Crítica: FILME - A Vida Secreta das Abelhas

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Bronha · São Carlos, SP
10/10/2010 · 2 · 0
 

Você alguma vez já parou para pensar qual é o maior sentido da vida? Por que temos que conviver com tantas pessoas, enfrentar tantos obstáculos, perder, vencer, rir, chorar, sofrer, ser feliz? A cada dia temos uma nova forma de ver o mundo, somos beneficiados pelo livre arbítrio, pelas oportunidades e a cada momento podemos tirar proveito e uma lição de tudo o que passamos. Descrentes podem dizer que não há muito sentido na vida como um todo, associando-a dentre seus meios básicos de sobrevivência: comer, trabalhar, morrer. Muitos deles não aceitam este meio de vivência, dizendo que não há nexo ou alegria num mundo em que só sofremos e depois morremos, apagamos, sem qualquer continuação.

Eis que, para explicar muitas coisas não cabíveis na mente humana, as religiões tomam grande espaço, dando esperança a milhares de indivíduos: muitos afirmam que esses acontecimentos possam ser um carma do passado e que deve ser pago nesta vida, como forma de cessar tais dívidas; outros dizem ser a provação divina e que, dadas as chances e não aproveitadas, farão com que a alma do Ser seja apodrecida nas chamas do Inferno. Tudo é muito complexo para um ser tão inferior às leis do Universo explicar, mas o que todos podem concordar é que de fato há um sentido para vivermos desta maneira. E, resumidamente, podemos dizer que a vida simplesmente é baseada no “compartilhamentoâ€.

Todos os dias encontramos pessoas, milhares delas e ao longo dos anos analisamos o quão diferentes são. Cada ser é único e, apesar de possuirmos os corpos idênticos, nunca poderíamos ser totalmente iguais. É a ironia em ser alguém com as mesmas necessidades físicas e psicológicas, mas conhecimentos e experiências absurdamente distintas. Através da convivência, da harmonia, das discussões, vamos experimentando novas formas de percepção, de auto-análise, de crítica e vamos crescendo mental e espiritualmente. Nosso senso-crítico muda e vai nos moldando, nos deixando prontos e fortes para enfrentarmos obstáculos ainda maiores. Aos poucos não precisamos mais de protetores e podemos caminhar sozinhos, já com a mente formada. A partir deste momento, todo contato com qualquer pessoa fará mudanças em nosso cotidiano. E, se tivermos uma mente um pouco mais aberta e uma percepção de vivência um pouco ampla, tiraremos proveito e lições de tudo que está ao nosso redor.

O grande problema do Ser Humano é este: o egocentrismo. Como estamos presos num mundo de regras e conceitos pré-moldados, somos influenciados a todo momento e quando saímos dessa enxurrada de leis e informações, somos massacrados pelas próprias pessoas (pessoas estas que, se perguntadas, com certeza reclamarão desse modo de vida). A tendência em se ter dias acelerados, muito sobrecarregados, faz com que saiamos de nossa origem e nos deixe presos em conceitos e julgamentos sem acréscimo nenhum ao espírito. Se pararmos para pensar, tudo que presenciamos atualmente seria um milagre milhares de anos atrás (a exemplo da própria tecnologia avançada em que estamos). O problema está em tirarmos a película dos olhos e enxergarmos realmente tudo o que realmente vemos. Temos que deixar de olhar para o próprio umbigo e analisar as maravilhas que estamos rodeados.

O próprio nascimento já é um milagre e desde este instante o Homem não tem o poder de entender como tudo isso é possível. É muito comum para nós, que vemos isto sempre, mas você já parou para pensar como é possível que a união de um espermatozóide com um óvulo gere orgãos, músculos, ossos e veias que fará com que um indivíduo emita sons, diferencie cores, construa, ria, respire e pense, criando as mais belas imagens e incrementando a vida? A partir disto, tudo seria um milagre. Não é à toa que o benefício é intitulado como o “milagre da vidaâ€. Precisamos tirar esta película que nos faz enxergar mal e sermos sinceros, bons e curiosos a fim de compartilharmos todos os momentos com as diferenças entre povos, permitindo que cresçamos e, segundo religiões ou não, deixemos nossa ficha limpa, sempre fazendo o bem. Há milhares de anos tudo era diferente, mas o avanço dado pelo Ser Humano foi grande até aqui.

