O paraÃso da liberdade virtual, a Internet, é um espaço rico em suas possibilidades. Mas é nesta riqueza onde reside seu paradoxo. É no aparente infinito campo de possibilidades e oportunidades disponibilizados por ela, é neste belo, mas pantanoso território, onde as mesmas possibilidades e oportunidades se diluem, seja na sua temporalidade, seja nas paixões humanas.
Como artista independente, encontrei na Internet uma destas oportunidades para veicular a minha expressão artÃstica. Consegui relativa visibilidade para o meu trabalho musical, e por isto sou grato aos avanços tecnológicos que a rede nos propicia e das oportunidades de contatos para apresentações ao vivo por ela proporcionados. Através destes avanços estabeleci contatos sérios com diversos tipos de pessoas, algumas dentre as quais muito me ajudaram nesta difÃcil jornada de artista independente. Também conheci gente que se apresenta de uma maneira à distância, mas na hora do "olho no olho" se mostra o contrário do que apregoa ou de pretensas aparências. Sigo o meu caminho, a despeito disto, embora já tenha levado rasteiras. Sacudo a poeira e sigo.
Também pude e posso constatar a fugacidade e a capilaridade das informações correntes na rede. A grande "novidade" de num momento, torna-se obsoleta no momento seguinte, pela quantidade de informações e rapidez de movimentação delas na rede; as realizações (ou pseudo-realizações) humanas tornam-se, portanto, ultra efêmeras, na medida em que a rede cresce e se fortalece em sua ubiquidade. Na maioria das vezes, mantém-se relevante, e até mais relevância adquire, o que já era relevante antes da existência da Internet como a conhecemos nos nossos dias.
Não estou aqui para fazer uma crÃtica à Internet - através dela muitas informações até então desconhecidas chegaram até o nosso olhar e análise. Há aspectos muito positivos na disseminação da rede: a mÃdia dominante já não detém o poder exclusivo de elaborar e veicular os discursos de verdade sobre as coisas, sejam elas quais forem; o status quo da Indústria Cultural viu este poder escorrer por entre os dedos nos últimos 15 a 20 anos, graças à Internet; muitos artistas obtiveram reconhecimento e tiveram suas obras apreciadas por um número cada vez maior de pessoas graças à Internet. Enfim, a rede é um animal selvagem. Não há como amansá-lo, muito menos domesticá-lo. Mas há como entendê-lo, torná-lo amigável. E é com este intuito, de entendê-lo, torná-lo amigável, que escrevo estas linhas.
Há, no entanto, um outro animal. Este mais perigoso, o qual vive dentro e fora da Internet. Ele se tornou parte integrante dela, e de dentro dela, ainda a domina. Este animal é a própria grande mÃdia, aquilo que chamei logo acima de status quo da Indústria Cultural. Quem ou o quê pode alcançar mais visibilidade e relevância num ambiente como este, o "novo" ou o "conhecido"? A resposta parece óbvia. Um exemplo: quando Chico Buarque (a quem e cuja obra, a propósito, muito admiro) declarou pelas redes sociais e pela grande mÃdia na Internet que seu novo CD seria lançado tal e tal dia, houve uma correria para comprar a obra. Podemos dar inúmeros exemplos de artistas independentes, eu incluÃdo, que batalham muito para divulgar seus trabalhos todos os dias e que não venderam em suas vidas profissionais o que um Chico Buarque vendeu em um mês! Neste sentido, não levanto uma discussão a respeito da qualidade ou mediocridade do trabalho deste ou daquele artista. Constato apenas um fato, qual seja, na mesma medida na qual a rede tornou possÃvel espaços de divulgação e promoção de artistas independentes, também fortaleceu à queles que já faziam parte do status quo cultural antes do advento da Internet!
Ainda há muito por se fazer e pensar para podermos entender a real natureza desta sociedade de redes (ou melhor seria, sociedades de redes?). Iniciativas de sucesso como a Fora do Eixo, e iniciativas irmãs espalhadas pelo mundo, podem abrir a picada para caminhos os quais, acredito, buscamos - o de um mundo mais caridoso, solidário e fraternal, que dê real visibilidade à s realizações culturais coletivas e individuais humanas; que possa ajudar a construir os alicerces de uma sociedade mais justa e menos preconceituosa com alguns de seus membros e grupos; que passe a polÃtica dos homens a limpo, sem tirar dela o seu verdadeiro caráter disseminante de potência; uma sociedade com novos valores, mas que preserve antigos valores, realmente edificantes; um mundo com uma nova economia baseada na troca de coisas sensÃveis por meio de experiência, e não na troca de pedaços de papel ou de moeda plástica pelo que se deseja ou se necessita. Um sonho ainda, por não ser a regra - afinal, nos tempos atuais, precisamos do velho dinheiro para comprar comida, sustentar nossas famÃlias e pagar as contas - mas que pode sim, virar realidade! Trabalhemos então pelos nossos sonhos!
Alguns dizem que 1968 está chegando ao fim nestes dias nos quais vivemos… Talvez sim, mas ainda precisamos arrefecer algumas paixões humanas (as criadoras conflitos entre pessoas e nações, arrogâncias, sarcasmos, vaidades e, com certeza, veleidades), transmutá-las em verdades construtivas nas ações e não apenas nos discursos, ou corremos o risco de nos tornarmos iguais à quela pessoa, assÃdua em sua Igreja e reza de todo fim de semana, mas que quando chega em casa ou no trabalho tem um prazer quase orgásmico ao falar mal das vidas e realizações alheias. O caminho é cheio de pedras e perigos, e sempre corremos o risco de esbarrarmos na nossa própria vaidade e frieza de espÃrito. Uma mudança interna é mister para que possamos mudar o mundo ao nosso redor. O meio não é a Internet - o meio somos nós. O fim? Este é o próprio meio, a experiência de sua vivência!
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