Ouvi este vinil na casa de um colecionador há alguns anos atrás. Fiquei impressionado com a força da interpretação do Geraldo Vandré e sua poesia combativa, com versos planfetários e apaixonados pela luta libertária. CANTO GERAL é um registro, verdadeiro manifesto, do sentimento popular nos anos de chumbo da ditadura militar. Numa época em que o silêncio era a opção mais segura, que as metáforas eram a forma mais viável de expressão, o autor de “Pra não dizer que não falei das floresâ€, ousou gritar alto e falar diretamente sobre liberdade, luta de classes, opressão. Era o ano do AI5, os direitos fundamentais se sepultavam debaixo dos atos grotescos da repressão, falar de polÃtica, de democracia e igualdade em uma canção já era por demais ousado, quem diria, fazer um disco inteiro temático sobre isso!
O ponto de partida de Geraldo Vandré foi a obra homônima de Pablo Neruda, de 1950, no qual o poeta já se rebelava contra a opressão sofrida pelo povo Chileno e Latino americano. As sangrentas ditaduras militares patrocinadas pelas potencia norte americanas e europeias, eram a grande chaga dos povos latinos americanos, que apesar de sofrerem as penas do subdesenvolvimento ainda tinham sua liberdade e sua vida tolhidas por ditadores atrozes.
Em “Terra Planaâ€, primeira faixa do LP, Geraldo Vandré se apresenta em um discurso efusivo: “Me pediram pra deixar de lado toda a tristeza, pra só trazer alegrias e não falar de pobreza. E mais, prometeram que se eu cantasse feliz, agradava com certeza. Eu que não posso enganar, misturo tudo o que vivo. Canto sem competidor, partindo da natureza do lugar onde nasci. Faço versos com clareza, à rima, belo e tristeza. Não separo dor de amor. Deixo claro que a firmeza do meu canto vem da certeza que tenho, de que o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza, foi que me fez cantador. “
Em “Cantiga Brava†é o guerrilheiro que se manifesta:
“O terreiro lá de casa
Não se varre com vassoura,
Varre com ponta de sabre
E bala de metralhadora.â€
A questão agrária foi outro tema tratado por Gerado Vandré, neste LP, em “O plantadorâ€:
“Quanto mais eu ando,
Mais vejo estrada
E se eu não caminho,
Não sou é nada.
Se tenho a poeira
Como companheira,
Faço da poeira
O meu camarada.
Se tenho a poeira
Como companheira,
Faço da poeira
O meu camarada.
O dono quer ver
A terra plantada.
Diz de mim que vou
Pela grande estrada:
"Deixem-no morrer,
Não lhe dêem água,
Que ele é preguiçoso
E não planta nada."
Eu que plantei tudo
E não tenho nada,
Ouço tudo e calo,
Na caminhada.
Deixem que ele diga,
Que eu sou preguiçoso,
Mas não planto em tempo
Que é de queimada.â€
E assim, desfilam versos carregados de rancor contra os opressores, como “Eu já fui até soldado, hoje muito mais amado sou chofer de caminhãoâ€, que culminam na “Volta do cipó de arueira no lombo de quem mandou dáâ€, até o encontro do amor romântico, uma verdadeira heresia para o marxistas mais ferrenhos, em “Guerrilheira†e “Companheiraâ€, e ainda, o choro solitário do cantador que se opõe ao romantismo vulgar que já permeava os “sertanejos†da época: “Quem disse que foi viola, quem disse que foi amar, viola, só me consola e o amor não faz chorar... “
Canto Geral, do Geraldo Vandré, canções que vão além disso.
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