E é exatamente dessas diferenças sociais que trata o belo filme “A Vida Secreta das Abelhas†(The Secret Life of Bees). As abelhas, como muitos sabem, são seres extremamente organizados, assim como as formigas e sabem lidar com respeito, trabalho e convívio. Seres misteriosos, ninguém explica o fato de suas asas, tão pequenas, sustentarem um corpo muito maior e com muita rapidez. E a maneira como tranformam pólen em mel já nos mostra sua capacidade de manuseio e de encarar alguns milagres.

O ano do filme é 1964, ano em que a luta pelos direitos civís dos negros está em seu ápice. Lily (Dakota Fanning, sempre excelente e agora mais adulta) sofre por acusar-se pela morte da mãe e mora com o estúpido pai e com a empregada negra Rosaleen (Jennifer Hudson, surpreendente). Após grande confusão envolvida em racismo, as duas fogem em busca de respostas da falecida mãe e vão parar numa pequena cidade do interior do Estado. Impressionada pela figura negra de Nossa Senhora estampada em potes de Mel, elas inventam uma grande desculpa e pedem abrigo na casa da dona do Mel, August (Queen Latifah, sempre risonha e com aparência protetora e materna). A casa impressiona por ter irmãs tão amáveis e diferentes, todas com um respectivo nome de acordo com os meses do ano: August é a mais velha, May é uma das gêmeas que presenciou a morte da irmã e tem problemas para lidar com o peso do mundo e June (Alicia Keys, reformulada) é a mais severa dentre elas, que não assume o noivado e vive enclausulada e com rancor da sociedade.

A partir disto, Lily tem a chance de conhecer uma nova forma de vida, de costumes e de grande aprendizado: o respeitoso trabalho com as abelhas produtoras do seu sustento na casa, o amor incondicional pela raça negra das moradoras, a maneira como lidam entre os moradores, a alegria em compartilhar momentos juntos e o modo de manterem suas vidas sempre abertas para fazer o bem. A prova de que pessoas podem mudar a rotina é dada pelo romance entre Lily e o negro Zach, fator impossível e “sujo†de se ver na época, causando danos para ambos e para a família do casal.

O filme tem o poder de nos mostrar os absurdos pelos quais já passamos anos atrás, o quanto estamos progredindo e o quanto ainda devemos doar para que todos entendam que nada é por acaso, que nada é tão horrível e que não há nada que não possa ser contornado. O racismo ainda permanece e não estamos falando apenas de racismo de cor (ambos os lados, tanto dos brancos, quanto dos negros), mas sim entre sexos, idade, religiões, classes sociais e físico. As pessoas ainda não aceitam suas diferenças e a tendência humana é muito mais impôr algumas vontades do que entender as razões e/ou limitações alheias. Temos de mudar nossa maneira de pensar. Ao invés de sentirmos raiva por alguém, pelo fato de não terem feito algo que queríamos ou por ter opinião diferente, temos na verdade que analisar seu ponto de vista, o que quis dizer com tal afirmação e tentar entender o que realmente nos quis transmitir.

É óbvio que há situações diversas, mas tudo é questão de tempo e perseverância: se você se regrar, manter-se positivo e receber tudo o que lhe acontecer como forma de crescimento humano, nada será subestimado. O sentimento mais traiçoeiro que faz o Ser Humano mudar sua personalidade é o medo. É por ele que muitos mentem, mudam ou são cobiçados pelo ódio. Mas, mantendo-se para cima e encarando a vida como um grande aprendizado, a fim de superar-se todos os obstáculos, o medo será tomado pelo sentimento da compaixão, fazendo-nos lembrar que todos erramos, somos iguais e nada do que for feito será em vão. Afinal, o grande Homem, que se diz tão poderoso e superior, ainda não descobriu o segredo das abelhas, seres estes tão pequenos e silenciosos que fazem modificações e são essenciais ao Planeta, sem ao menos causar qualquer dano à Natureza. É a ironia da vida, nos ensinando mais uma vez o real valor das pequenas e grandes coisas; coisas que cegam o Ser Humano, ao bater de suas asas gananciosas e cruéis.

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