Passou certa vez pai e filho próximo a mim na praia, e o pai falou para o filho:- É Sereia!
Eu escutei a frase, e como não havia mais ninguém perto de mim và que aquilo fora um comentário sobre mim mesmo. Venho a alguns anos estudando a chamada questão de gênero e tenho prestado atenção no aumento das expressões, jargões e códigos usados para definir a mulher. De fruta à s carnes, passando pela picanha, filé, charque as frutas: mulher uva, mulher tomate, pera, e por aà vai. Cada uma com sua definição prévia, e bem conhecida da sociedade.O prazer comestÃvel associado a mulher não me assusta. Já que está bem definido a anos que fazer sexo e comer alguém são a mesma coisa. Variável é o sentimento,e as relações e a qualidade destes. O que me assusta é que quanto mais a mulher vem ocupando o lugares destinados anteriormente aos homens. Só no Brasil a força da mulher chefes de famÃlia aumentou 10 vezes nos quatro últimos anos, sendo 37,4% das famÃlias. Um traço me intriga é a enorme variedade de estereótipos, jargões e apelidos :sereias, mal hálitos, plocs , vadias, borrachas, dedicadas, enfim, parece-me que a sociedade não conseguiu ainda assimilar a mulher com seus papéis múltiplos e mesmo com jargões e expressões as vezes de mal gosto, as vezes engraçadas tentam enquadrar de todas as formas o feminino. Sério risco esse de enquadrar um gênero com expressões que traduzem quanto de tanto preconceito arraigado. Sendo parece-me uma forma de limitar em sua completude, e complexidade. Complexidade por que somos seres humanos, somos complexos. Nada se limita a uma coisa, fruta, apelido, palavrão.
Claro que para os homens e para as mulheres que decidiram fazer o jogo tornando-se elas próprias machistas, conviver com essa mulher desdobrável, como diz Adélia Prado, que veio se alargando, se espalhando, utilizar jargões, e expressões pejorativas, são uma forma de dar um chega para lá. De impor limites. Se penso que há limites na condição de ser mulher. Digo que não há limites na condição de ser humano. Exceto estes que tentaram, e tentam ainda hoje nos silenciar, transformando-nos em objetos, e tentam conter algo que em sua própria natureza é exuberante. Como pode lidar o homem com esse alargamento, esse abusado espalhamento. Talvez em vez do homem conter a mulher com seus comentários pudesse também se espalhar. Então espalhem-se por que gente contida da câncer. Gente espalhada faz bem ao coração.
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