Bonassi 2: o universo infantil na ditadura militar

Roberto Setton
É isso ae. E só.
1
Fabrício Muriana · São Paulo, SP
22/6/2007 · 85 · 1
 

A segunda peça do jornalista, roteirista, dramaturgo, cineasta, escritor e diretor teatral Fernando Bonassi resenhada essa semana também é um monólogo. Ele realmente está engajado na sua procura da aposentadoria precoce. Dessa vez quem dirige é ele próprio, no alto do 13º andar da unidade "provisória" do Sesc Avenida Paulista. Tomo a liberdade do parêntese aqui: em texto publicado no Caderno 2, Marcelo Rubens Paiva critica as demolições que o Sesc faz para construir novas unidades. Imagino que a administração da unidade "provisória" da Avenida Paulista não seja algo fácil e que por isso a adaptação do prédio seja necessária. Mas o que será que farão ali? Por favor, não façam outros teatros italianos como o do Sesc Santana.

E, bem, é foda mais uma vez falar desse cara. Agora eu tô falando do Bonassi novamente. Ele teve a cara de pau de fazer um espetáculo inteiro com um único ator imóvel, imitando uma fotografia. De longe foi a peça mais chata de toda a minha curta vida. E o pior é que isso não é um grande problema.

Os fluxos de pensamento de O Incrível menino da fotografia não dão conta da atenção do espectador. Há, sem dúvida, um crítica exacerbada à inatividade de toda uma geração que cresceu do meio para o final da ditadura (aquela dos militares, não a do consumo) e que até hoje parece presa na fotografia de um tempo burro da nossa história.

Com esse problema estrutural posto na dramaturgia, todos os outros elementos parecem querer gritar pra você "olha pra mim, olha pra mim". A iluminação quer fazer daquela imagem algo que vai do mais angelical até o mais diabólico: naufraga, entretanto, por conta da quantidade de sombras que gera e por atrair demasiadamente a atenção. A trilha é bastante criativa ao juntar recortes que vão de sons da paisagem, até temas da década de setenta: estaria perfeita não fosse um arroubo de humor que bateu em Marcelo Pellegrini (que assina a dita cuja) ao colocar no início do espetáculo uma narração quase integral da tradução da música "I started a joke" por um locutor de rádio, numa chave extremamente cômica, mas que nada tem a ver com a peça. A direção de arte reconstrói a fotografia, com o ator suspenso no ar. Basicamente chega ao limite do literal.

O fato de a peça ser chata não se apresenta, então, como um grande problema, na medida em que o Bonassi (jornalista, roteirista, dramaturgo, cineasta, escritor e diretor teatral) sabe que quer passar essa sensação de tédio e inatividade do seu personagem, como forma de representar uma geração. O problema está nos outros elementos da montagem que não estão afim de corroborar com o espetáculo chato.

Como diz o ator César Figueiredo, ao final de Eu não sou cachorro, do mesmo Bonassi (jornalista, roteirista, dramaturgo, cineasta, escritor e diretor teatral) em cartaz no studio 184: "Divulguem este espetáculo, pois a mensagem dele tem que ser ouvida por muita gente", definitvamente o conteúdo de O incrível menino na fotografia é pra ser ouvido por muita gente e ensinado nas escolas primárias (ops, desculpem o autoritarismo momentâneo). Pena que a forma seja tão monótona e não tenha sido totalmente radicalizada.

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Fabrício Muriana
 

Publicado originalmente na Revista Bacante.

Fabrício Muriana · São Paulo, SP 20/6/2007 18:10
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