Acredito que a internet nos lançou em uma nova ordem mundial, um novo Zeitgeist, uma nova mentalidade: A de colaboração, sharing. No momento no qual nos encontramos a tecnologia nos proporcionou muito e o negócio da música se vê forçado a mudar. Agora um artista dispõe dos meios para ser seu próprio produtor musical e marketeiro; ele pode gravar suas músicas em casa e divulgá-las de graça na internet, angariando fãs.
De modo algum acredito que por isso essas profissões estejam se tornando obsoletas, eles são profissionais valiosos, mas a vida dos músicos está mais fácil. Um CD custa 30 reais e um artista ganha de 5, 10 centavos em cada que vende, então para se viver de venda de CDs é necessário ser super famoso e ter disco de platina. O músico, quem teve a criatividade e criou a obra de arte, ganha bem menos de 10% do preço total do CD. Esse é o preço que dão para a criatividade do artista e para sua música. Mas a tecnologia e a internet viabilizaram meios onde os artistas não precisam mais contar com tanto dinheiro para gravação e divulgação, tanta ajuda de terceiros, tanto Quem-Indica e com isso surgem coisas maravilhosas que em outros tempos não teriam o espaço para surgir.
O foco é cada vez mais a música e a divulgação desta, e não o meio fÃsico por onde esta é veiculada. O foco nunca deveria ter deixado de ser a música, mas deixou… tudo gira em torno de dinheiro. É claro que os artistas querem poder viver da sua arte, mas a arte deve ser o meio e o fim, e nunca somente o meio para outro fim (lucrar, ficar rico, virar um rockstar). E graças à s novas tecnologias (internet inclusive) estamos chegando em um momento onde a música é feita pela música, onde os dinossauros da indústria estão morrendo brandindo suas placas com copyrights gravados em ouro. O Creative Commons está aà gente… Não estou dizendo que a indústria deva morrer, ou que vai morrer. A indústria é necessária, mas precisa se ajustar à s mudanças que estamos passando e não lutar contra elas. Essa luta já está perdida. Há vários pensadores, tais como Gerd Leonhard, que dão muitas palestras e escrevem livros (também disponibilizados de graça) sobre como a indústria pode ganhar dinheiro na nova era, ao mesmo tempo em que valoriza a música.
Mesmo em tempos promissores é claro que ainda encontramos exemplos de bandas e artistas que parecem ser confeccionados, onde o que interessa menos é a música. Existem milhões de exemplos assim, onde se escuta mais do mesmo e se vê mais do mesmo. É o caso de Justin Bieber, por exemplo. Descoberto primeiramente por causa do site You Tube foi produzido e divulgado pela indústria e virou mais um Ãcone pop teen.
O que ele canta nos é familiar, é parecido com N’ Sync, que é parecido com o que o irmão do Nick Carter, o Aaron Carter cantava (lembram dele? É, eu também mal me lembrava), que é parecido com… enfim… E essa banda brasileira Replace? Não conhecia e vi hoje na MTV. Eu não estava olhando para a TV e perdi a introdução feita pela VJ então não sabia de que banda se tratava. Enquanto a música tocava pensei que poderia ser Charlie Brown Jr (só que não era a voz – ou falta de – do Chorão), Scracho, Fresno… resolvi olhar para a TV ao fim da música e descobri para minha surpresa que não era nenhuma das 25 bandas que parecia! Era outra! Novinha em folha! E o visual deles? Igual a todos os outros também. Mais uma banda dos tempos de hoje, com direito a perfil no My Space, inteiramente descartável e esquecÃvel. Ai, ai…
É claro que essa é uma questão de oferta e demanda. Eles existem pois há uma demanda. O empresário de Justin Bieber foi preso por ‘colocar vidas em risco’ num show do rapaz dentro de um shopping onde milhares de adolescentes se esmagavam e gritavam loucamente por ele. Sempre haverá adolescentes desesperadas que querem (ou acham que querem) ouvir esses tipos de artistas.
A Lady Gaga abraça a fama e o dinheiro mas pelo menos ela faz isso de forma autêntica, ela se propôs a fazer uma coisa nova. Ela (ou a personagem dela) é autêntica: ela se veste de uma forma inusitada, as danças coreografadas no clipe são igualmente esquisitas e sua música, mesmo que sendo feita para estourar nas paradas, nos dá algo de diferente. Seu pop/techno/clash não é igual a todo o resto que toca nas pistas de dança e por tudo isso ela será lembrada daqui a 20 anos.
Tenho visto muitos músicos bons surgirem nos últimos anos, impulsionados pela facilidade de distribuição, divulgação de seu trabalho. Artistas autênticos que querem sim viver de sua arte, mas nunca tiram o foco desta. Esse é o caso do ‘one man band’ Owl City, ou do ‘two man band’ Pomplamoose (dos namorados Nataly Dawn e Jack Conte) e da própria Amanda Palmer, sobre quem já escrevi, que usa principalmente a internet para divulgar seus trabalhos. Adam Young do Owl City começou a gravar no seu quarto por conta da insônia que tinha. Ele faz um som um pouco emo, mas totalmente diferente de todo emo que conheço: tem um quê eletrônico com muitos sintetizadores e arranjos no piano. Está longe de ser um estilo que gosto, mas o trabalho de Young é bastante diferente, e vocês podem ouvÃ-lo aqui. O casal de Pomplamoose também grava no quarto (de Jack Conte) e disponibiliza todos os vÃdeos do processo de gravação na internet.
A intenção desse post não era discutir o Creative Commons e sim só fazê-los pensar um pouco sobre o momento que estamos vivendo e o que está surgindo musicalmente nele de bom e de ruim. Mas espero sim que esse pequeno texto de caráter introdutório seja um inÃcio para entenderem e encararem essa outra forma (livre) de pensar fora da caixa.
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