Realizado entre 31 de outubro e primeiro de novembro de 1998, o festival Rock-SE foi o catalisador definitivo de uma cena rock efervescente em Sergipe, que após anos se movimentando apenas no underground através de bandas punk e suas letras de protesto, ou com a unida e organizada cena metal, desde meados de 1994 havia começado a encontrar um público maior e disposto a sair da mesmice.
A popularização de antenas parabólicas, que facilitou o acesso à MTV na cidade, pode ser apontada como um dos motivos do repentino interesse em bandas locais como Snooze, Maria Scombona, Lacertae e Sulanca, para citar algumas que ainda existem, e desde sempre insistiram em investir em repertório próprio. Mas dizem que só se valoriza o que é de sua terra quando os de fora dizem que é bom. Foi assim com Os Mutantes na década de 60, saudados como heróis depois de uma temporada na França, quando antes disso a banda já era acostumada às vaias e tomates na cara.
Pois bem, além de apresentar uma seleção de bandas legais do próprio Estado e do ineditismo de trazer medalhões da cena nacional como O Rappa e Marcelo D2 pra um mesmo festival, o Rock-SE teve o mérito de colocar Sergipe no mapa musical brasileiro, pela bela cobertura da mÃdia. Programas de TV de veiculação nacional (Metrópolis da TV Cultura, e o cult Lado B da MTV) deram merecida valorização do evento em horário nobre, além de matérias no Jornal do Brasil, O Globo, Rock Press e International Magazine. O retorno disso tudo pro Estado foi bastante positivo para a auto-estima das bandas e para a criação de um público novo e cada vez mais interessado em novidades.
Como é de praxe nos grandes festivais, além da música, artistas plásticos tiveram espaço para expor seus trabalhos, e uma mini-feira de artesanato também foi montada. Os stands de selos independentes tiveram grande sucesso, tendo sido inclusive a estréia dos goianos da Monstro Discos (da qual um dos fundadores também atuou no palco com os Mechanics), que mais tarde colocariam o melhor festival do Brasil em prática, o Goiânia Noise Festival.
Falando em outros festivais, outro nobre legado do Rock-SE foi a influência para que outros produtores locais sacassem que festival de rock pode ser um bom negócio. Na sombra do Rock-SE despontaram várias tentativas, umas mais felizes que outras. O mais bem sucedido deles, o PUNKA, teve mais de seis edições anuais, sempre crescendo em estrutura e público. Desse modo, esse festival preencheu a lacuna deixada por aquele megalômano evento num longÃnquo 98.
Produzido pelo coletivo Marginal Produções em conjunto com o staff do Tequila Café, o festival realizado no Complexo Desportivo Lourival Baptista (o famoso Batistão) não foi exatamente um mar de rosas. Diversos problemas internos interromperam o que poderia ter sido um festival para todos os anos. O principal mentor e carregador de piano Bruno Montalvão explica que grande parte da equipe não tinha a menor noção de como levar uma produção de grande porte, o que gerou "falhas imperdoáveis". Outro sério problema foi a falta de público pagante em massa. Não acostumados ao tamanho do evento, muitos acharam caro e preferiram se amontoar do lado de fora ouvindo o som e tomando cerveja! A conseqüência foi um prejuÃzo sem tamanho para a produção. Para completar, no ano seguinte, um dos sócios do Tequila Café entrou com um processo na justiça para uso do nome em um novo festival. A segunda edição do Rock-SE foi realizada como um show de rock qualquer, tendo o Angra como atração principal e repercussão pÃfia.
Montalvão, hoje em dia um produtor full time, sozinho à frente da Marginal, pretende realizar ainda este mês a nova edição do Rock-SE, a seu modo: grandioso, com bandas alternativas desta nova safra e uma geral no que há de melhor na cena sergipana. É pagar pra ver!
Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!