (genérica para leigos, que nem eu). Estacionei ali, pois faz um tempo que estou para pesquisar e conhecer mais sobre música erudita; logo, achei uma ótima oportunidade para dar uma chance àquelas imagens obtusas na tela da minha TV.

As fugas, allegros e adágios me contagiaram. A orquestra era muito boa; os violinistas tinham o que chamamos de “presença de palcoâ€; e o maestro, apesar dos tiques – dos quais eu tinha medo de ser contagiado de forma inconsciente -, estava ali sentindo a música, vivendo com intensidade cada mudança de dinâmica musical. Estava achando bem diferente das lembranças de música erudita que estavam cristalizadas no meu senso-comum.

Ao longo das peças tocadas pela orquestra, entendi porque sempre que zapeava e me deparava com aquela orquestra, uma reação automatizada no meu cérebro, mandava um sinal para meu dedo indicador para mudar de canal: além da imagem da TV Brasil não ser das melhores – e acredito que as câmeras usadas também não ajudem muito -, a filmagem é estática e carece de uma linguagem audiovisual atraente.

O programa tem alguns enquadramentos básicos: uma câmera registra o maestro de frente, num ângulo quase “teatralâ€; outra captura imagens do lado esquerdo da orquestra – nas quais os violinos ficam em primeiro plano -, e outra enquadra o lado direito, onde os cellos se destacam. Logo, se você assiste um minuto desse programa, fica com a impressão que a orquestra se resume ao naipe de violinos, o de cellos, e um maestro de grandes tiques nervosos, no meio. Há um ou outro plano detalhe, que enquadra, no mínimo, seis, sete, oito músicos. Não lembro se há uma câmera pegando o plano geral. Se esta existir, como uma orquestra sinfônica é grande em número de integrantes – e a imagem da TV Brasil não é das melhores – creio eu que, pra quem estiver zapeando, a orquestra pode parecer mais um formigueiro do que uma orquestra sinfônica de grande qualidade.

Num tempo de barateamento de equipamentos de filmagem e produção audiovisual. Numa era em que cada vez mais a música está vinculada à imagem, eu poderia me arriscar a dizer que a música erudita também pode entrar neste tempo. O Programa “A Grande Músicaâ€, da TV Brasil, merecia uma repaginada: fazer com que fosse criado um verdadeiro programa de música erudita na TV – com closes, focos e efeitos, que possam criar uma linguagem audiovisual mais atraente para o telespectador, e não simplesmente gravar o show com câmeras estáticas, beirando uma simplória documentação da apresentação.

Não é porque a música é secular, que a linguagem do programa deva ser também.

Luiz Henrique Costa
08/07/2011

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Helena Aragão
 

Legal, Luiz. Não vi o programa, mas dá pra imaginar pela tua descrição. E orquestra dá margem a tanta possibilidade de imagem, né, de narrativa... Tomara que a tua crítica chegue a alguém da TV Brasil!

Helena Aragão · Rio de Janeiro, RJ 9/7/2011 19:25
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