Som dos caboclos do mangue, do Maranhão

DIvugação
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Eduardo Júlio · São Luís, MA
20/7/2007 · 91 · 1
 

“Quem quer ser universal que cante sua aldeiaâ€. Esta célebre frase atribuída ao escritor russo Leon Tolstoi, como já havia dito em outra oportunidade, é análoga ao som da banda Nego Ka’apor, uma das revelações da música jovem produzida no Maranhão. Há seis anos na estrada, desde o mês de abril o grupo radicou-se no Rio de Janeiro com o objetivo de divulgar, no Sudeste, o CD homônimo, primeiro registro da banda, lançado no ano passado.

O Nego Ka’apor “montou acampamento†na cidade de São Gonçalo (situada nas proximidades de Niterói), e, aos poucos, vai percorrendo o circuito alternativo de bares e eventos de música da região.

Se a estadia der certo, possivelmente o Brasil vai ouvir falar na banda. O grupo mistura ritmos regionais maranhenses, como mina, tambor-de-crioula, bumba-meu-boi e pitadas de toques indígenas, com elementos de rock, reggae e soul. Pode parecer surpreendente, mas o conceito sonoro, semelhante ao que foi realizado pelos pernambucanos do mangue beat, na década passada, nunca havia sido experimentado com tanta precisão, contundência e originalidade por uma banda maranhense.

O Nego Ka’apor funde a batucada de pandeirões, matracas, caixas do Divino e diversos outros tambores e instrumentos regionais com guitarras, baixo e bateria, além de uma pequena cozinha de instrumentos de sopro.

Segundo o líder e vocalista Beto Ehongue, a estadia no Rio está surpreendente. “Em pouco tempo, realizamos quatro shows e fizemos importantes contatos. Vários músicos de renome apostaram na bandaâ€, declara.

Depois de diversas mudanças, além do vocalista, formam o Nego Ka’apor atualmente: Sidel Trindade (percussão), Baé Ribeiro (percussão), Nicolau Eslouco (bateria). O talentoso guitarrista João Sino que viajou com o grupo, teve que voltar para São Luís às pressas para assistir ao nascimento do seu primeiro filho e não deve retornar mais. No território fluminense, o grupo contou com o apoio de três músicos, o baixista Carlito Gepe (que toca na Gungala ao lado de Peninha, do Barão Vermelho), o trompetista Alex Brasil e o trombonista Tiago Bochecha.

A média de idade dos componentes originais é de 30 anos. Beto Ehongue é o autor de todas as músicas do Nego Ka’apor (foram gravadas 12 no disco), enquanto a banda assina os arranjos. A maioria das letras possuem cunho social, mas são dotadas de um tempero poético ou profético muito próprio, que neutraliza as febres panfletárias. Um exemplo é “Sangue e Fé": “Antonio abriu no meio do povo/ a clareira fazendo a terra cuspir fogo/ e um céu de estrelas subiu pelo chão/ O canto ouviu-se lá no Maranhão/ bateu bem no peito do carcará João/ deixando a tristeza um pouco mais feliz" ou “Desafiando a Leiâ€: “As palafitas não conhecem a lei/ as palafitas desafiam a lei/ as palafitas ignoram a lei da gravidadeâ€.

AGENDA
De abril ao começo de junho, a Nego Ka’apor participou do “Groove do Sãoâ€, no Sesc/São Gonçalo; fechou o evento de poesia e música “Uma Noite Na Tavernaâ€, na Fundação de Cultura de São Gonçalo; tocou no 7° Encontrão, em Nova Iguaçu; e ainda apresentou um show no Espaço Convés, em Niterói.

No final do mês passado, a banda voltou para São Luís, onde realizou algumas apresentações durante os festejos juninos. O grupo deve permanecer até o final de julho na capital do Maranhão. A partir de agosto, recomeçam os compromissos em terras fluminenses. No dia 20, o Nego Ka’apor se apresenta no Arte Jovem, no Espaço Convés, em Niterói. Logo depois, dia 26, o grupo toca no Campus de São Bento. No início de setembro, mais precisamente no dia 6, está marcado um show no município de Aldeia Velha, localizado no litoral do estado do Rio.

“Esperamos manter o mesmo ritmo da chegada e ampliar os contatos. De repente, começamos a ganhar algum dinheiroâ€, brinca o vocalista.

MANGUE
O Nego Ka’apor um dia se chamou Som do Mangue, porque a banda foi formada por amigos que costumavam se reunir nos finais de semana, num bar na Praia do Araçagy, no litoral de São Luís, num setor mais isolado, chamado de mangue seco. Isso, nos idos do ano 2000. Da praia para o palco foi um salto e logo o grupo deitou e rolou na pequena cena alternativa de São Luís, chamando atenção pela originalidade da música e das letras. O nome Som do Mangue foi descartado em 2003 para evitar comparações com os primos alquimistas de Recife.

Se há semelhanças com a receita musical do famoso movimento musical pernambucano? Sem dúvida, mas tudo acontece no campo conceitual, porque os ingredientes e o tempero sonoro, como já disse, são genuinamente maranhenses.

O disco do Nego Ka’apor foi lançado em 2006 e contou com o patrocínio da Secretaria de Cultura do Maranhão. No final do ano passado, a banda venceu três categorias do Prêmio Rádio Universidade FM, o principal do cenário da música maranhense.

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Spírito Santo
 

Gostei mucho!
Aproveito para mandar um abraço pro Sidel, grande músico-artesão que eu tive o prazer de conhecer numas coisas que quase fizemos juntos com UFF. Valeu Sidel, índio preto cabra da peste.
Abração

Spírito Santo · Rio de Janeiro, RJ 19/7/2007 21:22
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