Anchieta (ES) - o mar responde

Gilberto Medeiros
Jaraguá
1
Vitor Lopes · Vitória, ES
5/7/2007 · 83 · 1
 

Quando o relógio marca as 3 horas da manhã, Maria das Graças da Rosa, 47 anos, dá um pulo da cama. Como costuma a dizer, gosta de cantar já de manhã. Na pequena Anchieta, litoral Sul do Espírito Santo, Maria é uma das principais vozes da banda de congo Sol e Lua, a única do município que preserva esta que é uma das principais heranças culturais-artísticas-religiosas deixadas pelos negros no Espírito Santo.

Maria canta seus antepassados. “São os negros que vieram da Ãfrica e fizeram este Brasil crescerâ€. Agora, sentada numa das pilastras do Museu do Padre Anchieta, no distrito de Reritiba, em Anchieta, ela louva seus santos com sua voz grave: “Mas que santo é aquele que vem no andor?/ É São Benedito, nosso senhor".

Aos poucos, Maria é cercada pelos companheiros de banda, que somam mais de 60 integrantes, entre crianças, jovens, adultos e idosos. Nas mãos, tambores, casacas, pandeiros, e a bandeira que identifica a história do grupo.

Se Maria das Graças acorda cedo para trabalhar e tomar a tradicional branquinha que fica colocada estrategicamente embaixo do tanque de sua casa, José Luiz Doellinger, 37, também desperta por volta do mesmo horário. Sendo um das centenas de pescadores da região, tem de ir pro mar cedo – quando não vira a noite em alto mar.

Morador de uma casa simples, José Luiz é responsável pelo resgate de uma das maiores tradições folclóricas de Anchieta, o Jaraguá. A fantasia de caveira de cabeça de cavalo assusta há mais de 40 anos os moradores do município. “Esse cavalo é feio! Tenho medoâ€, grita correndo a pequena Camila, com os olhos vidrados no que o vizinho faz nas horas vagas.

Como diz a lenda, o Jaraguá é um resgate do tempo em que os jesuítas que, liderados pelo Padre José de Anchieta, saiam em busca de índios para promover a catequização dos mesmos. Os índios que fugissem seriam assustados por um cavalo que aparecia de dentro do lodo do rio que desemboca na praia central da cidade.

Hoje em dia, a memória desse ato de repressão acontece em forma de brincadeira durante o carnaval, chamando a atenção de turistas de várias cidades que se reúnem em Anchieta para celebrar as tradições populares e a cultura da pesca.

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Clara Bóia
 

Oi Vitor.
Legal sua colaboração. Realmente os bichos são muito feios; não é de se espantar a reação da Camila.
Existe algum link onde posso ler mais sobre o assunto?
Abraços.

Clara Bóia · Blumenau, SC 4/7/2007 10:00
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