Depois da bomba que foi a comédia Querido Mundo, Rubens Ewald Filho encontrou uma nova forma de entrar no mundo do teatro. Desta vez apostou no teatro dito alternativo, e aliou-se a um dos grupos em maior evidência na atual cena paulistana: Os Satyros. E provou que também consegue ser um alternativo: na semana da estréia, foi visto sentado no chão da calçada do espaço dos Satyros, na praça Roosevelt, provando para o mundo que quem usa gravatinha borboleta para comentar a entrega do Oscar também tem seu direito de ser cool.
O resultado desta aproximação é o espetáculo Hamlet-Gasshô, adaptação do ator Germano Pereira para o clássico de William Shakespeare, incorporando elementos do universo zen-budista. Pra não fazer besteira, a montagem (protagonizada por Germano) contou com a assessoria da Monja Coen.
No fim das contas, o tal "universo zen" fica muito mais explÃcito na estética do espetáculo, fortemente inspirada no cinema oriental, do que na dramaturgia. O texto do bardo inglês sofre pouquÃssimas adaptações, e ganha uma nova "moldura": um prólogo e um epÃlogo que dão o tal novo contexto budista à tragédia (insuficientes para caracterizar uma releitura do texto original).
Mas Ewald não trouxe apenas seu ar cool e referências cinematográficas em sua direção: vieram também 150 camisas brancas compradas em Nova Iorque para o rico figurino, e fôlego para uma produção que raramente se vê nos palcos da Roosevelt (e que dificilmente se paga com as bilheterias das pequenas salas da região). E aà está o maior equÃvoco do espetáculo.
Há tantos elementos visuais deslumbrantes que boa parte deles acaba se tornando denecessária e prejudica a montagem. A impressão é de haver uma preocupação tão grande em dar uma estética marcante, que não sobra espaço para engrandecer os pontos altos do texto.
O resultado é que em vez de todas as cenas se tornarem inesquecÃveis, o efeito acaba sendo exatamente o contrário: nessa bela empreitada de fazer um Shakespeare "zen-budista", faltou um elemento que remete demais ao budismo: a moderação.
Há algo de Broadway no reino da Dinamarca.
Pô, c tá pegando pesado com o Rubão!
Eu apóio.
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