A arte sobre as mãos do artista

luciana almeida
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lu almeida · Aracaju, SE
1/8/2006 · 61 · 1
 

Mulungu, cabaça, isopor , empanada, contra-mestre, chula, fuleragem, Mateus, Catirina e Tiriridá. Desse povo abestado de mão molenga e pulso firme, eis a invenção da arte dos bonecos.Das oficinas de criação aos palcos de apresentação, os bonecos ganham vida com feições e atitudes que se misturam as características próprias dos criadores.

Do desenho nas pedras, da sombra e gestos definindo imagens – quase tão antiga quanto o homem – uma nova arte surgiu, dos bonecos. Da soma do medieval teatro de marionetes, totens indígenas e máscaras ritualísticas africanas , nasceu o mamulengo. Suas diversas formas de manifestação são registradas em todo país: “João Redondo†no Rio Grande do Norte, “ Babau†na Paraíba, “João Minhoca†na Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, “Briguela†em São Paulo, “Cassimiro-côco†no Piauí e “ Cassimicôco†nas terras do Serigy.

Alma do Mundo
Uma tarde chuvosa. Flocos brancos a voar na oficina repleta de imensas cabeças, silhuetas de espuma e pés pintados. No fundo da casa, uma equipe a passos rápidos. Ao canto da raspagem do isopor, as encomendas tomam formas.

Há 25 anos, Anselmo Seixas foi contaminado por um “vírusâ€. Foi quando ele desistiu do teatro de palco e resolveu trabalhar com animação. Na década de 80, Fernando Lins realizava o projeto a “Escola vai ao teatroâ€. Então resolveu fazer ao contrário , trazer os bonecos para as unidades de ensino. “As primeiras figuras eram feitas de cabaça. Não esqueço do dia. Fizemos a manipulação com luvas e sem tenda. De repente, eu e Marcos Gaspar não existíamos mais em cenaâ€. Anselmo afirma ter aprendido através da observação e pesquisa, como autônomo. “Sou um boneco também uso meu corpo molde. É difícil saber até onde sou parte daquilo que crioâ€, completa.

Aos 44 anos, esse titereiro confessa ter tentado outras profissões. Trabalhou em banco, fez concurso público. Mas hoje, em meio às oficinas, pedidos e montagem de espetáculo, sua vocação realmente o completa. Na elaboração de peças, ele parte do nome do seu grupo, Anima Cosmos, pela busca daquilo que significa “a alma do mundoâ€.

Três cocos, sucupira, mulungu, pajaú
“Venho de uma família de toadores e cantadores populares. Pago promessas para bonecos todos os anos. Tenho uma ligação muito além do trabalhoâ€. Assim o aracajuano, criado na Fazenda Siriri na cidade de Rosário do Catete, filho de Maria Barreto e Isidoro Dória, começa a explicar aquilo que ele crê ser sua missão no mundo, a de brincante popular. Augusto Barreto foi criado numa casas com cinco irmãos, sua mãe de Neópolis e seu pai de Própria, ambos vindos com suas tradições ribeirinhas. Sua infância foi cercada de bonecos, brincadeiras e causos populares. “Eu sempre ouvi Seu Lula, Marines. Ia muito aos circos, às feiras, brincar de cassimicôco, dançar com os folguedos, ver o teatro de marionetes em Aracajuâ€, lembra.

Em 1978, a teatróloga Aglaé Fontes, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe, funda um grupo chamado Mamulengo de Cheiroso. Inicialmente com a participação de seis universitários bolsistas, a proposta era fazer da arte bonequeira um elo entre cultura popular e o teatro. Por trás da empanada, havia os reisados, folguedos, danças, jornadas, guerreiros, batucadas, côco e muito forrobodó. Os personagens eram velhos conhecidos dos autos e dramas populares: Mestre Cheiroso, Catirina, Mateus, Professor Tiridá, Simão, o Papa Figo, Quitéria, dentre outros.

Foi quando Aglaé Fontes, que tinha um irmão casado com uma das tias de Augusto, o convidou para entrar no grupo , do qual hoje é diretor. Vivendo há 28 anos de teatro, ele assume o personagem Mateus e dentro ou fora da tenda faz folia com safona, triângulo e zabumba. “Pra se danar, você tem que ter gogó, saber o dó-ré-mi, cantar parabéns†. O Mamulengo é composto por seis pessoas: três na música e o restante no comando dos bonecos. “Primeiro, você precisa saber louvar, trovar, cantar e , por último , interpretarâ€, resume. “Minha razão de vida são os bonecos, na minha casa em meio às galinhas, bichos e gente , são eles os protagonistas da minha históriaâ€, finaliza.

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Marcelo Rangel
 

Bem vinda, Lu!!! Tem algo estranho no enquadramento dessa foto.. e você não tem uma do Augusto Barreto? Bem, você pode ajustar/modificar enquanto estiver na fila de edição... Valeu mesmo!!!

Marcelo Rangel · Aracaju, SE 29/7/2006 12:24
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