“Preservar a natureza é preservar o próprio homemâ€, o verso de Santuário esmeralda (2003), uma das toadas mais prestigiadas na história do Festival de Parintins, consolida na manifestação do folclore o reflexo da realidade sócio-ambiental que une manejo e preservação, visando a possibilidade do desenvolvimento. Em 2006, a Festa da Soltura dos Quelônios, realizada na Comunidade do Aninga, localizada a 10 quilômetros de Parintins, celebrou o sétimo ano de uma iniciativa nascida entre os próprios habitantes frente ao problema de escassez que ameaçava, principalmente, a espécie dos tracajás (foto).
O alarme inicial foi dado pela própria natureza. “A idéia surgiu porque tava se acabando mesmoâ€, conta o lÃder da comunidade, Sidnei Carvalho, 28, explicando que o hábito da captura indiscriminada dos quelônios era o culpado pela dificuldade que passou a ser encontrar os animais. “Foi o momento que a gente se espertou pra fazerâ€, afirma, lembrando ainda que a carne de tartaruga sempre foi muito apreciada na culinária popular dos amazonenses.
A Comunidade do Aninga possui ao todo cerca de 60 famÃlias, segundo Sidnei, a maioria vive da pesca com outra pequena parte empregada no municÃpio, trabalhando como professores e funcionários na Escola Santa Terezinha do Aninga. Logo, sendo a pesca a principal fonte de renda e subsistência dos moradores, o primeiro passo foi conversar sobre o problema para encontrar as soluções. “A gente decidiu ir até os lugares onde elas desovam, chega setembro até novembro elas estão na época delasâ€, explica, ressaltando ser este o perÃodo de vazante nos rios amazônicos com a formação abundante de praias.
Merece destaque na iniciativa da comunidade do Aninga o envolvimento dos alunos da escola. “É um trabalho voluntário, a gente não tem recursos oficiais então se trabalha com o que tem, daà as escolas são envolvidasâ€, afirma. Sidnei comenta outra vantagem no envolvimento dos alunos, já que um dos maiores problemas no inÃcio foi convencer alguns ribeirinhos a soltarem quelônios capturados nas redes junto com o pescado. “As crianças estão tendo uma conscientização que os adultos não tiveram, isso vai garantir que a gente tenha mais tracajá no futuroâ€.
Coleta pela vida
Não é apenas esperar os meses da vazante, os comunitários precisam viajar três horas rio acima de rabeta – tipo de canoa com motor – até os locais de desova. “As tartarugas desovam à noite, então fazemos a coleta pela manhã e transferimos para a comunidadeâ€, explica Sidnei, que lembra com bom humor da primeira vez que abrigaram os ovos. “Foi tudo na curiosidade, fizemos uns potes de barro simulando o mesmo formato que teria a cova, funcionouâ€, comemora.
Aguardando entre 60 a 80 dias para a eclosão dos ovos, as tartarugas recém-nascidas são colocadas em um tanque que funciona como um berçário improvisado até o momento que, segundo os comunitários, elas podem ser levadas ao rio. “Nesses sete anos já asseguramos a soltura entre 10 a 15 mil filhotesâ€, comemora Sidnei.
Festa de comunidades organizadas
A Festa da Soltura dos Quelônios da Comunidade do Aninga já é um evento conhecido do parintinense e sua sétima edição foi amplamente divulgada pela mÃdia local. Lanche para as crianças, música ao vivo e um grande almoço com galinha caipira no prato principal (claro que não seria tartaruga).
A perspectiva do cuidado com as espécies é a melhor possÃvel com outras duas comunidades atuando na proteção de quelônios com iniciativas da mesma natureza. O ano de 2006, marcou o primeiro ano em que outras duas comunidades se juntaram ao Aninga para festejar sua soltura na mesma época. Macurani e Parananema realizaram suas festas dias antes em uma seqüência de comemorações pela vida. E como uma das atrações do evento, lá estava ele, o folclore da Ilha que exalta preservação por meio do boi-mirim Mimosinho, da comunidade do Aninga, a mesma que foi a morada do antigo bumbá Fita Verde e que testemunhou o Caprichoso nascer há quase um século. Parintins é uma terra de muitas lições, e em uma delas, no que depender do caboclo parintinense, a natureza e o folclore nunca desaparecerão.
Santuário esmeralda
(Demetrios Haidos / Geandro Pantoja)
Amazônia,
Santuário esmeralda,
Pôr-do-sol beija tuas águas,
Pátria verde florescida,
Pelas lágrimas caÃdas,
A grinalda do luar vem te abençoar.
Berço de rios, florestas, lagos, cachoeiras,
O encontro das águas nas cores da natureza,
Anavilhanas, Jaú, Janauari, Macuricanã, Mamirauá.
Teus santuários ecológicos (reservas, mananciais),
Murmuram uma triste oração:
A nossa fauna corre o risco de extinção,
Onça pintada, cutia, preguiça, tamanduá bandeira,
Ariranha, peixe-boi, tartaruga, sauim-de-coleira.
A revoada dos pássaros,
A dança da liberdade,
Não tire as penas da vida proteja a biodiversidade,
Do meio da Amazônia,
Bicho folharal cantará,
“Preservar a natureza é preservar o próprio homemâ€
Mãe, mãe natureza!
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