A Noite Do Aquário, de Sérgio Roveri

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Valmir Junior · São Paulo, SP
2/7/2007 · 90 · 1
 

Originalmente publicado no Motocontínuo

O storyline da peça reverberou na história pessoal de um ente querido. A família, as loucuras de sair de casa, como as relações ficam conturbadas quando têm de ser retomadas. A atual situação desta pessoa poderia ser muito bem o que aconteceria se A Noite Do Aquário, de Sérgio Roveri, não tivesse o desfecho que teve. Composta por três tristes figuras, a desmantelação do seio familiar é o mote do espetáculo.

Parte integrante do projeto E Se Fez A Praça Roosevelt em 7 Dias, empreendido pela Companhia Os Satyros, que finda nessa semana, temos uma história há muito recontada, mas agora poeticamente transposta ao teatro. A mãe (Clara Carvalho) recebe a inesperada visita do filho mais velho, José, (Germano Pereira), após 8 anos de exílio e apenas 4 cartas endereçadas à família. Ressentida, ela luta para não projetar no filho a imagem do marido que saiu para São Paulo trabalhar e nunca mais voltou. Completa o triângulo o filho mais novo, Pedro (Chico Carvalho), que se coloca entre o apoio à mãe e a saudade do irmão.

Por falar em Chico, muitas vezes a bondade registrada na leveza de sua atuação e o excessivo gestual destoam da simplicidade contida do espetáculo, mas Clara Carvalho, conforme impressões de amigos, é a "mulher que parece que vai explodir a qualquer momento" e é verdade. Clara segura a intenção no olhar, explora a força interior e coloca-se à frente dos outros dois. Germano é correto em seu José. Junta-se a aridez da concepção, conjugadas à luz, ao som e à cenografia, trazendo um contraponto especial com a água sempre relatada do porto fictício onde moram a mãe e Pedro, graças à mão do diretor Sérgio Ferrara.

A chegada do forasteiro, como sempre, é o fio que desestabiliza aquela aparente calma na ilha da qual todos estão saindo - o porto vai fechar; a solução reside em José. O trauma da perda do marido é o que vai destruir tudo. Sobram apenas a melancolia da lembrança da mãe no dia em que foi tentar encontrar o marido em São Paulo e se deparou com o prédio em forma de onda (o Copan) e a praça que foi inaugurada com a voz de Elis Regina (a Roosevelt).

O que sobrevem é a metáfora da raiz da árvore que consegue atravessar o concreto. O instinto de liberdade, quando chega, não pode ser controlado. E é o que faz a mãe no desfecho da peça. Voltando à pessoa a quem me referi no começo: hoje, o problema é fazer com que aqueles que se quis salvar voltem para a ilha, para conseguir, enfim, se libertar. No caso do espetáculo, apesar de ser uma saída hedionda, ainda assim é belo e poético. Como o cair da água no rosto árido.

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Blog do Sérgio Roveri

P.S.: Não é possívelachar foto na resolução solicitada pelo Overmundo na internet.

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Remisson Aniceto
 

Creio que sou o primeiro a comentar, o que muito me alegra, Valmir. E sou suspeito, pois adoro teatro, mas o texto é majestoso. Um abraço!

Remisson Aniceto · São Paulo, SP 1/8/2007 15:40
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